Por Claudio Lovato, jornalista e escritor para o Bem Blogado –
A lesão foi séria e aconteceu quando ele estava chegando ao auge da carreira.
(Um dos auges, pois ele teria vários. Naquele momento, porém, ele não sabia disso; não tinha como saber.)
Ele rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito. Prendeu o pé numa saliência do gramado que ele conhecia desde a infância. Sete meses parado.
Sete meses parado quando se tem 23 anos e se está chegando ao ápice não é coisa fácil de enfrentar; não é qualquer um que aguenta um tranco desses sem deixar a cabeça vacilar, o coração descompassar, a frustração irromper.
Mas não foi assim com ele.
Isso porque:
Fraquejar não fazia parte da natureza dele.
A família o fez sentir-se (e ser) a pessoa mais amada do mundo, e isso, acredite, teve um poder extraordinário nesta história toda.
Os amigos estavam sempre com ele, e não o deixaram esmorecer um segundo sequer.
Vários desconhecidos, que eram amigos de amigos, e amigos de familiares, integraram-se a uma corrente que já nasceu grande e forte e que se tornou imensa e invencível; uma rede que não surgiu do acaso, mas que foi resultado de tudo o que ele plantou e cultivou e defendeu e proporcionou ao longo da vida.
Depois disso vieram a recuperação, várias taças na prateleira e a idolatria sem fim da torcida do único clube pelo qual havia jogado, o clube tricolor pelo qual alimenta uma paixão impossível de ser quantificada, como todas as paixões dignas desse nome.
Hoje, quando lhe pedem, em entrevistas ou em bate-papos informais, para falar da lesão e do período em que esteve fora dos gramados, ele diz, em um tom brincalhão que é muito seu: “Foi a minha pré-temporada mais foda e mais importante”.E então todos riem, e ele também, mas o significado disso ele sabe que é sério: aquele período no hospital e depois em casa, recuperando-se da lesão, o tornou mais preparado não apenas para enfrentar os desafios da sua profissão, do mundo da bola – não. Aquilo o fez mais forte e mais sábio para encarar as coisas do mundo, as coisas da vida.
Naquele período – que não foi fácil, não, senhor; que não foi nada fácil –, ele se tornou uma pessoa mais resistente e fez mais resistentes todos aqueles que estiveram e continuam ao seu lado, os familiares, os amigos e até os que, um dia, eram desconhecidose logo passarama fazer parte de uma enorme e inspiradora reunião de pessoas que viam e veem nele a coragem, o otimismo e a fé sem o que a vida é pouco mais que uma traiçoeira sequência de saliências no gramado.