Não apenas os livros. Inclua aí os discursos, as entrevistas, as cartas, os emails e o que mais for.
Faço esta comparação porque ambos são senhores de idade avançada, o Papa com 78 anos e FHC com 82.
Os anos fizeram bem ao Papa e mal a FHC.
O Papa, desde que chegou, se pôs a combater como um gladiador o grande câncer do mundo: a desigualdade social.
O resto foi consequência disso.
Francisco retrata, à perfeição, o Zeitgeist, a palavra alemã que designa o espírito do tempo.
Rapidamente, ele venceu a resistência de progressistas que não acreditavam que de uma Igreja Católica corroída pudesse brotar um Papa como aquele.
Hoje, Francisco é provavelmente a voz mais admirada, mais reverenciada e de maior repercussão em todo o mundo.
A pregação igualitária lhe dá tanta força que ele parece um adolescente octogenário.
Poucos notaram isso, mas uma de suas maiores virtudes é o constante sorriso.
Ele combate o bom combate, para usar as palavras de São Paulo, com um sorriso nos lábios.
É um exemplo para todos nós.
Da luz, passemos para a sombra.
Quantas vezes você viu FHC falar em desigualdade? E estamos falando de um homem de um país que é recordista mundial em iniquidade.
Não me lembro de tê-lo visto falar nisso uma única vez.
Em compensação, FHC demagogicamente fala compulsivamente em corrupção, ele que comprou a sua reeleição.
Por que ele fala tanto?
Por duas grandes razões, ambas canalhas.
A primeira.
Historicamente, corrupção tem sido uma cortina de fumaça para encobrir a tragédia da desigualdade nacional.
Você fala tanto nela que a iniquidade cai, automaticamente, para um segundo plano, ou terceiro, ou quarto.
A segunda.
A classe média – composta majoritamente de pessoas pouco politizadas — é facilmente manipulada com o uso de denúncias (tantas vezes falsas) de corrupção.
É uma receita velha: a plutocracia matou Getúlio com isso em 54, derrubou Jango em 64 e vem buscando loucamente liquidar Lula e Dilma, em nossos dias.
FHC se juntou à plutocracia, e age como um serviçal dela. Em vez de iluminar o debate, como faz Francisco, ele ajuda no embuste.
A corrupção deve ser atacada, é claro. Mas de verdade – não de mentira, como sempre fez a plutocracia.
O uso demagógico da corrupção impede que ela seja extirpada.
Desconfie de quem fala, o tempo, todo em corrupção. Assim como você com certeza já faz em relação aos que, como os Malafaias, vivem falando sobre a moral e os bons costumes.
É o mesmo tipo de demagogia, de falácia.
Francisco faz bem ao mundo, com seu empenho desmesurado pelos pobres e sua crítica constante aos gananciosos.
FHC faz mal ao Brasil, e à própria biografia, com seu discurso repetitivo e enganador sobre corrupção.
Na velhice, Francisco é um homem puro. E FHC é uma alma corrompida e corruptora.