Políticos e epidemiologistas criticam Copa América no Brasil

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Compartilhado de DW – 

“Inacreditável” e “desrespeito”: senador Randolfe Rodrigues pede que CPI da Pandemia convoque o presidente da CBF, e deputado Júlio Delgado afirma que irá ao STF para proibir realização do torneio no país.

Em nota, Conmebol agradeceu a Bolsonaro por autorizar a realização do torneio no Brasil




O anúncio de que o Brasil sediará a Copa América de futebol neste ano foi criticado por políticos de diversos partidos e epidemiologistas, que consideram um erro o país receber o evento em meio a diversos sinais de que enfrentará uma nova alta no número de casos e mortes pela covid-19.

A atual edição da Copa América, que ocorre de 13 de junho a 10 de julho, seria realizada inicialmente na Colômbia e na Argentina. Em 20 de maio, a Colômbia anunciou que não sediaria o evento devido a uma onda de protestos generalizados contra o governo e a situação sanitária do país.

Neste final de semana, o ministro do Interior da Argentina, Wado de Pedro, sinalizou que seria muito difícil também realizar o torneio em território argentino, após uma pesquisa de opinião apontar que 70% da população não queria a realização da Copa América no país.

A Conmebol, então, retirou o campeonato da Argentina, e nesta segunda-feira (31/05) anunciou que o Brasil seria o país-sede. “A Conmebol agradece ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, bem como a Confederação Brasileira de Futebol [CBF], por abrir as portas daquele país ao que é hoje o evento esportivo mais seguro do mundo”, disse a entidade no Twitter.

Após o anúncio, porém, o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, afirmou que a realização do torneio no Brasil ainda não estava confirmada, e que o governo havia estabelecido algumas condições: todos os integrantes das delegações devem estar vacinados, não haverá público nos jogos e serão aceitas apenas dez equipes.

“Ainda não tem nada certo, quero pontuar de forma bem clara. Estamos no meio do processo. Mas não vamos nos furtar a uma demanda, caso seja possível atender”, declarou Ramos a jornalistas no Palácio do Planalto.

A Copa América é a principal competição entre as seleções nacionais de países da América do Sul. Neste ano, o evento será transmitido no Brasil pelo SBT. Em julho de 2019, quando o Brasil foi campeão do torneio, também realizado no país, Bolsonaro foi ao gramado do Maracanã acompanhar a entrega da taça, e depois tirou fotos segurando o troféu ao lado dos atletas.

Convocação do presidente da CBF

Um dos políticos que reagiram ao anúncio foi o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Pandemia. Ele protocolou um requerimento pedindo que a comissão convoque o presidente da CBF, Rogério Langanke Caboclo, para questioná-lo sobre as medidas planejadas para garantir a segurança sanitária do evento.

“Não temos a menor condição de sediar uma Copa neste momento de pandemia no país! Sou amante do futebol, mas sou defensor da VIDA! Se o Presidente tivesse tido essa agilidade para responder à Pfizer como foi com a Conmebol, certamente poderíamos estar recebendo esse evento”, afirmou Randolfe no Twitter.

O relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), também manifestou oposição à realização do evento no Brasil, e acusou o governo federal, a Conmebol e a CBF de formarem um  “sindicato de negacionistas”.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), que comandou a pasta no governo Bolsonaro até abril de 2020, afirmou que o anúncio de sediar a Copa América neste momento é “inacreditável” e representa um “total cinismo” em relação à situação da pandemia no Brasil.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirmou que irá pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que proíba a realização da Copa América no país.

Rapidez da decisão

Diversas críticas à realização da Copa América no Brasil destacaram a rapidez com a qual o governo federal teria tomado a decisão de aceitar sediar o campeonato no país, comparando-a com a demora para responder a e-mails da farmacêutica Pfizer que ofereciam a venda de doses de sua vacina contra a covid-19. O presidente da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, afirmou à CPI da Pandemia que a primeira oferta foi feita em agosto de 2020, mas o contrato foi assinado somente em março deste ano.

Ciro Gomes, candidato a presidente em 2018 e pré-candidato do PDT para disputar novamente o pleito em 2022, foi um dos que exploraram a diferença de agilidade para criticar a decisão do governo.

Em outro post, Ciro afirmou que a CPI da Pandemia deveria convocar o presidente da CBI e autoridades esportivas. “A questão não é gostar ou não gostar de futebol. Eu adoro! A questão é não brincar com a vida dos brasileiros. E não fazer demagogia a troco da morte de inocentes”, escreveu.

O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) e um dos líderes de manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016, afirmou que o torneio deveria se chamar “Cepa América 2021”, em referência às variantes do coronavírus mais transmissíveis que vêm sendo detectadas em alguns países, como Brasil e Índia.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que a decisão é “inacreditável”, tendo em vista a projetada alta de novos casos e mortes no país enquanto os sistemas de saúde de diversas cidades estão saturados.

Epidemiologistas apontam risco

A realização da Copa América no Brasil em meio à pandemia também foi considerada uma má ideia por epidemiologistas. Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), disse que a decisão é um “deboche e um desrespeito” aos familiares das mais de 460 mil pessoas que morreram em decorrência da covid no país.

A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, afirmou que o Brasil está dando ao resto do mundo um “péssimo exemplo: tudo bem morrer em nome do lucro”.

Algumas críticas relembraram que os protestos contra Dilma em 2013 começaram como uma reação à Copa do Mundo de 2014 no país, nos quais os manifestantes pediam mais investimentos em escolas e hospitais e menos em estádios.

O cientista político Claudio Ferraz, professor da PUC-Rio, comentou: “Da última vez que o Brasil sediou um evento de futebol, isso contribuiu para espalhar os grandes protestos de 2013 que foram o começo do fim de Dilma Rousseff em 2016”.

Segundo especialistas e o próprio Ministério da Saúde, o Brasil está à beira de uma terceira onda de infecções pelo coronavírus. As UTIs de vários estados estão cheias, e a previsão de epidemiologistas é de piora no desastre sanitário brasileiro justo no período em que se disputará a Copa América.

bl/ek (ots)

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