Por Washington Luiz de Araújo –
1963. Meu pai, empapuçado de tanta vitória, dormia, como uma criança liberada para comer todo o doce do mundo. Lá para o primeiro gol de Pelé ou de Coutinho, já roncava. Minha mãe, acordada. O rádio de pilha dividindo os travesseiros. Três filhos, um com cinco anos, outro com quatro e o mais novo com três. E aquela ladainha nos nossos ouvidos: “balão subindo, balão descendo, cabeça na bolaaaa…” E de repente, o grito de gooooooooooooooolllllllllllllllllllllllllllll. O locutor Fiori Giglioti incendiava o rádio. Meu pai acordava e nem perguntava se era do Santos. Sussurrava para a minha mãe: “de quem?” E voltava a dormir, com um sorriso nos lábios.
Assim, aprendemos a torcer pelo Santos, menos o mais novo, comprado que foi pelo padrinho corinthiano com muito doce e guaraná. A linha Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe para nós era música. Não entendíamos muito de futebol, mas sabíamos de cor estes nomes e sabíamos que o Santos era o melhor.
Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe seria o nome do meu filho se o tivesse. Se fosse mulher? Vila Belmiro.
Este quinteto de ouro me fez uma pessoa otimista. Vi que a vitória é possível, até para garotos pobres como éramos.
Percebi que o mundo poderia ser bom, pois tinha o futebol arte daquele Santos das mil e uma noites.
Adulto, com a criança dentro de mim, tive o prazer de conhecer Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pe…pe. Pelé, ainda não.
Tenho o número do telefone de alguns deles. E me arrepio ainda hoje quando me ligam. Surge a oportunidade agora, com amigos santistas, flamenguistas, palmeirenses e até corintianos de contar em documentário a saga deste quinteto de ouro. A história divina destes cinco homens e um destino. Destino de fazer um mundo feliz.
Sim, sou uma pessoa feliz. Nasci ouvindo um grito de gol que ofuscou o meu primeiro choro. E tive o prazer de conviver com alguns daqueles que abriram as portas do mundo para mim. As portas da felicidade. Sim, meus amigos, um mundo feliz é possível. Obrigado, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
O texto acima foi escrito por mim para o documentário que projetamos sobre a linha de prazer, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O documentário, que teve uma interrupção em seu fazer, mas voltaremos para concluí-lo em breve, tem na direção eu, o grande documentarista José Carlos Asbeg e o publicitário Ricardo Moreira. Fizemos uma primeira entrevista com Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe (Pelé é sempre mais difícil).
Nesta primeira entrevista, contamos com a preciosa colaboração do jornalista e amigo José Carlos Conte.
E, por falar em linha de prazer, ouça aqui a música que leva este nome composta pelo cantor e apaixonado pelo futebol Carlinhos Vergueiro.
Numa das muitas festas que já fizemos para os craques de sempre no Rio de Janeiro, li um texto onde falava das grandes linhas de o Santos Futebol Clube, com ênfase, lógico para o quinteto de ouro. Carlinhos Vergueiro fez o show da festa.
Poucos dias depois,, recebo um telefonema. Era Maísa, a produtora e esposa de Carlinhos, minha grande amiga. Maísa passou o telefone para o Carlinhos que nada falou, só cantou esta música, feita pelo grande artista para as grandes linhas do nosso passado que teimam, felizmente, em viver nos nossos presentes:
Recentemente, estive em Santos, com os amigos profissionais da Comunicação, Ricardo Moreira e Claudio Lovato. Lá, nas redondezas da Vila Belmiro, foram nos receber Dorval, Mengálvio e Coutinho. Vejam as fotos.