Compartilhado de BBC News –
Uma das discussões que mais demoraram a se resolver no início da pandemia de covid-19 girou em torno da utilidade das máscaras como medida para prevenir a disseminação do coronavírus.
No entanto, agora a Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha os governos a incentivar o público a usar o equipamento onde há “transmissão generalizada e o distanciamento físico é difícil”. A utilização da máscara é parte de uma série de medidas de prevenção, que inclui a lavagem das mãos e o distanciamento social.
Agora, o debate em muitos lugares parece ter se movido para a eficácia de um modelo de máscara específico: os equipamentos que têm válvula.
Essas máscaras faciais funcionam ou não para retardar o avanço da pandemia? Eles nos protegem mais do que aqueles de fora? E por que geraram polêmica?
Resposta forte
Existem várias máscaras no mercado que vêm com uma válvula no centro ou em um dos lados.null.
Mas, independentemente do modelo e da porcentagem de partículas de cada filtro, nenhuma máscara com válvula é eficaz no contexto de uma pandemia, alertam os especialistas.
Isso porque esse tipo de máscara protege o próprio usuário, mas não as outras pessoas. O equipamento filtra as partículas do ar externo quando a pessoa inspira, mas permite que as partículas escapem pela válvula quando ela expira.
Ou seja, se a pessoa que usa a máscara estiver infectada, pode expelir gotículas com o vírus ao expirar, colocando quem estiver perto em risco.
Fernando Simón, diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências de Saúde (CCAES) e porta-voz do Ministério da Saúde da Espanha, chamou esses tipos de máscaras de “egoístas”, justamente porque só protegem a pessoa que está usando o equipamento.
“O problema da válvula é que o ar exalado pela pessoa se concentra em um ponto específico. Isso pode fazer com que alguém exposto a esse ar se infecte”, explica.
“Elas são ‘máscaras egoístas’, porque, se eu usá-las, eu me protejo mas posso expor os outros”, acrescentou.
Na opinião de Ben Killingley, especialista em medicina de emergência e doenças infecciosas do University College Hospital, de Londres, embora o uso geral da máscara tenha o duplo propósito de proteger tanto o usuário quanto os outros, “as gotas que as pessoas exalam podem estar infectadas”.
E desse ponto de vista, não faz nenhum sentido que as máscaras de válvula sejam usadas no contexto de proteção da comunidade.
“Na verdade, só os respiradores que se adaptam bem ao rosto têm válvula, e esses são reservados aos profissionais de saúde. O público tem acesso a eles, mas a recomendação para as pessoas é que usem máscara cirúrgica básica, e não esses tipos de máscaras que não trazem nenhum benefício adicional”, diz Killingley.
Não recomendado, exceto em alguns casos
Como a proteção funciona apenas para quem usa a máscara, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), que meses atrás precederam a OSM ao recomendar o uso de máscaras, também alertou contra ouso do equipamento com válvula.
Da mesma forma, autoridades de diferentes regiões da Espanha, onde o uso de máscaras é obrigatório até na rua, proibiram este tipo de proteção em algumas circunstâncias.
E em muitas partes do mundo — incluindo algumas companhias aéreas —, pessoas que estão com as “máscaras egoístas” não podem entrar em espaços fechados com ela.
Para quê são feitas as máscaras de válvula, então?
“A ideia de incluir uma válvula que se fecha quando você inspira e abre quando você expira é para tornar o equipamento mais confortável para o profissional de saúde”, explica Killingley.
“Essas máscaras são mais confortáveis de usar, pois permitem uma melhor circulação do ar.”
Ao permitir que o ar escape, a válvula ajuda a regular a temperatura e evita que o tecido se molhe.
Por isso, elas são úteis quando se está, por exemplo, em um canteiro de obras, em uma oficina ou em qualquer lugar onde haja geração de poeira, para evitar a respiração dessas partículas.
A outra exceção é, como já mencionamos, o caso dos profissionais de saúde, que podem estar em contato com pessoas já infectadas — nessa caso, o objetivo é evitar que os profissionais se infectem.
Ainda assim, o CDC deixa claro que a equipe de hospitais não pode usá-la em ambientes que devem permanecer estéreis (como durante um procedimento invasivo ou em uma sala de cirurgia), pois a válvula “permite que o ar expirado não filtrado entre no ambiente estéril.”
E, para outros procedimentos, quando os profissionais de saúde utilizam esse tipo de máscara com válvula, costumam fazer acompanhados de outra máscara protetora.