Por Ana Freitas, publicado em Nexo Jornal –
Enquanto ainda há dúvidas sobre a suspensão do plano de reorganização, estudantes afirmam que vão ficar onde estão. Fim de semana terá Virada Cultural nos colégios
Na tarde dessa sexta-feira (4), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou a suspensão do projeto de reorganização das escolas estaduais em São Paulo. Herman Voorwald, que liderava a pasta de Educação desde 2011, pediu demissão e está fora do cargo. Os estudantes que ocupam 196 colégios em todo o Estado, no entanto, querem algumas garantias. Por ora, dizem que vão permanecer onde estão.
O anúncio da suspensão veio horas depois da divulgação de uma pesquisa Datafolha que revela que o índice de aprovação do governo Alckmin despencou: 70% da população classifica a gestão como regular, ruim ou péssima.
Na mesma manhã, o juiz Iberê de Castro Dias, da Vara da Infância Protetiva e Cível de Guarulhos, já havia acatado o pedido do Ministério Público e concedido uma liminar para suspender a reorganização. Segundo o juiz, a reorganização da maneira como foi proposta pelo governo infringe a gestão democrática do ensino público prevista na Constituição.
O plano de separar parte das escolas da rede por ciclos (as unidades concentrariam alunos mais ou menos da mesma idade) foi anunciado em outubro. Nessa reorganização, cerca de 90 escolas fechariam suas portas ou seriam usadas para outros fins. Os alunos reclamavam da falta de diálogo por parte do governo.
Sem mencionar a decisão, o governo diz que suspendeu a reestruturação para “aprofundar o diálogo”. Ao anunciar o recuo do plano, Alckmin usou o modelo de pronunciamento, sem perguntas de jornalistas. Em seu perfil no Facebook, reafirmou os benefícios da reorganização:
Horas depois do anúncio, lideranças das escolas ocupadas decidiram em assembleia que as ocupações continuam até que o governador documente o que disse na coletiva oficialmente – e responda também o que, para eles, ficou sem resposta.
Além disso, querem fazer parte das decisões sobre a Educação do Estado.
“Não aceitaremos a imposição das datas de reposição às aulas perdidas”
Camila Lanes
presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas, ementrevista à revista Época
Os estudantes fazem as seguintes questões:
- O governo do Estado usa o termo “suspender” e “adiar”. Por quanto tempo?
- O que exatamente o governador quer dizer quando fala em diálogo?
- O que vai acontecer com os alunos que foram detidos? Eles vão responder a processos judiciais?
- O decreto que iniciou a reorganização, publicado na última terça, dia 1º de dezembro, será revogado no Diário Oficial?
- A suspensão da reorganização será documentada no Diário Oficial?
- Como o governador vai garantir que as Diretorias Regionais de Ensino e a direção das escolas sejam mais transparentes e democráticas na tomada de decisões daqui para frente?
- Como o governo vai garantir que os estudantes participem mais das decisões que os afetem na escola?
- Os policiais que cometeram abusos na repressão dos protestos serão investigados?
As escolas permanecem ocupadas. O coletivo Minha Sampa organiza no dia 6, domingo, a Virada Ocupação, que reunirá mais de 800 artistas em shows e apresentações gratuitas nesses colégios. Criolo, Tiê, Maria Gadú, Chico César, Paulo Miklos e Edgard Scandurra são alguns dos nomes confirmados para o evento.
