O motivo tem a ver com Richarlison e com uma disputa judicial; entenda os detalhes
Por Plinio Teodoro. compartilhado da Revista Fórum
Passadas mais de 14 horas desde a vitória do Brasil por 2 a 0 sobre a Sérvia na estreia da Copa do Catar, o clã Bolsonaro segue em silêncio, sem comemorar o resultado da equipe que tinha como estrela o atacante Neymar, que saiu contundido da partida, e abriu espaço para a estrela de Richarlison brilhar, com o gol de voleio, que está sendo considerado a maior pintura do mundial até o momento.
O silêncio de Jair e dos filhos, Flávio, Carlos e Eduardo – que se colocavam até o dia 30 de outubro como exemplo de patriotismo e amantes do futebol – é atribuído, por bolsonaristas radicais, a um apoio velado aos atos golpistas, que vaiaram os gols da seleção em frente aos quartéis.
No entanto, o ranço da família Bolsonaro com o resultado da partida tem a ver com uma disputa judicial com o grande protagonista da estreia do Brasil na Copa: Richarlison.
Mansão em ilha com cachoeira
O imbróglio judicial, que tem Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como testemunha, está relacionada à compra pelo atacante brasileiro – por meio da sua empresa, a Sport 70 – de uma mansão de R$ 10 milhões em Ilha Comprida, no município de Angra dos Reis (RJ), no ano de 2020.
A mansão tem 11 suítes, praia privativa, uma cachoeira, piscina, quadra de tênis, heliponto e teria “encantado” o filho de Jair Bolsonaro – que adquiriu recentemente uma mansão avaliada em R$ 6 milhões em Brasília.
Flávio chegou a publicar vídeo do local em 1º janeiro de 2021 em seu perfil no Instagram – veja as imagens. “Quantos lugares você conhece em que a cachoeira desagua no mar? Em Angra dos Reis tem! Tomada da Ilha Comprida, localizada há poucos minutos do aeroporto de Angra”, escreveu junto com imagens aéreas da mansão, filmadas por um drone sem autorização dos proprietários.
Seis meses antes, Flávio, a esposa – a dentista Fernanda Bolsonaro – e o ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas, governador eleito de SP, estiveram em Angra. O casal passou o fim de semana na região e foi levado para conhecer a mansão pelo ex-senador Wilder Morais (PL-GO).
À época, o dono, Antônio Marcos, recebeu o filho de Bolsonaro, mas afirmou que já negociava a venda com a empresa de Richarlison. Em janeiro, já na companhia de Tomaz, Flávio voltou ao local e cortejou o dono, que explicou que já havia havia fechado negócio com o jogador e seu empresário, Renato Velasco.
Reintegração de posse
Após a compra, Richarlison e Velasco fizeram reformas na mansão, para onde se mudou a esposa do empresário. No entanto, no dia 13 de maio de 2022, a mulher, que estava grávida, ligou para o marido relatando que um oficial de Justiça e policiais estavam na mansão para retirá-la da propriedade e cumprir uma decisão de reintegração de posse – veja o vídeo.
A ação foi movida pelo escritório M Locadora, de um sócio de Tomaz, que alegava que havia comprado a posse do imóvel do marido da cantora Clara Nunes – uma das primeiras donas do local, que foi casada com o compositor Paulo César Pinheiro – em 1986 e revendido em 2002. Segundo o escritório, 20 anos depois, representantes dos espólios dos antigos donos da empresa, já mortos, reivindicavam a posse.
Dois dias depois, os advogados da empresa de Richarlison conseguiram provar a compra do imóvel e reverter a decisão. proferida pelo juiz Ivan Pereira, da Segunda Vara Cível da Comarca de Angra.
O amigo de Flávio, Willer Tomaz, recorreu à segunda instância da Justiça no Rio alegando que que sua empresa, a WT Administração, havia pagado R$ 2 milhões de pendências fiscais e administrativas da M Locadora, em troca da transferência do bem.
Para provar a transferência, Tomaz obteve em 11 de julho a regularização do cadastro do imóvel na Secretaria do Patrimônio da União, já que o governo federal concede apenas a posse da terra, que pertence ao Estado.
A última decisão no processo foi de 5 de agosto, quando o desembargador Adriano Guimarães concedeu uma nova decisão liminar, a favor de Tomaz, passando novamente o imóvel para as mãos do advogado. A ação tem como testemunha, Flávio Bolsonaro, que deve ser ouvido a pedido dos advogados de Richarlison.
Em nota enviada à Fórum, Willer Tomaz afirma que “a WT Administração é hoje a única e legítima titular de direitos detentor do direito de uso” da casa em Ilha Comprida.