Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
Causou certo escândalo no distante 2 de abril de 2016 o vídeo “Delação”, do pessoal do Porta dos Fundos. Distante porque aconteceu muita coisa depois daquela gravação em que Gregório Duvivier, vivendo um delegado da Polícia Federal, e Fabio Porchat, no papel de um deputado preso na operação Lava-Jato, mostraram na base do humor o que grande parte da opinião pública, principalmente nas redes sociais, vem constatando sobre as delações premiadas seletivas. Seletivas na origem, quando o “não vem ao caso” virou jargão para tipificar os interrogatórios em que são citados dirigentes do PSDB, e seletivas nos vazamentos ilegais, entregues de bandeja à grande imprensa reacionária e que podem ser “filtrados” antes de chegarem às redações e “peneirados” para sua veiculação.
O humor do Porta dos Fundos causou mal estar para aqueles que fecham os olhos à seletividade das denúncias. Mesmo assim, neste momento em que escrevo este texto, constato que 6.678.937 acessos já são computados ao vídeo. Ou seja, já beira os sete milhões de visualizações.
Mas o vídeo “viralizou” também nas mídias digitais daqueles que cobram uma justiça justa, perdoem o pleonasmo. Como viralizou o áudio do senador Romero Jucá, vazado na “Folha de S. Paulo” em 23 de abril último. Entendendo que estava num campo seguro, o então ministro do planejamento do governo golpista deixou claro que foi planejada a queda de Dilma, que nada teve a ver com a história das tais “pedaladas”, e afirmou que o empresário Marcelo Odebrecht, preso na Lava-Jato, faria uma delação (“Seletiva, mas vai fazer!”).
Agora, no blog Brasil 247, leio que “para o MP (Ministério Público), delação da OAS só vale se for contra Lula”. Reportando-se a texto da “Folha de S. Paulo” que, num arroubo de marketing, tenta lavar as calças sujas pelos dejetos do golpismo e informa: “Delação premiada de ex-presidente da OAS trava após executivo inocentar Lula”. É isso mesmo: o empresário Leo Pinheiro não aceitou o prato pronto oferecido pelos membros da Lava-Jato, se recusando a vender a cabeça de Lula numa bandeja.
Sendo assim, o “não vem ao caso” volta à baila, e o executivo da OAS deve continuar trancafiado. Portanto, aqueles que se indignaram com o humor constatador do pessoal do Porta dos Fundos têm a oportunidade de raciocinar em cima dos fatos apresentados nesta tragédia em que se tornou a política brasileira. Tragédia na qual vazamento ilegal e seletivo de delações premiadas de igual teor leva milhares às ruas exigindo que o pleonasmo seja cumprido: que a justiça seja justa.