Por Kiko Nogueira, DCM –
Embora tenha certeza do contrário, Sergio Moro não é uma unanimidade no papel de paladino do combate à corrupção. Nem em sua terra.
Um golpe em sua vaidade foi dado na Universidade de Maringá (PR), onde ele se formou. Depois que estrelou como palestrante principal no jubileu do curso de Direito, em maio, um grupo de professores quis dar-lhe o título de doutor honoris causa.
Ocorre que o prêmio, outorgado pelo conselho da casa, depende de unanimidade (houve nove até hoje). Uma forte oposição surgiu e a iniciativa melou.
A explicação oficial é a de que o momento do país não é propício por causa da polarização, segundo ouviu o DCM da direção. Pode haver uma reavaliação “após o impeachment”.
Na realidade, se a situação está polarizada agora, imagine-se depois.
“O Moro é jovem, ainda há muito tempo para ser avaliado. No momento oportuno daremos continuidade”, afirmou o reitor Mauro Baesso ao Diário de Maringá. Ele declarou que a proposta ainda não foi analisada. “Não é algo a ser feito em meio a uma polêmica”.
Na documentação elencada para a anulação há vários motivos listados. Um deles é o currículo Lattes de Moro, com apenas uma página, seu parco conhecimento de língua estrangeira e uma graduação desconhecida e não discriminada.
Ele tem também somente cinco artigos publicados. De acordo com o professor titular do Departamento de Física, Marcos Cesar Danhoni Neves, que protocolou o requerimento contra a premiação, Moro “é um juiz de moda”.
Diz o site Brigada Herzog:
O documento protocolado na UEM ressalta principalmente o fato de Moro seguir o modelo da Operação Mani Pulite na Lava jato. O juiz que virou uma especie de herói dos opositores do governo Dilma parece não saber ao certo a diferença entre mãos limpas e sujas. Em uma entrevista ao site Comunità Italiana, em fevereiro de 2016, admitiu ter pouco conhecimento sobre o sistema judiciário italiano: “Não conheço muito bem o sistema processual e o judiciário italiano, mas admiro a coragem dos magistrados que trabalharam na Operação Mani Pulite”, revelou Moro não adentrando-se no assunto que deveria ser esclarecido aos brasileiros que não sabem que as Mãos Limpas italianas não era uma revolução, mas um golpe de Estado.
Lê-se no documento do Prof. Neves:
“Considerando que, em trabalho acadêmico e divulgado de 2004, o Sr. Sergio Moro busca recapitular o trabalho do juiz italiano Antonio di Pietro da Operação Mani Pulite (Mãos Limpas), que resultou na destruição completa da classe política italiana, na sua própria candidatura (derrotada) a postos políticos superiores na Itália, e que acabou permitindo a ascensão e a longa permanência de Berlusconi por 12 (doze) anos no poder.”
Uma das últimas observações: “O título de doutor honoris causa deve ser concedido a pessoas de indubitável caráter altruísta, de solidariedade, de promoção da educação e da cultura no Brasil e no mundo.”
O professor Carlos Cristiano Meneghini forneceu mais alguns detalhes. “Foi um pedido, pelo que me informaram, da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil). A comissão não queria que ele viesse ante os absurdos jurídicos que esta pessoa cometeu — e comete. E uma das exigências dele era que ele não recebesse nenhuma pergunta ao final da palestra”, disse.
“E, em relação ao título, apenas um ou outro era favorável. Eu, assim como inúmeros professores, colegas formados e formandos criticamos este pedido, ainda mais de uma pessoa que renega o nome da Universidade Estadual de Maringá no Lattes, bem como comete atrocidades legais. Deveriam dar-lhe um título de persona non grata.”