Não precisa ser muito inteligente para saber o que vai acontecer com a decisão da Prefeitura de São Paulo em retirar na marra as barracas dos moradores de rua. Trata-se de uma política higienista, de estilo fascista, que deverá certamente conflagrar a região central da cidade, onde “residem” a maioria daqueles que o sistema marginalizou, abandonados pelo mercado de trabalho, pelas famílias, pelo poder público e muitos deles atraídos pelo álcool e pelas drogas.
Por Simão Zygband, compartilhado de Construir Resistência
Estarão ainda mais fragilizados, como se já não vivessem as maiores dificuldades humanas, mesmo possuindo um teto plástico para se abrigar do frio, das chuvas e das intempéries do tempo.
Insensata a decisão do cruel prefeito Ricardo Nunes que decidiu retirá-los na porrada, sem oferecer nenhuma outra alternativa para abriga-los, a não ser as já escassas vagas em albergues de péssima qualidade. De acordo com o último levantamento realizado em fevereiro, são 52 mil pessoas que moram em situação de rua na Capital, mas o número de leitos para eles não passa de 17 mil. Onde ficarão as 35 mil restantes? Onde o prefeito direitista, apoiador do genocida Jair Bolsonaro, colocará mulheres, crianças, jovens, idosos, homens quer não possuem sequer um teto para se abrigar?
Em sua homilia realizada neste Domingo de Ramos, o padre Júlio Lancelotti, autor da liminar, junto com o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que em fevereiro impediu a remoção das barracas, criticou a prefeitura, que conseguiu derrubar na Justiça o entrave jurídico. Ele lembrou a crueldade de se fazer este ataque contra os pobres exatamente na Semana Santa, onde a Campanha da Fraternidade é “Fraternidade e Fome” com o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Os despejos intensificarão a fome e a miséria na cidade.
“Eu queria fazer um apelo e um pedido ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Não obedeça ordens injustas. Não tirem as barracas do povo que está pelas ruas da cidade. Tenha consciência pautada pela ética e por Jesus. Não tenha a consciência pautada pelos interesses dos poderosos, que querem higienizar a cidade pensando que acabam com a pobreza escondendo os pobres. Não esconda os pobres. Seja irmão deles. Não esconda os que estão nas barracas. Construa casas para todos eles. Dê as respostas para todos eles. Ninguém quer que as pessoas fiquem em barracas. Que todos tenha casa. Ninguém quer, nem a Pastoral de Rua quer que a população fique na rua. Não sejam indiferentes. Não abandonem Jesus. Não mandem tirar as barracas como forma de higienização e de respeito a uma lei, que quando tinha liminar, não foi obedecida. E agora a Prefeitura quer obedecer a lei. Mas quando saiu a liminar, não obedeceu, e continuou tirando o que as pessoas tem como último recurso e proteção, uma coberta, um colchão, o documento, o alimento, o remédio. Não abandonem Jesus. Tenham a certeza que toda a barraca que vocês tirarem ou derrubarem tem um nome. E o nome é Jesus”.