Por que Paquetá?

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista – 

A pergunta acima me é feita constantemente, desde quando resolvi me mudar para a Ilha de Paquetá. Alguns poucos elogiam a decisão, mas muitos questionam espantados: “Por que Paquetá?”

Uma pergunta que tenho feito a mim mesmo e que, aos poucos, Paquetá vai respondendo.




Mudei-me há 15 dias da Praça São Salvador, divisa dos bairros Flamengo e Laranjeiras. Foram 14 anos e meio de amor pela mesma praça. Local em que cheguei e vi um bucólico logradouro de cidade do interior, só faltando a igreja.

Com o passar do tempo, a praça virou “point” da moçada e foi ganhando fama. Adorava descer do elevador e pôr os pés na Sansalva ou melhor nos botecos. Bebia mais na Adega da Praça, na mesma calçada do prédio onde morava. Uma mão na roda, ou melhor: mãos nas grades dos prédios até chegar ao Edifício Pres. Vargas.

Aliás, fui morar na São Salvador por pura intuição etílica. Um amigo me levou à Adega da Praça e gostei tanto de cerveja gelada que resolvi morar no apartamento mais próximo possível. Encontrado pelo mesmo amigo, o Américo Vermelho. E lá fiquei por quase década e meia.

Na praça, fiz muitos amigos e amigas, garçons e companheiros de mesa. Jamais vou esquecer do samba no coreto nas sextas e sábados, do chorinho de domingo, das conversas molhadas por cerveja…

Certamente, voltarei aqui a falar da Sansalva, mas como o título do texto é “Por que Paquetá?”, vamos a ele.

Passei a frequentar mais amiúde (gostaram?) a ilha de uns seis meses para cá e me caiu a ficha. Ou melhor, o amigo Rui Xavier, num dia de visita à ilha, fez a ficha cair, me cutucando: “Washington, muda para Paquetá”.

Fui alimentando a ideia com a minha amada Carmola, que mora em São Paulo. E a primeira e única pergunta que ela fez foi: “Você vai conseguir ficar longe da sua praça, dos seus amigos, daquela animação toda?” Boa e oportuna pergunta. Mesmo com a dúvida batendo no coração, disse que sim, pois já tinha alguns amigos em Paquetá e onde chego faço mais amizade ainda.

E cá estou agora na Ilha, onde a população não pode circular com carros, com exceção dos veículos da polícia e de outros serviços públicos. Semelhante à música de Luiz Gonzaga, “Automóvel lá não se sabe se é homem ou se é mulher / Quem é rico anda de burrico, quem é pobre anda a pé”.

Mas ao contrário da música, lá o rico e o pobre andam a pé ou de bicicleta. Tem também ecotáxi, bicicletas que lembram aos riquixás orientais, com a diferença de que em Paquetá o “motorista” vai pedalando seu veículo, que possui uma silenciosa bateria. E tem também a chamada charrete elétrica, carro movido a eletricidade semelhante ao de golfe, que veio para substituir a romântica charrete puxada por cavalos.

Porque Paquetá? Ainda não tenho todas as respostas a esta pergunta, mas sei que estou gostando e que,mesmo trabalhando no Rio, me transportando todos os dias de barca (50 minutos durante a semana e uma e hora e 10 minutos nos finais de semana e feriados), estou gostando da experiência.

Acho que estava precisando deste sossego. E lá vou eu com meus trocadilhos infames: Paquetá para aquietar. Mas, veremos a que ponto as saudades da São Salvador vão apertar. Se apertar muito, durmo na casa de algum amigo. Como a barca só vai até a meia noite, dou uma de vegetariano, viro abóbora e piso na jaca, tomando aquele porre naquela que será sempre a minha praça. Assim como espero que Paquetá seja para sempre a minha ilha.

 

Foto de abertura: Américo Vermelho; as demais de Washington Luiz Araújo

Talvez nestes vídeos e fotos estejam algumas das respostas sobre Por que Paquetá? 

 

 

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