Por trás de lentes centenárias 

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Por Lucas Simões, publicado em O Tempo – 

Aos 97 anos, fotógrafo Assis Horta abre exposição para contar a história dos primeiros trabalhadores com CLT

A-GMEML
Retratos. Em sua casa, no bairro Funcionários, o fotógrafo Assis Horta ainda conserva suas máquinas antigas e negativos históricos

Durante 80 anos, o fotógrafo Assis Horta passou boa parte de seus dias carregando sua câmera Rolleiflex aonde quer que fosse para registrar tudo: festas, funerais, sorrisos, paisagens, prostitutas e muitos retratos. Ao longo dos anos, se tornou uma referência histórica ao catalogar desde os primeiros trabalhadores de Diamantina até absolutamente todas as ruas da cidade. Ainda anônimo há sete anos, quando inaugurou a primeira exposição da carreira, “Diamantina 360º”, agora ele ocupa a Grande Galeria do Palácio das Artes, a partir de amanhã, com o projeto “Assis Horta: Retratos”.

Fotógrafo desde os 16 anos, Assis Horta conquistou com sua habilidade autoditada uma vaga para fotógrafo do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – onde trabalhou durante toda a vida, desde a década de 30. Paralelamente ao emprego oficial, manteve em Diamantina o estúdio Foto Assis, entre 1936 e 1967, ano em que se mudou para Belo Horizonte a pedido do Iphan. Porém, durante os mais de 30 anos que esteve em sua cidade natal, ele se dedicou a retratos do trabalhador comum, que precisava da foto 3×4 para a recém-inaugurada Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). “O Foto Assis foi palco dessa pequena revolução social fotográfica brasileira, o trabalhador teve acesso à arte ao ter que fazer fotos 3×4 para a carteira de trabalho. Até então, esse tipo de fotografia estava muito ligada à sociedade burguesa”, explica o curador da exposição, Guilherme Horta – que adverte não ser parente do fotógrafo, apesar de ter o mesmo sobrenome.




Estudioso e pesquisador do trabalho de Assis Horta, em 2013 Guilherme venceu o XII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, na categoria reflexão crítica, pela exposição “Assis Horta: A Democratização do Retrato Fotográfico através da CLT”. Na época, o projeto contava com um acervo restrito do fotógrafo, além de uma pequena recomposição de seu laboratório pessoal, que será reproduzido de forma mais ampla agora.

EXPOSIÇÃO. Inaugurada amanhã na Galeria Alberto da Veiga Guignard, a exposição “Assis Horta: Retratos” amplia pouco mais de 200 fotografias em diversos tamanhos, incluindo os 3×4 clássicos, até um painel enorme de 1 metro de altura por 10 metros de largura, que registra a cidade de Diamantina numa vista panorâmica, clicada por Assis Horta em 1954, do alto da Igreja do Amparo.

“Mostrando isso, pretendemos também expor seu modo de fotografar. Nessa panorâmica, ele fez dez fotos da cidade e fizemos uma colagem digital para o efeito panorâmico. Em suas fotos 3×4 mesmo, é possível observar um apuro grande de foco e luz incomum, principalmente porque ele fazia um clique só de cada imagem”, diz Guilherme.

Além das fotos, a exposição também traz quatro vitrines com equipamentos de trabalho do fotógrafo, como a coleção de câmeras Rolleiflex, os negativos, as banheiras de revelação e as chapas de vidro, consideradas um luxo para os anos 50, quando Assis Horta começou a adquiri-las com mais frequência. “Não era fácil importar uma chapa da Alemanha. Ele costumava dividir uma só chapa de vidro em outras seis, para aproveitar mais”, pontua o curador Guilherme Horta.

Em uma montagem fiel ao espaço de trabalho do fotógrafo, a exposição reproduz o laboratório de Assis Horta mantido em Diamantina, onde ele registrava seus personagens. Um pequeno cenário com uma cadeira de madeira, um tapete e um fundo falso, no qual o público poderá registrar sua própria lembrança ao fim da exposição. “A gente aconselha as pessoas a trazerem máquinas fotográficas e terem o prazer de voltar no tempo, inspiradas por Assis”, completa Guilherme.

História

Exposições. Apesar de não fotografar mais, Assis Horta, 97, consulta todos os dias seu arquivo fotográfico guardado em sua casa, no bairro Funcionários, que ele diz ser de 100 mil chapas de vidro. Desde 2008, expôs também em Ouro Preto, Tiradentes e no Palácio do Planalto, em Brasília.

Agenda

O QUE. “Assis Horta: Retratos”

ONDEGaleria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)

QUANDOA exposição fica em cartaz de 8 de abril a 8 de junho. Os horários para visitação são de 9h30 às 21h (de terça-feira à sábado) e das 16h às 21h, aos domingos.

QUANTO. Entrada gratuita

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