Ainda precisa ser apurado o caso dos seis haitianos que foram baleados no sábado passado, dia 1º, no centro de São Paulo.
De acordo com um padre responsável pela paróquia que acolhe os imigrantes, os ocupantes de um carro gritaram “vocês roubam os nossos empregos” antes de disparar.
Convenhamos que é um grito meio absurdo desde um automóvel em movimento. Pode ter sido tudo — vingança, drogas, inclusive xenofobia.
De qualquer maneira, a probabilidade de você saber o que aconteceu realmente é mínima, e por uma única razão: ninguém se importa com os haitianos. Ninguém está nem aí.
O ataque aconteceu há sete dias. Saiu somente hoje nos jornais, de maneira burocrática. Os homens passaram por ao menos dois hospitais antes de conseguir tratamento.
O padre Patrick Illes declarou que foram vítimas de racismo. Está sendo apurada uma denúncia de negligência médica.
Calcula-se que 50 mil haitianos vivam no Brasil, mais da metade em São Paulo. Estão instalado no bairro do Glicério, onde ocorreu o tiroteio.
Trabalham, a maioria, em condições análogas à escravidão. Uma ONG chamada Missão de Paz tenta encontrar-lhes serviço.
São invisíveis e estigmatizados. Ronaldo Caiado, sempre ele, acusou-os de estar sendo recrutados para formar um exército bolivariano.
Os meliantes do Revoltados On Line divulgaram uma montagem de uma foto, em março, com um hatiano num protesto na Petrobras e a seguinte legenda: “Agora está explicado por que a quadrilha do PT trouxe essas merdas aqui pro Brasil!”
Como eles chegam com nada, nada representam de valor. Como são negros, são bandidos.
Qual será a senha para que comecem a ser eliminados? Em Ruanda, a matança dos tutsis foi deflagrada de vez em 1994, quando o rádio os chamava de “baratas” e dava instruções sobre que facas eram mais indicadas para cada situação.
A Carta das Nações Unidas defende “a dignidade inata de todos os membros da família humana”. São palavras vazias quando se trata dos haitianos no Brasil. Eles não merecem sequer ser classificados de insetos. O silêncio é mais eficiente.