Populismo autoritário avança com desigualdade, injustiça e falta de confiança nas instituições

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Fenômeno, antes considerado típico de países latino-americanos, vem ganhando força em todo o mundo ocidental

Por José Eduardo Mendonça, compartilhado de Projeto Colabora




Bolsonaro e Trump em encontro na Casa Branca: exemplos do avanço do populismo autoritário nas democracias do mundo ocidental (Foto: Brendan Smialowsk / AFP /19/03/2019)

Por mais de uma década, especialistas vêm se perguntando como o populismo chegou para dominar a política no Ocidente. Os anos 2010 foram uma década marcada pela chegada ao poder de líderes de extrema direita, com Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil. Houve também muitos candidatos de partidos populistas de esquerda, como o Podemos Na Espanha, Jeremy Corbin no Reino Unidos, e Bernie Sanders nos EUA, assim como movimentos de protestos como os Coletes Amarelos na França. O populismo, um dia considerado como um fenômeno de países de países latino americanos atrasados, tornou-se uma característica familiar da política virtualmente em todos os países ocidentais.

Analistas e observadores notam com frequência a existência do que chamam de uma “transversalidade” – populismo com um ingrediente que pode ser misturado a agendas populistas de ambos os lados, uma conexão entre agendas da extrema direita e de extrema esquerda.

Economistas como o prêmio Nobel keynesiano Joseph Stiglitz e o celebrado Thomas Piketty argumentaram ser a desigualdade econômica que leva ao descontentamento popular. Estes autores denunciaram o fosso entre os ricos e os pobres nos Estados Unidos e Europa, e o modo como isto provoca rancor, com frequência direcionado contra imigrantes e minorias, em vez das elites econômicas.

Outros focaram em questões mais específicas – dos choques comerciais, como os produzidos pela entrada da China no mercado mundial, à automação e ao modo como ataca os trabalhos manuais, passando pelos efeitos da imigração e dos mercados externos.

Mas como exatamente a desigualdade leva ao descontentamento político – e este deve mesmo ser o foco?

Autores argumentam que, por exemplo, a crise financeira de 2008 despertou o ultraje por conta de ter claramente revelado a injustiça, com milionários e bancos salvos com dinheiro público.

O populismo é descrito como o espelho da democracia – e de seus fracassos. Eric Protzer, de Harvard, e seu colaborador Paul Sommerville usam a baixa confiança nas instituições políticas como um representante do sentimento popular. Cidadãos não se ligam a movimentos populistas ou líderes só por estarem preocupados com o efeito da desigualdade ou “injustiça” – fazem porque enxergam esta desigualdade como o resultado bruto de decisões politicas, tomadas por representantes contra os melhores interesses daqueles que representam.

Deveríamos nos perguntar como as sociedades ocidentais podem se tornar menos divididas, mais autoconfiantes e exemplares melhores de valores liberais democráticos. A ideia é confrontar populismo e nacionalismo e criar um território para alianças ocidentais construtivas, e respeitar o papel da lei.

Os protestos foram chamados de ações de minorias, mas são também um crescente movimento de queixas de direita que seriam um momento definidor para a política de direita.

Estes fenômenos nos mostram que os protagonistas do papel da democracia liberal dos anos 1990 acreditavam mesmo neles, vivendo como as pessoas nos próprios anos 1990 – mas hoje são quase uma espécie em extinção que temos de fazer um grande esforço para manter vivo.

É um fenômeno intrinsecamente perigoso em modernas democracias que, por muitas razões – a erosão da classe trabalhadora, a criação de muitas pessoas que se sentem sem classe e não são levadas a sério no mundo globalizado -, vem tornando a pressão autoritária presente de forma mais universal.

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