Publicado em Sul21 –
Por uma diferença de dois votos, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RS), foi cassado, no final da tarde de terça-feira (14), pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. O placar foi 11 votos a favor e nove contrários. Cunha poderá recorrer da decisão à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e a confirmação da cassação precisa, ainda, ser apreciada pelo plenário e ter o aval de, pelo menos, 257 votos, a maioria simples dos 513 deputados. Os opositores ao peemedebista comemoraram a decisão do Conselho de Ética com aplausos. Um dos votos decisivos a favor do relatório do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que pediu a cassação do mandato do peemedebista, foi de Tia Eron (PRB-BA), que não compareceu na sessão anterior e, na ocasião, era tida como apoiadora de Cunha.
Vários deputados contra e a favor à cassação do presidente afastado da Câmara dos Deputados se revezam no microfone, na tarde desta terça, antes da votação no Conselho de Ética.
Uma das manifestações mais esperadas era, justamente, a da deputada Tia Eron. Ela era considerada o voto decisivo para livrar Cunha da cassação. “Ninguém manda nesta nega aqui. Quero olhar nos olhos de cada um. Os olhos refletem o que a boca não tem coragem de dizer. Eu não fui abduzida”, disse, referindo-se às criticas e ironias recebidas em função da sua ausência na última reunião.
Já o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirmou que esperava que o Conselho de Ética votasse pela cassação de Cunha. Delgado citou documento do procurador Deltan Dallagnol, que afirmou que “os criminosos modernos usam offshores e truste.” Ele criticou, ainda, parlamentares que defendem o presidente afastado. “Não sei o que os move para defender o indefensável. As motivações não são aquilo que move a sociedade brasileira”, frisou o parlamentar.Antes de votar pela cassação nesta terça, a deputada baiana foi adiante e chegou a alfinetar colegas: “Chamaram Tia Eron para resolver o problema que os homens desse conselho não conseguiram resolver. Não era para resolver? Tia Eron vai resolver!” Por fim, ela afirmou que votaria, de acordo com sua consciência.
Muitos deputados se esforçaram na defesa do presidente afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), apesar das denúncias que recaem contra ele. O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), por exemplo, disse que as acusações contra Cunha são desprovidas de provas. “O relator não afirma que o truste é conta. Faz uma série de conjecturas. Truste não é conta. Tanto não há provas que a Polícia Federal fez busca e apreensão em todos os endereços de Eduardo Cunha e não resultou em nada”, argumentou ele.
Segundo Marun, porque Cunha comandou o processo de impeachment, contrariou diversos interesses políticos e financeiros. Ele lembrou do caso do ex-deputado Ibsen Pinheiro (PMDB), que foi cassado e foi comprovada sua inocência. “Será que foi ele (Cunha) que assinou Pasadena? Foi ele que nomeou o presidente da Petrobras? Foi ele o protagonista do mensalão?”, afirmou o parlamentar, alfinetando o governo da presidenta afastada Dilma Rousseff.
Parlamentar gaúcho
O deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), por sua vez, observou que a cassação de Cunha é o desejo da sociedade. “Eduardo Cunha é um político corrupto, que será julgado, condenado e preso. E este conselho tem a chance de se manifestar politicamente”, criticou ele. “Se o resultado não for pela aprovação do relatório, o melhor é extinguir este conselho, pois deixa de ter autoridade política e moral a qualquer outro deputado que vier a infringir a legislação brasileira”, provocou Gomes. Já o deputado Zé Geraldo (PT-PA) afirmou que o Palácio do Planalto tem sido aliado de Eduardo Cunha para proteger o parlamentar no Conselho de Ética. “Não podemos decepcionar os brasileiros. Ele fez ameaças a 150 deputados, mas tenho certeza que ninguém neste conselho se sentiu ameaçado”, disse o deputado.O deputado gaúcho Sérgio Moraes (PTB-RS), mais uma vez, fez uma defesa contundente de Cunha. Ele ponderou que a esposa de Eduardo Cunha “foi acusada de comprar algumas bolsas e sapatos” e fizeram disso um escândalo. Segundo ele, a Globo pagou indenização de R$ 5 milhões a ela por dívidas trabalhistas e questionou se essas compras não poderiam ter sido feitas com esse dinheiro. “Eu não estou na Lava Jato, não tenho medo de delação. Voto como julgador. Não se pode julgar para plateia. Aqui temos que votar com a consciência; se a população ficar contra nós, paciência”, afirmou Moraes, que em certa época disse que estava “se lixando para opinião pública”, referindo-se às suas posições.
*Com informações da assessoria de imprensa da Câmara dos Deputados