Em diálogo com o rock gaúcho, o amigo punk detona o vacilo de Eduardo Leite na pauta ambiental e o bolsonarismo nada moderado do prefeito de Porto Alegre
Por Xico Sá, compartilhado de ICL
Amigo punk, escute este meu desabafo, peleio ao ritmo da Graforréia Xilarmônica, banda histórica do rock gaúcho. Sinto muito, a chinoca está em lágrimas, a coxilha em dilúvio, o bolicho na desgraça.
Amigo punk, você está certíssimo na atitude, tem que politizar geral o ambiente. Se não pode politizar o fim do mundo, como saberemos quem está a favor ou contra o apocalipse?
Dá para ser solidário, como nas ações diretas e práticas dos sem-terra e dos sem-teto, e discutir política da crise climática ao mesmo tempo.
Mesmo atravessando a nado a Osvaldo Aranha, o amigo punk puxa a treta: como esquecer, na hora trágica, que o governo Eduardo Leite (PSDB) limou ou alterou 480 pontos do Código Ambiental do Rio Grande?
Agora, o camarada roqueiro entra de bote no Parque Farroupilha e bota o dedo na ferida: a gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB) não investiu um real, uma pataca sequer, na prevenção a enchentes em Porto Alegre, no ano de 2023.
Típico representante do bolsonarismo moderado? Moderadíssimo na proteção aos habitantes das margens do Guaíba.
Já escuto o gaiteiro puxando o fole, desta vez em uma distópica milonga, donde seguimos para a Lomba do Pinheiro, Vila Sapo é o endereço. De lá veio o cara d´“Os Supridores”, obra-prima da vida porto-alegrense. Repare o que diz o autor José Falero, do seu lugar de fala submerso:
“Alguém diga ao Eduardo Leite que não é necessário ‘politizar’ a tragédia no Rio Grande do Sul: ela é política por si mesma. Resulta de negacionismo climático em razão de lucro e se agrava no péssimo estabelecimento de prioridades para o investimento público — duas notórias propriedades de políticos de direita como ele. Mas quem tem culpa no cartório é sempre o primeiro a dizer que ‘não é hora de apontar culpados’. O curioso é que ele pediu socorro ao Lula, e não à mão invisível do mercado”.
“MAS EM QUE MUNDO TU VIVE?” é o título de outro livro deste baita escritor gaúcho. O título cai qual uma carapuça para toda a extrema direita negacionista (da pandemia ou do clima), como o perdido general e senador Hamilton Mourão (Republicanos) e o deputado Lucas Redecker (PSDB-RS), relator do projeto (PL 364/2019), aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que libera geral o desmatamento de 48 milhões de hectares de “campos nativos”.
Amigo punk, sei que agora queres sestear os seus pelegos, mas ainda te indago, nessa cavalgada: como não politizar o apocalipse?
Outro que rogou para despolitizar o tema, repare só, foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em visita a Canoas na comitiva do governo Lula. Logo ele, que tocou fogo na mata ao aprovar, em regime de urgência, o marco temporal (PL 490) louvado pela bancada ruralista.
Como se não bastasse o ataque aos indígenas, a turma de Lira ainda levou ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar as deputadas Célia Xakriabá (PSOL-MG), Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP). Sobrou para as bravíssimas mulheres, que correram o risco até de cassação dos mandatos.
Como não detonar o hardcore? Como manter a calma da gauderiada no bolicho?
Como não politizar o fim do mundo? Ou vocês preferem botar na conta das pragas do Velho Testamento?
Só ouvindo uma romântica do Nei Lisboa, pra relaxar durante o apocalipse. Quem sabe outra do punk-brega Wander Wlldner, o “Mantra das Possibilidades”. Escute você também, recomendo. E fica um abraço forte a todas as vítimas da enchente no sul do país. O rock gaúcho na causa!