Por Adriana do Amaral, jornalista
Há 200 anos proclamou-se a Independência do Brasil, dizem. Ela teria sido anunciada em São Paulo, nas margens de um rio, quase num grito de socorro, contam… Mas, nesse dia 7 de setembro, pouco há a comemorar.
Num contraponto, vozes reais irão ecoar pelo Brasil afora e têm de ser ouvidas: o Grito dos Excluídos e Excluídas que, há 28 anos, denuncia aquilo que a elite brasileira não quer ver e os livros de história ignoram. Nessa quarta, o povo oprimido, cada vez mais numeroso entre nós, segue em marcha país afora buscando a tal independência, e denunciando a falta dela.
A união se faz pelas bordas, pelos arredores, mas segue seu fluxo contínuo como um rio democrático, caudaloso em consciência cidadã. Tradicionalmente, pouco se repercute o grito do povo. Sinceramente, espero que este ano seja diferente.
Originalmente uma manifestação de migrantes, organizado pelos movimentos sociais ligados à Igreja Católica, o Grito dos Excluídos e Excluídas é o retrato do povo. Não o fraco e pequeno, mas o brasileiro que se agiganta quando se une e solta à voz.
O migrante é o brasileiro, mas também estrangeiro. Pessoas que deixam os seus lugares de origem para ganhar o mundo, ou resistir às dores impostas pelo mundo. Rever os cartazes chamando para o Grito é rever a história do Brasil, mas também a beleza e a arte do brasileiro. Um povo que tem o direito de sair, mas também deveria ter o direito de ficar.
Grita, Brasil!
No ano em que tentam nos vender a ideia de comemorar o bicentenário da independência, quem sobreviveu à pandemia da Covid-19 resiste famélico por comida, independência e direitos. Os manifestantes do Grito dos Oprimidos pedem “Vida em Primeiro Lugar”.
E perguntam: 200 anos de (In)dependência. Para quem? Sem dúvida, não para o nosso povo, cada dia mais oprimido pela miserabilidade que enfrenta.
Como afirma Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo da Diocese de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast-CNBB): Basta olhar a realidade que nós enfrentamos. Citando o povo negro, os quilombolas, o povo indígena e a sociedade e a natureza que resistem, ele esclarece a mentira história que nos relatou a tal independência.
O religioso lembra que o Grito dos Excluídos e Excluídas “é um compromisso com a vida humana”. Sobretudo, é “uma convocação permanente que cause transformação numa sociedade tão injusta”.
O Brasil trouxe o coração de D. Pedro para a festa. Prá que, por que e por quem, mesmo?
Lanço aqui um desafio: vamos juntos gritar por uma nova independência, desta vez por todos nós, os brasileiros. Um povo que tem de soltar a sua voz contra o opressor. Afinal, somos em maior número e nossa voz -e voto- tem de se fazer valer frente à minoria exploradora.
Neste 7 de setembro, eu grito por: Comida Boa no Prato do Povo, Trabalho Decente para Toda a Gente, Direito à Moradia Digna, Educação de Emancipadora de Qualidade, Direito à Vida, Equidade nas Relações Sociais, Sistema Único de Saúde, Fora Bolsonaro e Lula Presidente.
Migrar é um Direito, ser acolhido também!
Conheça os Mandamentos do Migrante:
https://spmnacional.org.br/2021/08/31/dez-mandamentos-da-pastoral-dos-migrantes/