Por políticas públicas inclusivas de meninas e mulheres na ciência

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A ciência perde com a ausência de mulheres e de mulheres diversas, vindas de lugares e histórias diversas. Os programas públicos precisam contemplar essa possibilidade

Compartilhado do Portal do CONTEE




 Arte: Mohamed Hassan/PxHere

Por Margot Johanna Capela Andras*

Com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a questão do espaço, da participação, da excelência e envolvimento das mulheres e meninas na ciência, em 2015 a Assembleia Geral da Nações Unidas declarou 11 de fevereiro o “Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência”. Dia para lembrar a comunidade internacional da necessidade de avançar em questões do conhecimento e produção cientifica quanto a igualdade de gênero, enfrentando desafios e tendo como meta os objetivos da Agenda 2030.

Mas estamos no Brasil e nossos desafios são complexos, amplos e abissais quando nos referimos a construção e produção cientifica. Aqui, as questões de exclusão vão além das questões de gênero, passando pelas socioeconômicas, raciais e geopolíticas. Aliás, como em tudo, a produção cientifica é uma questão política também. Vimos isso claramente agora, neste tempo de pandemia, não só envolvendo a pesquisa na questão da doença, como na vacina e como as mulheres fizeram diferença neste processo e como os programas, como as cotas, Prouni e Ciência sem Fronteiras interferiram, fazendo grande diferença nesses resultados.

 No mundo inteiro as mulheres foram excluídas durante muito tempo. Mulheres tinham desvantagem no meio acadêmico, que gerou disparidades não só no desenvolvimento de estudos e publicação de artigos, mas também na representatividade entre pesquisadores e, aqui no Brasil, quando se somavam eram brancas e de famílias abastadas.

Com isso, não podemos fingir que não vemos a disparidade que há entre os gêneros na carreira e produção científicas. Apesar de, atualmente, o número de mulheres que consegue se formar na faculdade e mestrado ser equiparável ao de homens, continuam sendo minoria nos doutorados e pós-doutorados.

Esse interesse precisa ser criado e estimulado na educação básica – quanta pesquisa, questionamentos, atividades extracurriculares há na educação básica? Quantas meninas são convidadas ou desafiadas a pensar e questionar na escola hoje? Aliás, em que escola se desenvolve um currículo com esse objetivo? Com certeza não será a reforma do Ensino Médio que trará esse estímulo.

Sem considerar que, se no mercado de trabalho, ser homem branco cisgênero é um fator preditivo positivo para avançar rapidamente em uma carreira, isso também acontece na pesquisa e na produção cientifica. Alguns estudos demonstram que mesmo com alguns vieses, a facilidade de obter publicações e contratações com salários mais altos e fundos de pesquisa são destes homens.

Mas a ciência perde muito com a falta de diversidade. Pessoas diferentes, vindas de histórias diferentes, sempre vão olhar os problemas de formas diferentes e buscar diferentes soluções, por isso a ciência perde com a ausência de mulheres e de mulheres diversas, vindas de lugares e histórias diversas. Os programas públicos precisam contemplar essa possibilidade.

Numa entrevista à CNN, a astrofísica Duilia de Mello disse: “As mulheres encontram soluções diferentes; inclusive, elas identificam outros problemas que os homens não identificam. Por isso que eu acho muito importante falar para a menina que, sim, ela pode fazer ciência e que a ciência é carreira de menina”

Não só por isso, mas também por isso, nesse dia 11 de janeiro, a CONTEE, clama por políticas públicas inclusivas de meninas e mulheres na ciência no nosso País.

*Margot Johanna Capela Andras é coordenadora da Secretaria de Defesa das Diversidades, Direitos Humanos e Respeito às Etnias e Combate ao Racismo

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