Precisamos falar de sindicalismo

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

O tema é meio que mexer em vespeiro. Melhor, pois, colocar algumas liminares. O fenômeno não é brasileiro apenas, sabe-se que em época de desemprego alarmante historicamente a atividade sindical mobilizadora enfrenta dificuldade maior, que o Brasil vive um cerco talvez inédito contra direitos sociais duramente conquistados e que o pouco (sejamos sinceros) de resistência a essa chacina vem basicamente do esforço de entidades sindicais.

Dito o acima, é preciso reconhecer que diminuiu muito o peso dos sindicatos na vida política brasileira. Imagina-se que o próprio meio sindical e a parte da Academia com compromissos com os trabalhadores estejam debruçados sobre as causas e, mais importante, tentando encontrar saídas para superação do problema.




De qualquer maneira, existem algumas pistas claras. Recorrendo ao conselheiro Acácio, o Brasil atual é diferente do final das décadas de 70 e 80, quando os trabalhadores do ABC, principalmente, tomaram a dianteira no enfrentamento da ditadura política e econômica. Mudou quase tudo, com a exceção certeira da dominação de classe. O crescimento do setor de serviços, a diminuição da área industrial, a automação e outros pontos exigem a readequação do discurso sindical.

As relações de produção são diferentes, e aqui nem se fala na terceirização, que era quase inexistente décadas atrás. Há uma nova geração de trabalhadores que nasceu e cresceu em um país sem ditadura política e, graças basicamente ao governo Lula, com mais acessos à cidadania e com menos restrições ao consumo, que era impossível para seus pais.

Muitos filhos de trabalhadores industrias e, em bem menor escala, dos que labutavam em áreas rurais migraram para outros setores. A Revolução Tecnológica afetou e atraiu ao mesmo tempo famílias com convivência sindical, ou participativa ou simpatizante. Simultaneamente também, robotização e modificações fabris que diminuíram o emprego tradicional quase que dinamitaram a “reserva ideológica” de mercado para o sindicalismo.

Houve um envelhecimento etário no sindicalismo brasileiro. Basta, sem nenhuma aferição científica, observar o número expressivo de “cabeças brancas” nas caravanas sindicais que participam de atos contra a cleptocracia de Temer. Há jovens ali, é verdade, mas também é evidente que o percentual já foi maior.

Há também, e aí é uma derrota das esquerdas, o escancarado avanço do discurso da meritocracia fajuta entre os explorados. A Fundação Perseu Abramo fez recentemente um trabalho relevante sobre o tema, lastreando-se nas eleições municipais de São Paulo de 2016. A fraude do “João Trabalhador” perpetrada por Doria chegou à periferia e não deve ser atribuída, sob risco de superficialidade na análise, apenas ao desgaste do Partido dos Trabalhadores, acossado nos últimos anos por campanha incessante na grande mídia e, também, por equívocos próprios. Doria não venceu apenas com os votos das classes alta e média.

A questão da meritocracia de araque entrou mesmo em parcela grande das famílias de trabalhadores e esse embate não poderá ser ignorado pelas esquerdas. A negação pura e simples não resolve. Pregar para convertidos não mudará nada. Mostrar no cotidiano das pessoas a injustiça social e a falácia do “subir na vida só depende de nós” talvez seja uma alternativa ao discurso avassalador da grande mídia, que transforma casos excepcionais de sucesso em empreendedorismo como norma, o que sabemos ser mentira. Um outro talvez que está escapando pelos dedos é a da batalha contra as mudanças na Previdência. Não existe dado mais concreto nas vidas das famílias do que roubar a aposentadoria de quem trabalhou duro.

Enfim, é um campo aberto para reflexão sobre a época que mudou e que exige novos métodos. Por mais que a causa os uma, é constrangedor ver a impaciência de trabalhadores jovens e estudantes com o discurso gritado e de chavões distantes deles quando a maioria de sindicalistas toma a palavra em manifestações contra Temer. Chato dizer isso? É mesmo, mas é verdade. Combater o desmonte social promovido pela quadrilha é prioritário sempre, mas está também como tarefa, nas horas vagas, pensar em como manter o papel político do sindicalismo em tempos diferentes.

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