Por um mundo com mais ‘Ladys’: o ativismo e a filantropia de Gaga

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Por Yuri Fernandes, compartilhado de Projeto Colabora – 

Artista em destaque no suporte à OMS no combate ao coronavírus, cantora já usou sua visibilidade e fortuna para assistir à comunidade LGBT+, pessoas vivendo com HIV/Aids, vítimas de abuso sexual e de tragédias naturais.

Lady Gaga durante evento da campanha de Hillary Clinton à presidência dos EUA, em 2016. Atualmente, cantora está à frente de festival para arrecadar fundos para profissionais da saúde e comunidades vulneráveis no combate ao coronavírus (Foto: Justin Sullivan/Getty Images/AFP)

O que faz um artista da indústria musical ser considerado “imortal” ou então uma “lenda viva”? Os números de vendas conquistados ao longo da carreira, a legião de fãs ao redor do mundo ou exatamente o que esse ídolo faz longe dos holofotes do show business, usando seu alcance e visibilidade para apoiar causas humanitárias? Considerando apenas uma ou conjunto das três respostas, Lady Gaga já tem todos os requisitos para ser considerada como tal. Em um mundo de quarentena contra o coronavírus, a norte-americana vem deixando uma marca que, sem dúvidas, será lembrada por décadas. Neste sábado, 18, a estrela de 34 anos, batizada como Stefani Germanotta, é o grande nome por trás do festival “One World: Together at Home”, da Organização Mundial da Saúde em parceria com a ONG Global Citize. O evento, que tem a curadoria de Gaga, unirá artistas de peso em uma live de oito horas para reunir as pessoas e celebrar as doações feitas para o Fundo de Resposta à Solidariedade, criado pela Fundação das Nações Unidas, junto à OMS.




Para os fãs, o suporte da cantora diante de uma crise não é novidade. Mas para boa parte da população, que acompanha a carreira da disruptiva cantora pelos clipes excêntricos ou pelos tabloides de entretenimento, o lado filantrópico de Lady Gaga pode ser, sim, uma novidade. O #Colabora lista a seguir algumas situações em que a estrela se colocou na linha de frente de assuntos que carecem de debate globalmente, seja usando sua voz e seus milhões de seguidores ou parte da sua fortuna na luta por um mundo mais tolerante e justo.

Doações milionárias

A curadoria do “One World: Together at Home” é só um dos trabalhos que vêm sendo feito por Lady Gaga para ajudar os profissionais de saúde e as comunidades mais vulneráveis em relação aos impactos da pandemia do coronavírus. Ela, que adiou o lançamento do seu novo álbum previsto até então para meados de abril, concentra agora seus esforços para conseguir doações milionárias em prol da causa. Durante uma participação no “The Tonight Show”, Lady Gaga ligou para Tim Cook, CEO da Apple, e o questionou sobre a doação que ele havia combinado de fazer. Ao vivo, o empresário confirmou o gesto e doou US$ 10 milhões (mais de R$ 50 milhões) para o fundo da OMS. Ao todo, segundo anunciado pela cantora na coletiva de lançamento do festival, mais de US$ 35 milhões (R$ 183 milhões) já foram arrecadados pela indústria do entretenimento com a sua influência.

Em suas redes sociais, Gaga também cobra o apoio de grandes lideranças internacionais, como Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá. “O Canadá irá doar novos fundos para a GAVI Alliance (organização internacional) distribuir vacinas e salvar vidas nos países mais pobres?”, questionou no Twitter.

Lady Gaga “cobra” doação de CEO da Apple, que confirma valor de US$ 10 milhões para fundo da OMS para combate ao coronavírus (Foto: Reprodução/Youtube)

Fundação contra o bullying

Lady Gaga nunca escondeu em suas entrevistas o bullying sofrido durante a adolescência. Certo dia, por exemplo, três garotos a jogaram dentro de uma lata de lixo enquanto outras meninas riam. “Quando eu passava nos corredores eles me beliscavam e me chamavam de vagabunda”, relatou. Consciente dos traumas gerados por essa violência, a norte-americana usou da sua visibilidade e fortuna conquistadas com seu trabalho para criar, em 2011, a Fundação Born This Way.

