Partido ‘Chega’, que há dois anos obteve 7% dos votos, já aparece com mais de 21% e está a poucos passos de empatar com o PS, de centro-esquerda, e o PDS, de centro-direita
Por Henrique Rodrigues, compartilhado de Fórum
No ano em que se comemoram os 50 anos da Revolução dos Cravos, o movimento que colocou abaixo a mais longeva ditadura do Ocidente no século XX, pondo fim ao regime fascista implantado por António de Oliveira Salazar, Portugal está muito próximo de ter um inferno próprio para chamar de seu. O Chega, partido de extrema direita que já fazia muito barulho nos últimos anos e que em 2022 obteve 7% dos votos, agora, na última sondagem para a eleição de 10 de março, explodiu e atingiu 21% da preferência do eleitorado.
Um forte crescimento dos extremistas liderados por André Ventura já vinha sendo detectado em sondagens mais recentes, como uma realizada pela Euronews/Sol, que mostrava os radicais reacionários com 17,5% há dez dias. Agora, o levantamento do Iscte/ICS, realizado sob encomenda para a emissora SIC e o jornal Expresso, mostra a legenda de extrema direita com mais de 21% das intenções de voto.
Para se ter uma ideia do tamanho do drama em que o pequeno país europeu pode estar se enfiando, o PS (Partido Socialista), de centro esquerda, segue à frente na disputa, com 29%, enquanto o PSD (Partido Social Democrata), de centro-direita, vem logo atrás em empate técnico, com 27%. O problema é que este último está em viés de baixa após um grande escândalo de corrupção envolvendo o chefe do Executivo da região da Ilha da Madeira, que o derrubou do cargo. O PS, agora liderado por Pedro Nuno Santos, e que há dois anos obteve 41% dos votos dos portugueses, vencendo a eleição por maioria absoluta, já desidratou bastante e não parece ter fôlego para uma nova arrancada. Há ainda mais de um mês de campanha pela frente e o Chega cresce usando as táticas criminosas e sujas de outros movimentos parecidos, como o trumpismo nos EUA e o bolsonarismo no Brasil.
Diante desses números, matematicamente é quase certo que a Assembleia da República terá uma maioria de direita, já que a somatória do PSD com o Chega ficará à frente de uma coalizão que eventualmente seja composta pelo PS e outros partidos de esquerda. A grande dúvida, agora, é saber se os direitistas tradicionais, liderados por Luís Montenegro, vão optar por se juntarem aos extremistas sob a batuta de André Ventura. Até poucos dias, a maioria dos eleitores desse espectro político, que vai do centro à extrema direita, dizia-se contrária a tal ideia para a formação de um novo governo.