Prefeito de SP veta mudar nome de praça que homenageia ministro da ditadura
Da coluna da Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo, compartilhado de Construir Resistência
Projeto sugeria nome do cronista Lourenço Carlos Diaféria, que foi preso após criticar regime
O prefeito de SP, Ricardo Nunes (MDB), vetou um projeto de lei que alterava o nome da praça ministro Alfredo Buzaid, localizada no Itaim Bibi, para praça Lourenço Carlos Diaféria. O espaço hoje homenageia o ministro que ocupou a pasta da Justiça durante o governo Médici, na ditadura militar (1964-1985).
LINHA DURA
Buzaid também é lembrado por seu apoio ao AI-5, ato institucional que inaugurou o período mais repressor do regime. No lugar de seu nome, o vereador Eliseu Gabriel (PSB) propôs que o espaço homenageasse Diaféria, escritor que foi preso pelos militares após criticá-los em coluna publicada na Folha.
FICHA
Em seu veto, Nunes diz reconhecer a iniciativa, mas afirma que a mudança de nome de vias e logradouros públicos só é possível se a autoridade for condenada por crimes de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos. Não é o caso de Alfredo Buzaid, afirma o prefeito.
NADA VI
O chefe do Executivo ainda diz que o nome do cronista não consta no banco de referências em direitos humanos para nomeação de logradouros —embora Diaféria já tenha sido agraciado com o Prêmio Vladimir Herzog, dedicado ao tema.
PESOS IGUAIS
O veto frustrou a família de Diaféria. “Sinto que atravessamos um momento em que não se diferencia uma ditadura de uma democracia, e a manutenção da democracia pressupõe a luta pela preservação da memória de quem lutou para conquistá-la”, afirma a psicóloga Celina Diaféria, filha do cronista.
GESTOS
A prisão do escritor ocorreu em 1977, após a publicação do texto “Herói. Morto. Nós”, em que criticava o patrono do Exército, Duque de Caxias. “O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal”, escreveu. Em protesto contra sua prisão, a Folha publicou o espaço da coluna em branco.
Nota da Redação: o vereador reeleito Eliseu Gabriel (PSB) empenhou-se na aprovação do Projeto de Lei que trocava o nome da praça com o nome do ministro da ditadura, Alfredo Buzaid, para cronista Lourenço Diaféria.
O projeto foi aprovado com empenho do vereador, que convenceu vereadores, inclusive da base de Ricardo Nunes a votar favoravelmente, reconhecendo a justiça da homenagem.
O projeto foi vetado quando sancionado pelo prefeito Ricardo Nunes que alegou que “não havia nada que desabonasse Alfredo Buzaid “.
Buzaid foi idealizador do Ato Institucional número 5 (AI-5) que concedeu aos militares as condições jurídicas de endurecimento do regime, possibilitando o fechamento do Congresso Nacional e garantindo o fim das garantias individuais, proibindo aglomerações, a organização em sindicatos e realizando a censura aos jornais, rádios e TVs.
O PL de Eliseu Gabriel se baseava em lei federal de substituição do nome de pessoas ligadas à ditadura em espaços e equipamentos públicos.
O vereador conseguiu trocar o nome do elevado Costa e Silva por João Goulart. A homenagem à Lourenço Diaféria seguiria a mesma interpretação.