A ONG, voltada para jovens, tem como missão construir um mundo mais gentil e corajoso, formando comunidades que compreendam e valorizem a saúde mental. Um dos grandes feitos é a parceria com o Conselho de Saúde Comportamental dos EUA para levar os primeiros socorros em saúde mental para adolescentes do país. “É uma fundação para dar poder à juventude. Trata-se de modificar o clima do ambiente escolar”, declarou Gaga.

Equipe da Fundação Born This Way durante ação pró-LGBT+ em escola de Las Vegas, nos EUA (Foto: Reprodução/Facebook)

Aporte na educação pública dos EUA

Em agosto do ano passado, Lady Gaga anunciou que financiaria totalmente 162 projetos educacionais de escolas públicas de três cidades dos EUA, vítimas de recentes tiroteios em massa. O aporte foi direcionado à ONG Donors Choose e realizado por meio da Fundação Born This Way para atender as necessidades dos alunos em El Paso, no Texas; Dayton, em Ohio; e Gilroy, na Califórnia. “Neste momento, quero canalizar minha confusão, frustração e fúria em esperança. Espero que estejamos juntos, uns para com os outros”, disse a cantora em suas redes sociais na ocasião.

Tragédias naturais

Em 2017, Gaga literalmente colocou a mão na massa para ajudar a reconstruir casas destruídas pelo Furacão Harvey, no Texas. “Queremos ajudar a fazer Houston forte outra vez. Estamos fazendo algumas demolições e melhorando a casa da Pamela após a passagem do Furacão Harvey”, detalhou a artista, que contratou uma equipe de profissionais para a reforma das habitações de diversas famílias. Cinco anos antes, Lady Gaga também anunciou que doaria à Cruz Vermelha US$ 1 milhão (R$ 5 milhões) para vítimas de outro fenômeno natural, a supertempestade Sandy, que atingiu Nova York, sua cidade natal, em 2012.

Gaga em ação para ajudar a reconstruir casas de famílias vítimas do Furacão Harvey, no Texas. (Foto: Reprodução)

Vítimas de abusos sexuais

Ao lançar “Til It Happens To You”, em 2015, Gaga não só levantou globalmente a discussão sobre a violência sexual como também doou parte da receita da venda da música para organizações em prol de vítimas de estupro. O trabalho, indicado como Melhor Canção Original no Oscar de 2016, fez a cantora subir ao palco com dezenas de vítimas de estupro para aquela que se tornaria uma apresentação épica – anunciada pelo então vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Na pele das garotas, frases como: “A culpa não é sua” e “Sobreviventes”. Lady Gaga, que revelou ter sido abusada sexualmente aos 19 anos, tatuou juntamente com as convidadas um mesmo desenho sobre solidariedade.

Luta contra a Aids

Após receber de Yoko Ono o troféu “LennonOno Grant For Peace”, em 2012, em reconhecimento ao seu ativismo social, a cantora garantiu que iria doar os US$ 50 mil (R$ 250 mil) recebidos para instituições assistidas pela ‘Elton John Aids Foundation’. “Vou trabalhar perto deles para garantir que o dinheiro vá especificamente para os órfãos e jovens carentes que nasceram com HIV ou Aids na América”, disse a cantora em discurso após receber o prêmio.

Incêndio em Malibu

Durante o Dia Mundial da Bondade, em novembro de 2018, Gaga fez jus à data e visitou a Cruz Vermelha de Los Angeles, na Califórnia, para oferecer ajuda às milhares de pessoas desabrigadas em razão de um incêndio florestal que afetou, principalmente, a cidade de Malibu, onde a cantora tem residência. Ela, que também foi obrigada a deixar sua casa, cantou, distribuiu pizzas e presentes para a população local. “Eu sei que não nos conhecemos, mas eu os amo, isso é uma emergência, mas vocês não estão sozinhos, nós temos um ao outro”, falou durante o encontro, sem noticiar o quanto doaria para as famílias.

Lady Gaga se encontrou com bombeiros e entregou alimentos para moradores desabrigados em Malibu (Foto: Reprodução)

Diretos Humanos e política

A protagonista da mais nova versão do longa “A Star is Born” também não deixa de se posicionar politicamente sobre assuntos importantes relacionados aos direitos humanos, sobretudo LGBTI+. Em 2010, ela organizou uma grande manifestação a favor da revogação do “Don’t Ask, Don’t Tell”, política que proibia homossexuais declarados no Exército norte-americano. Em dezembro do mesmo ano, Barack Obama pôs fim à restrição.

