Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Desde a vergonhosa omissão no segundo turno presidencial de 2018, existe uma obsessão de, muito mais do que combater a extrema-direita, atacar PT, Lula e petistas. O raciocínio de Ciro é claro e até justificável, do ponto de vista de quem entende a Política como projeto pessoal: só eliminando a hegemonia de Lula e PT nas esquerdas ele terá chance de concorrer com chances em 2022 na corrida pelo Planalto, objetivo único de sua vida política.
O campo progressista sofreu uma derrota imensa nas eleições gerais de outubro de 2018. O revés não se restringiu à disputa presidencial, mas se espalhou como praga daninha na maioria dos Estados e na composição lamentável desse Congresso que está aí estraçalhando com o pouco que tínhamos de direitos sociais. O momento ainda é de reconstrução e resistência, as ruas sem muita gente e Ciro Gomes, bem, Ciro Gomes, tenta surtar no antipetismo que elegeu Bolsonaro.
Existe uma ala do petismo, a fanática, que sempre foi sectária em relação a Ciro, esquecendo-se que o atual pedetista sempre colaborou com os governos Lula e Dilma. Mas está difícil, na verdade impossível, defender Ciro atualmente.
Desde a vergonhosa omissão no segundo turno presidencial de 2018, existe uma obsessão de, muito mais do que combater a extrema-direita, atacar PT, Lula e petistas.
O raciocínio de Ciro é claro e até justificável, do ponto de vista de quem entende a Política como projeto pessoal: só eliminando a hegemonia de Lula e PT nas esquerdas ele terá chance de concorrer com chances em 2022 na corrida pelo Planalto, objetivo único de sua vida política.
Ciro nunca ultrapassou os 12% de votos em todas as vezes que tentou a Presidência da República. Mas acha, parece, que tem o direito divino de ganhar o pleito, não importa que para isso ataque aliados.
A jogada atual, claríssima, é tentar se cacifar nas áreas conservadoras com o esporte de atacar Lula e, ao mesmo tempo, se cacifar como único representante das esquerdas com legitimidade.
Convenhamos, é uma tarefa que exige dons celestiais para ser cumprida. Servir a dois Deuses… É um caso raro de irresponsabilidade política o caminho trilhado por Ciro.
Os direitos sociais sendo esbulhados, a grande mídia reproduzindo os interesses da elite econômica, o Judiciário acocorado, o bolsonarismo em cruzada medieval nos costumes e o adversário é… Lula.
Embora improvável, não se descarta que, dada a balbúrdia política instalada desde janeiro último, Ciro Gomes consiga se cacifar eleitoralmente e fugir do casamento firme e duradouro com os 12% das preferências da população. Mas, na hipótese muito remota de isso virar realidade, não será das esquerdas que ele será candidato.
Até lá, o caminho construído a foice deixará feridas incuráveis. O lado péssimo de tudo isso é que setores do PT, como é o caso de governador da Bahia, estão dando gás a uma mentira que alimenta o tom belicoso de Ciro: a de que se os petistas o tivessem apoiado em 2018, ele teria derrotado Bolsonaro.
O que se propõe nessa inverdade é mais ou menos o seguinte: “Eu tenho duas vezes e meia mais votos do que você, mas vou apoiá-lo”. Piada, não?
O PT era no ano passado, e continua a ser, a legenda com mais capilaridade no Brasil. Que garantia alguém teria que a massa de simpatizantes ou eleitores lulistas aceitaram apoiar um candidato como Ciro? Ou mesmo que se engajariam com entusiasmo na campanha de quem, desde o ano passado, tentou manter distância do cárcere a que foi submetido injustamente Lula?
A situação foi posta por Ciro e faltando mais de três anos de uma nova disputa presidencial, já é evidente que não haverá unidade no campo das esquerdas em 2022.
Hoje é cabível até se perguntar se Ciro, na obsessão de discursar para o antipetismo, tem interesse em permanecer no campo progressista.
Tudo, no fundo, embora possamos lamentar, é direito do eterno candidato presidencial. Mas é cabível também constatar que, infelizmente, o interesse pessoal (o PDT, convenhamos, é uma salada sem nenhum corte ideológico) esteja impedindo a unidade para combater um governo de extrema-direita que é motivo de chacota mas que está conseguindo destroçar o presente e inviabilizar o futuro da maioria pobre dos brasileiros.