Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Facebook Vespeiro News –
Preliminar: trabalhei, na Folha, durante um tempo razoável com o jornalista Reinaldo Azevedo. Faz tempo, Reinaldo era um de nós, longe da quase celebridade que se tornaria mais tarde. Faz tanto tempo que, à época, ele normalmente defendia, nas conversas de Redação, posições mais à esquerda que as o gerente aqui. Era um colega correto, sempre bem-humorado e já de texto primoroso, que só melhorou com o passar dos anos. Contingências profissionais e políticas nos afastaram e nunca mais tive contato com Reinaldo. De longe, acompanhei seu deslocamento para a defesa do conservadorismo e uma assustadora aproximação com grupos antidemocráticos na luta que levou o golpe contra Dilma. Pelo convívio fraterno anterior, jamais citei seu nome aqui no boteco, com uma única exceção, quando ele foi atacado de forma covarde pela Lava Jato, que vazou conversas dele no exercício de seu ofício.
Vencida a preliminar, é conhecida por quase todos a antipatia de Reinaldo pelos protagonistas da Lava Jato. Foi desde sempre uma das vozes que classificam a condenação de Lula como fruto de uma acusação “sem provas”. Pois bem, imagino que essa quase militância do jornalista contra os abusos de Conje e Corja tenha facilitado a aproximação dele com o Intercept e ele foi o primeiro, fora do site que detém as informações, que recebeu um trecho do material em mãos do site de Gleen. Isso está provocando, há dois dias já, manifestações de ciumeira de sites e blogs de esquerda, que relembram o papel importante de Reinaldo Azevedo na criação do clima de ódio que marcou a perseguição a Lula e ao PT. Mas há na dor de corno um elemento político que considero equivocado.
É evidente que sozinhas as esquerdas não conseguirão derrotar os criminosos curitibanos que rasgaram a Constituição e transformaram o Brasil nessa vergonha atual. Muita gente ainda considera heróis os jecas aloprados comandados por Dr. Conje . Reinaldo fala, chuto, para uma parcela que ainda enxerga na Lava Jato uma usina de virtudes. Não há sentido em atacar agora quem está abraçando um ponto do campo democrático. Ele é conservador, defende os pontos clássicos da direita convencional?: Sim. Mas hoje é parte quase solitária na grande mídia que tem coragem de enfrentar a ignorância ainda majoritária. E, registre-se, nunca foi fascista. Prefiro Reinaldo Azevedo defendendo a legalidade do que a pior versão da direita no jornalismo, a do jurista Merval Pereira. A sit2uação sinstitucional do Brasil não permite a burrice do sectarismo.