Por que a segunda onda da pandemia é tão severa na Índia?

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Compartilhado de DW – 

Nova variante do coronavírus, lentidão na vacinação, negligência com medidas preventivas e líderes políticos e religiosos minimizando a pandemia são fatores que contribuíram para a crise sanitária, apontam especialistas.

Pessoa de veste protetora de costas observa fogueiras de cremaçãoCrematórios da Índia estão lotados

Hospitais com falta de oxigênio, gente esperando por ambulâncias que nunca chegam, crematórios lotados: depois de uma primeira onda de covid-19 relativamente controlada, a Índia agora vem registrando recordes de contágios diários.

Após contabilizar mais de 360 mil novos casos e ver o total de mortes passar de 200 mil na véspera, o país quebrou um novo recorde mundial nesta quinta-feira (29/04): mais de 379 mil infecções em 24 horas. Mais 3.645 óbitos foram registrados, totalizando quase 205 mil.




“É como um inferno, queima tudo o que toca”: assim Shuchin Bajaj, fundador e diretor dos Ujala Cygnus Hospitals descreve a nova onda do coronavírus, uma explosão de infecções sem precedentes causada pela confluência de diversos fatores.

Apesar de ser uma das maiores produtoras de vacinas do mundo, a Índia não tem estoques suficientes para sua própria população elegível à inoculação. A lentidão do governo tem sido criticada, à medida que variantes possivelmente mais transmissíveis se alastram pelo país.

Além das detectadas primeiro no Brasil, África do Sul e Reino Unido, há agora também uma cepa indiana preocupante. Segundo o porta-voz Tarik Jasarevic, da Organização Mundial da Saúde (OMS): “Parece que esta variante tem o potencial de se acoplar mais facilmente a células humanas. Isso obviamente acarretaria mais infecções e mais hospitalizações.”

Grande multidão de hindus seminus em águas de rioFesta hindu do Kumbh Mela reuniu centenas de milhares às margens do rio Ganges

Complacência que saiu pela culatra

No entanto, muitos cidadãos também começaram a ficar mais complacentes, em especial depois de as taxas de contágio terem se mantido moderadas por diversos meses.

“O que vimos na Índia é claramente o resultado de muitos terem baixado a guarda”, avalia Udaya Regmi, diretor para a Ásia da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. “Em certo momento, a primeira onda estava quase sob controle, e as pessoas lentamente pararam de manter certas medidas salvadoras de vidas, como usar máscaras.”

Essa complacência não foi impulsionada apenas pela fadiga da pandemia, ressalva a virologista Vineeta Bal, do Instituto Nacional de Imunologia: líderes políticos e religiosos, minimizando publicamente a severidade da pandemia e convocando aglomerações de massa, também foram um fator.

Apesar do surto do novo coronavírus, o governo permitiu que centenas de milhares de hindus devotos participassem do Kumbh Mela, o maior evento religioso indiano, e continuou realizando comícios políticos durante as eleições estaduais. O partido governista Bharatiya Janata (BJP) promoveu reuniões especialmente grandes.

Num desses eventos, no estado de Bengala Oriental, o primeiro-ministro Narendra Modi agradeceu aos presentes por “nunca ter visto antes multidões tão enormes num comício”.

“Tudo isso emitiu a mensagem coletiva de que não importava manter distância e usar máscara”, conclui Bal. “Essa complacência saiu pela culatra.”

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