Por que a direita manipula bem melhor que a esquerda os algoritmos?

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Sou um jornalista veterano que conseguiu sua aposentadoria aos 65 anos. Por uma série de problemas, só consegui me aposentar por idade, pois não consegui atingir 35 anos de contribuições à Previdência Social. Tinha “apenas” 30 anos.

Por Simão Zygband, compartilhado de Construir Resistência




Isso significa que entrei no jornalismo com pouco mais de 20 anos, mas não tive registro em carteira profissional nos meus 45 anos de trabalho. Houve lacunas como desemprego ou trabalhos temporários que não pagavam o INSS. Creio que poucos conseguirão se aposentar por tempo de contribuição. Claro que para muitos jovens sou um dinossauro, um “obsoleto” pouco familiarizado com a linguagem da internet.

Tentando viabilizar algum mais na minha velhice, criei há três anos o site Construir Resistência, um veículo com viés de esquerda que nasceu de maneira principalmente militante, para ser um instrumento a mais para ajudar a eleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas redes sociais. Junto dele também criei um grupo de whatsapp de mesmo nome, com mais de 200 participantes, cujos contatos fui amealhando por anos de trabalho.

São jornalistas, professores, sindicalistas, advogados, bancários, profissionais liberais, metroviários, entre outras profissões, a maioria meus conhecidos, que trocam informações sobretudo de política (mas também de cultura, leituras, informações etc).

Todos no grupo podem postar o que acham importante que os outros leiam. É uma espécie de clipagem que conta com a participação de diferentes e variados atores. Há um fluxo interessante de informações.

Mantenho praticamente o site com meus recursos. Eventualmente algum participante faz uma pequena contribuição por pix. Tenho um pequeno apoio financeiro de uma agência paulista que investe em pequenos projetos como o meu e uma carioca que me proporciona suporte técnico. Foi ela, aliás, que concebeu o site. É parceira. Só me cobra uma pequena taxa mensal para manter o veículo no ar.

O Construir Resistência, seja o site ou o grupo de whatsapp, é o embrião de um projeto ambicioso que deveria servir como exemplo de como a militância virtual de esquerda deveria agir nas redes sociais.

Eu mesmo efetuo mais de 600 disparos para pessoas que recebem diariamente as notícias e matérias que julgo convenientes que todos conheçam.

Na fase áurea, durante a campanha do Lula, atingiu quase 2 milhões de visitas, quase 1 milhão por ano. Uma amostragem muito pequena para os números milionários das redes sociais.

Estes mais de 3 anos de Construir Resistência foram uma experiência muito rica para mim. Trato o site e o grupo como um laboratório de Comunicação. Mas, por que a esquerda não consegue o mesmo efeito de mídia como conseguiu o bolsonarismo e o estelionatário Pablo Marçal, que nada de braçada nesta ferramenta? Como um sujeito que aplicava golpes bancários em idosos e que cumpriu pena de prisão por isso se encontra bem colocado nas pesquisas para a prefeitura de São Paulo?

É investimento nas redes sociais, claro. É dinheiro de origem duvidosa que rega a as redes sociais da direita, seja do bolsonarismo, seja do Pablito “Escobar” Marçal.

Mas por que a centro-esquerda, que está no poder no Brasil, não consegue formatar grupos com o mesmo sucesso? Lula foi eleito por ser o Lula, um personagem antológico da nossa história, um fenômeno de urnas, mas que fez campanha de maneira quase analógica, tendo como deficiência exatamente o trabalho com as redes sociais.

Lula pode sim, com seu carisma, transferir votos e eleger Guilherme Boulos prefeito de São Paulo. Mas a campanha terá que aprimorar esta incapacidade com a gestão das mídias virtuais.

A esquerda e toda a sua militância virtual ainda parece pesadona para disputa das redes. Lembra o massudo Pravda, o pesado jornal russo do período soviético.

Há muitos seminários, encontros, debates, mas pouca efetividade nas ações. Parecem funcionários públicos, se é que não são. O militante virtual da esquerda muitas vezes se contenta em passar informações dentro do seu grupo de whatsapp, para os seus conhecidos e amigos, em geral para um publico já consciente e já catequizado.

Muitas vezes o próprio Construir Resistência lembra um grande quarto de despejo, recebendo informações aos borbulhões, sem muito critério, sem filtragem e com muitas repetições. Sintoma de que não se dignam sequer a ler o que o companheiro postou.

Mas tem medo (vergonha, descrença) de passar informações para aqueles que ele supõem que não votará com a gente. Prega dentro da sua “igreja”, só para os já convertidos.

Mas agora é hora de expandir e fazer a disputa de narrativa com os fascistas. Construam seus grupos de transmissão. Disparem também para os divergentes.

Dedos à obra.

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