Publicado no Portal DW –
Todos países da União Europeia terão mais obesos até 2030. Menos um. Por isso, a DW foi até a Holanda conferir por qual motivo a população é e tende a continuar magra mesmo comendo tanta batata frita com maionese.
A melhor forma de se locomover pela Holanda é, sem dúvida, de bicicleta. E é isso que faz a maioria – inclusive estrangeiros – ao desembarcar na estação de trem da cidade de Venlo, no sudeste do país, quase na fronteira com a Alemanha.
“De 100 a 200 pessoas, todos os dias, chegam de trem e completam a viagem ao trabalho pedalando”, conta Edwin, um holandês de 43 anos, funcionário de uma loja especializada em vendas e consertos de bicicletas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Holanda é o único país da União Europeia que não tende a ver suas taxas de obesidade crescerem nos próximos 15 anos. Até 2030, a população obesa deve atingir meros 8,5% – na Irlanda, por exemplo, a taxa deve chegar a 50% E isso, acreditam muitos, se deve em parte ao hábito de pedalar.
Os holandeses pedalam mais do que qualquer outro povo na Europa. Em média, são 2,5 quilômetros por dia. Só que, dependendo do peso, é possível queimar apenas em torno de 60 calorias ao trafegar essa distância. E isso, portanto, não seria o único motivo para o resultado apontando pela OMS.
“Acho que é porque os holandeses não vão tão frequentemente ao McDonald’s ou ao Burger King”, diz Edwin. O que, no fim das contas, também não é verdade.
Brenda, de 22 anos, é um bom exemplo:
“Não faço nada em especial. Não me exercito frequentemente, às vezes uma ou duas vezes por semana. E como muito McDonald’s ou fast-food, coisas que não são nada boas para a saúde”, admite ela, ainda numa idade em que o metabolismo é facilmente capaz de se opor à balança.
Alguns metros depois, Malou, de 54 anos, argumenta a respeito:
“Acho que os jovens comem muita batata frita e coisas do tipo. Mas acredito que depois dos 30, 40 anos, eles ficam mais atentos ao que estão comendo. Não é normal comer fast-food algumas vezes por semana. No meu caso, como batata frita uma vez por semana, talvez. Mas não mais do que isso”, diz, em meio a uma rua onde, em 100 metros, é possível encontrar quatro locais diferentes para comprar a iguaria.
E o que ela faz para se manter magra?
“Caminho muito. Não uso muito o carro. E, claro, também pedalo muito”, diz.
Mais que esporte, um hábito
Ao longo do Rio Meuse, Sjaak estaciona para uma rápida entrevista. Diz que, naquele momento, acabou de pedalar pelo menos 15 quilômetros. E que, diariamente, percorre entre 10 e 50 quilômetros de bicicleta. Isso aos 68 anos.
“Acho bastante normal”, diz, ao destacar que grande parte dos amigos, de faixa etária semelhante, costuma fazer o mesmo.
Paul, de 47 anos, dá um tempo na corrida e também concorda em ser entrevistado. Afirma que normalmente corre 15 quilômetros, quatro vezes por semana. Ou seja: 60 quilômetros ao todo, semanalmente.
Além disso, há o treino de futebol, que ocorre duas vezes por semana, e mais um jogo aos fins de semana, já que a corrida, hoje em dia, para Paul, não é de fato um exercício. O motivo de ele correr, naquele momento, era pelo fato de ter deixado ascooter em uma loja: ele decidiu voltar correndo para casa – 2,5 quilômetros.
Cientista confronta dados
Depois desses exemplos, é possível concluir que, na cabeça dos holandeses, a definição de exercício é diferente em termos de frequência e duração – pelo menos em comparação à maioria dos países.
No Instituto Scelta, especializado em pesquisa de alimentos saudáveis, o professor Fred Brouns, da Universidade de Maastricht, argumenta a favor do que havia sido observado nas ruas:
“Uma coisa é certa: os holandeses se movimentam muito. Se você olhar para fora, verá ciclistas em todos os lugares. A maioria das crianças vai à escola a pé ou de bicicleta. Essa é uma grande diferença em relação à maioria dos países europeus”, reforça.
Outro fator que ajuda os holandeses é o governo, que luta contra os riscos à saúde em vários níveis, particularmente nas escolas e em áreas de menor renda.
“Não há efeito algum se você diz, na escola, para beberem água em vez de refrigerantes, mas, no lado de fora, o posto aonde as crianças vão nos intervalos, ter refrigerantes. Ou então na rua seguinte ter um McDonald’s, e todo mundo ir lá”, diz Brouns.
Ainda assim, ele diz que a obesidade é um grande desafio para a Holanda, pois acredita que o problema é maior do que o apresentado pela OMS – e pelo Fórum de Saúde Britânico, que confronta os dados do organismo.
“Fui informado de que os dados que eles usaram para a Holanda estão muitos anos atrasados, não são atuais, e que são, na verdade, baseados no que as pessoas pensam que têm comido”, argumenta Brouns.
Ainda assim, com estatísticas equivocadas ou não, os holandeses estão fazendo mais e melhor do que outros, principalmente em relação à União Europeia, que enfrenta uma crise de obesidade.
“A Organização Mundial da Saúde apresentou os dados como um alerta, por isso as pessoas e os países vão tomar atitudes e trabalhar contra o problema da obesidade, em vez de sentarem-se e esperarem o problema ir embora, porque isso não vai acontecer”, conclui o professor.