Após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA em 2016, Lady Gaga, que á abertamente seguidora do Partido Democrata americano, protestou em frente a Trump Tower, em Nova York. Em cima de um caminhão, ela expressou sua indignação em um cartaz: “Love trumps hate” ou “O amor supera o ódio”, em alusão ao verbo em inglês que se assemelha ao sobrenome do presidente.

Em 2018, Gaga criticou fortemente o governo de Trump por pretender eliminar o reconhecimento da comunidade trans no país por meio de uma revisão na lei federal para definir gênero apenas como sexo biológico. “O governo pode estar vivendo em um universo alternativo, mas nós, como sociedade e cultura, sabemos quem somos e conhecemos a nossa verdade e devemos nos unir e levantar nossas vozes para que possamos educá-los sobre as identidades de gênero”, declarou.

Lady Gaga em protesto contra eleição de Donald Trump, em 2016 (Foto: Reprodução/Instagram)

Porta-voz da comunidade LGBTI+

Não são as músicas que celebram diversidade e autoaceitação e as manifestações citadas acimas que fazem Lady Gaga ser considerada uma porta-voz para LGBTI+. A cantora, que é bissexual, sempre fez questão de conhecer de perto e assistir à população mais vulnerável da comunidade. São inúmeras visitas à instituições de acolhimento. Em 2016, na Inglaterra, fez uma pesquisa em uma ONG para saber as reais necessidades de crianças e jovens abandonados por suas famílias. No mesmo ano, passou o feriado de Ação de Graças em uma entidade de Nova York. “Eu não estou aqui hoje porque eu precisei tirar dolorosamente algum tempo de minha agenda. Estou aqui porque eu quero estar aqui. E estou aqui porque eu quero que isso afete outras pessoas ao redor do mundo”, disse em entrevista ao iHeartRadio.

Os resultados do apoio de Lady Gaga à comunidade LGBTI+ são visíveis, frequentemente, em comentários e cartas enviadas para a cantora, muitas vezes lidas durantes seus shows. Na maioria, jovens relatam que venceram a depressão ou que desistiram do suicídio por conta das letras e do empoderamento da artista. Will Nascimento, um fã brasileiro que escreveu para Gaga se despedindo, recebeu suporte imediato da estrela: “Toda tristeza pode mudar. Mas você precisa trabalhar para isso. Nós precisamos de você. Eu preciso de você”.

Lady Gaga em ONG de Londres, com jovens LGBTI+ abandonados por familiares (Foto: Reprodução/Instagram)
Lady Gaga em ONG de Londres, com jovens LGBTI+ abandonados por familiares (Foto: Reprodução/Instagram)

O festival

No Brasil, a transmissão do “One World: Together at Home” começará no Multishow (na TV e em seu canal no YouTube) e no Globoplay (com sinal aberto no Brasil e nos Estados Unidos), que exibirão o pré-show, ao vivo, a partir das 16h (horário de Brasília). Na sequência, às 21h, ambos os canais exibirão os grandes shows do festival. A TV Globo exibirá o show completo de duas horas logo após o programa Altas Horas.

A efeito comparativo, observando a relevância na indústria fonográfica dos artistas convidados para o “One World: Together at Home”, – teremos Celine Dion, Paul Mccartney, Elthon John, entre outros – o evento desse sábado é uma espécie de Live Aid do século XXI (festival realizado em 1985 para angariar fundos no combate à fome na Etiópia). Difere-se, porém e obviamente, por causa do formato: sem plateia e cada um em sua casa, conforme o recomendado para conter o avanço do coronavírus. Na década de 80, Freddy Mercury, do Queen, fez as doações durante sua apresentação explodirem. Aliás, Gaga e Mercury têm uma importante ligação. O segundo nome artístico da cantora é por conta de um dos grandes sucessos do Queen, a canção Radio Ga Ga.

O primeiro nos remete a outra Lady, a inglesa e também filantropa Lady Di, uma das musas inspiradoras de Gaga, que teria, inclusive, escolhido o nome para homenagear a princesa. Certamente, os passos dados pela premiada norte-americana em sua carreira deixaria a falecida aristocrata orgulhosa. Diana ou Gaga, precisamos urgentemente de mais ladies.

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