Compartilhado de Jornal GGN –
A história recente demonstra rápido avanço da mulher na ciência, porém, luta pela igualdade de oportunidades deve continuar. Veja o que dizem professoras e pesquisadoras da USP
O destaque desta semana tem sido as mulheres vencedoras do Prêmio Nobel, com Emmanuelle Charpentier, francesa, e Jennifer Doudna, norte-americana, no Nobel de Química, Andrea Ghez, astrônoma estadunidense, no Nobel de Física, e Louise Glück, poeta americana, no Nobel de Literatura. O Jornal da USP no Ar conversa com Natália Pasternak, microbiologista e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e diretora do Instituto Questão de Ciência, sobre a importância das mulheres na ciência.
Natália compartilha que a premiação do Nobel de Química evidencia a importância da ciência feita pela curiosidade, sem fins comerciais, ao estudar como as bactérias se defendem de vírus. “O Nobel de Química para mim foi duplamente gratificante, porque, além de serem duas mulheres fantásticas, é um trabalho da minha área, um trabalho que vem da pesquisa básica em genética de bactérias, mostrando mais uma vez a importância da pesquisa básica, que é aquela movida pela curiosidade, mostrar como as coisas funcionam sem pensar em uma aplicação comercial.”
Com a pandemia, a ciência ganhou destaque em 2020. Com os cortes no orçamento de pesquisas realizados pelo atual governo, Natália avalia que, mais do que nunca, é importante trazer como a ciência atua na busca por soluções na nossa sociedade: “Essas premiações são muito importantes para a gente voltar para a realidade e dizer como a ciência é importante para o desenvolvimento das tecnologias e da própria sociedade moderna e a gente não vai conseguir fazer isso sem financiamento, sem as universidades e sem os institutos de pesquisa”.
Sobre a participação das mulheres na ciência, Natália compartilha que a “representatividade é essencial para que todas as pessoas saibam que também podem chegar lá”, referindo-se a meninas e jovens mulheres que almejam a profissão. Natália avalia que há poucas mulheres ganhadoras do Prêmio Nobel na história por dois motivos principais: o mercado de trabalho até 60 anos atrás estava fechado como um todo para as mulheres, ainda mais na área da ciência. “Uma maneira de olhar isso é olhar o que fizemos em 60 anos. A gente conquistou o mercado de trabalho e a gente já está ganhando Nobel. É isso que as mulheres fizeram em pouco tempo e vão fazer muito mais.“
A outra questão está relacionada ao machismo institucional, que ainda é muito forte em vários países pelo mundo. “É muito importante que a gente entenda que o movimento feminista, que luta pela igualdade de direitos das mulheres, tem que continuar, ele ainda não acabou. A realidade de São Paulo, Nova York ou Londres não é a mesma realidade de muitos outros países e a gente precisa continuar lutando para que a mulher tenha seu destaque e tenha oportunidades iguais.”
Veja mais algumas opiniões de professoras e cientistas da Universidade de São Paulo sobre o assunto:
Mayana Zatz, professora do Instituto de Biociências da USP e coordenadora do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células Tronco
ACREDITO QUE COM CONDIÇÕES CADA VEZ MELHORES NO CAMPO CIENTÍFICO, VAMOS AUMENTAR, SIM, NOSSA REPRESENTATIVIDADE COMO GANHADORAS DO PRÊMIO NOBEL, DESDE QUE HAJA, CLARO, INVESTIMENTO PARA AS PESQUISAS”
NINA RANIERI, PROFESSORA DA FACULDADE DE DIREITO DA USP
É UM MARCO EXTREMAMENTE IMPORTANTE PARA AS MULHERES NA CIÊNCIA. A REPRESENTATIVIDADE FEMININA É ESSENCIAL PARA INCENTIVAR NOSSAS JOVENS A SEGUIR CARREIRAS NA CIÊNCIA. ELAS PRECISAM VER MULHERES OCUPANDO POSIÇÕES DE DESTAQUE, GANHANDO PRÊMIO, FAZENDO DESCOBERTAS QUE REVOLUCIONAM O MUNDO, COMO ESSAS MULHERES QUE FORAM LAUREADAS ESTA SEMANA COM O PRÊMIO NOBEL”
ANA CARLA BLIACHERIENE, PROFESSORA DA ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES DA USP
ESSE TIPO DE RECONHECIMENTO [DO PRÊMIO NOBEL], PERANTE A SOCIEDADE CIENTÍFICA, É EXTREMAMENTE BENÉFICO PARA DEIXAR CLARO QUE MULHERES POSSUEM EXATAMENTE AS MESMAS CAPACIDADES INTELECTUAIS DO QUE OS HOMENS, O QUE PARECE SER ÓBVIO, MAS NEM SEMPRE VIVIDO NOS AMBIENTES ACADÊMICOS E DE TRABALHO”
DEISY VENTURA, PROFESSORA DA FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DA USP
AS MULHERES QUE CHEGAM A ESSES LOCAIS E POSTOS DE DESTAQUE PRECISAM LUTAR PARA QUE TODAS AS MULHERES TENHAM IGUALDADE E OPORTUNIDADES, PARA QUE AÇÕES AFIRMATIVAS SEJAM FEITAS, PARA QUE A DISCRIMINAÇÃO ENTRE AS MULHERES SEJA COMBATIDA COMO UMA PRIORIDADE”
Ouça o programa aqui.