Por Túlio Ribeiro*, compartilhado da Tribuna da Bahia –
São latentes os efeitos do extremismo político sejam em nações em formação ou grandes potências regadas com fanatismo religioso nas suas formações históricas. Um massacre no nordeste de Burkina Faso, no qual mais de 160 pessoas foram mortas neste mês, foi executado principalmente por crianças entre 12 e 14 anos, concluíram o governo do país e a ONU.
Os menores invadiram o vilarejo de Solhan na noite de 4 de junho, disparando contra moradores e incendiaram suas casas. Foi a pior agressão em anos em uma área infestada por jihadistas ligados ao Estado Islâmico e à Al Qaeda.
A sociedade precisa perceber que não é mais um entre tantos ataques nos últimos anos. É um ataque final quando se envolve crianças ao quitar a esperança.
Em declaração oficial do governo, o porta-voz, Ousseni Tamboura, abordou que em sua maioria os agressores eram crianças, o que motivou o repúdio da ONU.
“Condenamos veementemente o recrutamento de crianças e adolescentes por grupos armados não estatais. Trata-se de uma violação grave de seus direitos fundamentais”, afirmou o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
A nação da Burkina Faso faz fronteira a oeste e a norte com o Mali, a leste com Níger e a sul com o Benim. Nos últimos anos do século XIX, a região foi invadida e anexada pela França até 1960, ano em que o país recupera a sua independência. Originalmente chamada de República do Alto Volta, foi renomeado em agosto de 1984 pelo então presidente Thomas Sankara, que estabeleceu a nova designação a partir das palavras Burkina – que significa “homens íntegros” na língua more – e Faso – cuja tradução a partir da língua diola quer dizer “terra natal”. O país é membro da União Africana.
A ONU tem feito intervenções via forças de paz e armadas internacionais, os ataques de extremistas islâmicos continuam sem perder força em toda a região do Sahel na África Ocidental(norte), incluindo os vizinhos Mali e Níger. Os jihadistas se valem de crianças soldados, onde a agressão deste mês foi de longe o caso de maior visibilidade.
O aumento, a partir de 2018, dos ataques a civis e soldados geraram incontáveis mortes e mais de 1,2 milhão estão desabrigadas, relatou a Unicef, muitas das quais foram forçadas ficar em acampamentos improvisados espalhados pelo árido norte. Corrobora com esta situação o fechamento de 2.200 escolas afetando mais de 300.000 crianças.
A situação de tragédia que marca a sociedade é mundial. Na província canadense de Saskatchewan foi descoberta em escola, 751 túmulos não marcados de crianças foram achados, semanas depois que uma descoberta semelhante na Colúmbia Britânica levou a um novo acerto de contas sobre o passado colonial do país.
Cadmus Delorme, chefe da ‘ Primeira Nação Cowessess’, disse que os túmulos foram encontrados no local da escola residencial indígena Marieval, em busca no dia 2 de junho. “Este não é um local de sepultura coletiva. Estas são sepulturas não marcadas. O local do túmulo está lá. É real.”
O extremismo cristão a partir do século XIX, levou mais de 150.000 crianças das “Primeiras Nações” serem forçadas a frequentar escolas cristãs financiadas pelo estado como parte de um programa para assimilá-las na sociedade canadense.
Elas foram obrigadas a se converter ao cristianismo e não puderam falar suas línguas nativas. Muitos foram espancadas e abusadas verbalmente, e milhares morreram de doenças, negligência e suicídio.
Este número se soma aos do mês passado, os restos mortais de 215 crianças, algumas com apenas três anos, foram encontradas enterradas no local do que já foi a maior escola residencial indígena do Canadá, perto de Kamloops, na Colúmbia Britânica.A escola Marieval funcionou de 1898 a 1996, enquanto “Cowessess First Nation” assumiu o cemitério da escola da Igreja Católica na década de 1970.
É um mundo dos extremos golpeando o futuro e mostrando um passado que nos revisita. Seja na África ou em sociedades ditas civilizadas, os adultos condenam a morte crianças pelas suas crenças religiosas ou políticas. É quando a história se repete devido a civilização não enfrentar seus erros recorrentes.
*Túlio Ribeiro é economista, pós graduado em Contemporânea, mestre em História e doutor em Política Estratégica.