Compartilhado de Brasil 247 –
Carolina Bataier, especial para a Ponte – Uma manifestação organizada por mulheres foi reprimida com dois tiros em frente à delegacia da Polícia Civil de Paraty (RJ), na região central da cidade, na tarde desta segunda-feira (10/5). O autor dos disparos é um policial civil.
Cerca de cinquenta mulheres faziam uma manifestação pacífica diante da entrada do prédio quando o escrivão saiu armado de fuzil e efetuou dois disparos direcionados ao chão. Nenhuma pessoa se feriu e as manifestantes, apesar de assustadas, continuaram no local.
A manifestação começou às 14 horas, reunindo certa de 100 mulheres em frente à Câmara dos Vereadores da cidade, com o objetivo de pressionar o poder público pela criação do Observatório de Feminicídio de Paraty. O projeto, em votação naquela tarde, foi aprovado. À essa reivindicação central, uniram-se outras pautas, como o melhor atendimento para os casos de violência contra a mulher e a punição de um homem acusado de agressão e tentativa de estupro conta duas mulheres. O caso aconteceu no último dia 3 de maio na praia de Antigos, na região da comunidade do Sono, a cerca de 35 km de Paraty.
“O principal motivo é a punição do cara que tentou estuprar as meninas. Mas aqui não tem acolhimento, não tem delegacia da mulher. Para fazer corpo de delito tem que ir para o Perequê (bairro que fica a cerca de 40 km de Paraty) ou para Angra (dos Reis). A gente não pode andar na rua porque eles (os agressores) estão na rua? Não pode acampar no Sono porque eles ainda estão lá?”, questiona Inah Ribeiro, cozinheira, que participou da manifestação.
Depois da pressão diante da Câmara dos Vereadores, o grupo de manifestantes seguiu em caminhada até a porta da delegacia entoando palavras de ordem. Quando algumas mulheres começaram a colar cartazes na porta de entrada, o policial saiu diante do prédio e efetuou os disparos.
“Eu já passei por uma experiência, sofri violência doméstica e a investigadora questionou por que eu estava num relacionamento abusivo”, relata uma mulher que pediu para não ser identificada, apontando o descaso no atendimento. No início de 2020, ela diz ter sido fisicamente agredida por um companheiro. A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência. De acordo com a vítima, o agressor nunca chegou a ser ouvido pela polícia e ela nunca teve qualquer resposta sobre o caso.
Em conversa informal, policiais civis disseram que os disparos foram feitos em defesa do patrimônio público. Os policiais apontaram também o esgotamento emocional decorrente do número reduzido de servidores prestando serviço à população. Por telefone, a assessoria de comunicação da polícia civil do Rio de Janeiro informou estar levantando as informações para emitir uma nota a respeito do caso.