Por Mauro Donato, Diário do Centro do Mundo –
Jéter Rodrigues, ex-assessor da Assembléia Legislativa de SP, foi um dos primeiros a citar o envolvimento do antigo chefe, Fernando Capez, no escândalo das merendas.
Há dois dias, afirmou ter sido procurado previamente pelo chefe de gabinete de Capez, Alexandre Zakir, e mais um ex-assessor. Ambos também investigados.
A estratégia consistia em Jéter Rodrigues assumir a responsabilidade de um depósito de R$ 50 mil para Merivaldo dos Santos (o outro ex-assessor) porque sua conta no banco estava negativa demais e portanto o valor seria sequestrado.
Esses R$ 50 mil eram, na verdade, a primeira de quatro parcelas do total de R$ 200 mil a serem pagos a Merivaldo. Jéter esteve intermediando os contratos de “prestação de serviços” do lobista Marcel Ferreira Julio com a Coaf e o governo de São Paulo. Ainda segundo Jéter, essa primeira parcela seria depois repassada para uma empresa em nome do filho de Merivaldo dos Santos.
Ontem, Jéter Rodrigues voltou atrás e disse que Alexandre Zakir não tem nada a ver com isso. Ele também não tem mais citado Capez.
Por que esse “falei”, “não falei”, “falei mas não fui eu” constantemente quando as acusações vão se aproximando dos graúdos?
No último dia 1º (sexta-feira), o lobista Marcel Julio, que finalmente se entregou à Polícia Civil de Bebedouro e fez acordo de delação premiada, teve seu depoimento interrompido assim que citou o nome de Fernando Capez.
Qualquer semelhança com um vídeo recente do Porta dos Fundos não é mera coincidência. Na peça, é retratada a situação em que um delator é totalmente ignorado todas as vezes em que cita o PSDB ou PMDB. Aliás, o vídeo pode ter sido baseado em outro caso real.
Em fevereiro deste ano, Fernando Moura prestava depoimento ao juiz Sérgio Moro e quando esclareceu como funcionava o esquema de propina em Furnas (“É um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio”) foi imediatamente interrompido pelo juíz: “Não foi isso que perguntei…” Em outras palavras, “não é isso que quero ouvir”.
Deflagrada há tão pouco tempo, a operação que investiga a máfia das merendas já declarou inocentes o ex-secretário Herman Woorwald e seu chefe de gabinete, Fernando Padula. Só foram em cana quatro peixes pequenos (como funcionários da Casa de Agricultura de Monte Azul Paulista).
Um documento tido como fundamental para as investigações, pois foi citado num grampo entre o lobista Marcel Julio e Luiz Roberto Santos, o famoso ‘Moita’, ex-chefe de gabinete da Casa Civil de Alckmin, simplesmente desapareceu da Secretaria de Educação.
O documento se referia ao pedido de ‘reequilíbrio financeiro’ – eufemismo para superfaturamento – no contrato entre governo e a Coaf. Mas, a busca feita pela Corregedoria-Geral do Estado constatou que ele evaporou. É intrigante ou não? Como um investigação de poucos meses já inocenta tão rapidamente algumas pessoas de alto escalão? E por que deixa passar meses antes de ir atrás de um documento citado lá no início?
Ontem, mais uma vez estudantes foram às ruas reclamar por uma educação de qualidade e denunciar a falta de merenda (sim, continua faltando e estamos no mês de abril!). Mais uma vez os estudantes foram recebidos com bombas de gás pela polícia. Tem jeito isso aqui?