De Estadão Conteúdo, publicado em Brasilpost –
Indignados, os amigos, depois de soltos pelos PMs, deram queixa na 6ª Delegacia de Polícia (DP), na Cidade Nova (região central), que abriu inquérito. Nos depoimentos, eles disseram que voltavam de uma festa de Natal na favela Santo Amaro (Catete, zona sul), na madrugada de sexta-feira (25), quando, na Rua Prefeito João Felipe, foram parados pela patrulha, integrada por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) dos morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro.
Aos policiais da delegacia, dois irmãos, de 23 e 20 anos, mostraram cortes e queimaduras nas pernas e braços, que seriam decorrentes das torturas a que disseram ter sido submetidos com um facão esquentado na labareda de um isqueiro. Os irmãos contaram também terem sido agredidos com murros nos rostos.
Um amigo de 17 anos relatou no depoimento que teve o cabelo chamuscado pelo isqueiro e os testículos queimados pela faca. Ele disse ainda ter sido obrigado a praticar sexo oral com outro colega. A quarta vítima tem 13 anos. O caso foi revelado na edição deste sábado (26) do jornal O Dia.
Na delegacia, as vítimas contaram ainda que tiveram todo o dinheiro que portavam levados pela guarnição da Polícia Militar (PM). O rapaz de 20 anos afirmou ter sido roubado em R$ 470, além do cordão e até a sandália e o boné. Um colega relatou que os PMs levaram os R$ 400 que ele tinha no bolso e também o boné.
O rapazes contaram que um PM chegou a disparar com a pistola quando uma motocicleta passou em velocidade pelo trecho da rua onde a blitz estava montada. Uma mulher foi atingida, sem gravidade. Ela também prestou depoimento após receber alta do hospital.
Todas as vítimas foram encaminhadas ao Instituto Médico Legal (IML) para a realização de exames de corpo de delito. A Polícia Civil apreendeu as armas dos oito policiais, que serão periciadas pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Polícia Civil.
Os investigadores buscam na região do Rio Comprido imagens de câmeras de seguranças das edificações vizinhas ao ponto onde teriam ocorrido as torturas. De acordo com a PM, o comando da UPP onde trabalham os policiais acusados determinou a eles que se apresentassem à delegacia. Após os depoimentos, foram presos administrativamente. Os nomes dos policiais não foram divulgados.
Parentes das vítimas que estiveram na delegacia disseram temer pela vida dos rapazes, já que os PMs, antes de soltá-los, ameaçaram matá-los caso os denunciassem ou à Polícia Civil ou à Corregedoria da PM.