Por Luiz Antônio Simas –
Um detalhe curioso sobre a Flip: cantei um pequeno trecho de um ponto de umbanda – um verso apenas – na minha mesa, respondendo a uma pergunta sobre a religiosidade nos subúrbios cariocas. Falei do sincretismo e citei um ponto de Seu Sete da Lira ao lado da Ave Maria; coisa pertinente e ilustrativa da resposta que estava dando. Teve gente gostando, teve gente achando um absurdo. Quero lembrar que o imenso João José Reis leu um trecho do Alcorão na mesma Igreja – ao falar lindamente sobre a Revolta dos Malês – e não houve estranhamento algum. É curioso: versos do Corão, da Bíblia e do Gita (para ficar em três exemplos) são textos sagrados, fontes para entender as histórias de judeus, cristãos, muçulmanos, hindus… Por que pontos de umbanda e candomblé não podem ser considerados da mesma forma? Por que são textos normalmente relegados ao campo dos exotismos, bizarrices e folclores? Não podem ser expressões de fé, maneiras de encantamento do mundo, formas de contato com o mistério de determinadas comunidades e fontes para que conheçamos um pouco mais sobre os grupos que os produzem e a eles atribuem sentidos? Queriam um canto gregoriano pra ilustrar as crenças sincréticas das ruas cariocas? Debaixo deste angu tem caroço.