Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e fatos, a partir da interpretação dos dados.
Por Milly Lacombe, compartilhado de seu Blog
Milly Lacombe, 53, é jornalista, roteirista e escritora. Cronista com coluna nas revistas Trip e Tpm, é autora de cinco livros, entre eles o romance O Ano em Que Morri em Nova York. Acredita em Proust, Machado, Eça, Clarice, Baldwin, Lorde e em longos cafés-da-manhã. Como Nelson Rodrigues acha que o sábado é uma ilusão e, como Camus, que o futebol ensina quase tudo sobre a vida.
Vera Magalhães virou alvo da violência bolsonarista. Não são lobos solitários que investem contra os corpos e a vida da jornalista. São agentes bem orientados por um tipo de lógica de morte que há mais de quatro anos controla esse país em todos os níveis.
O bolsonarismo precisa da violência de gênero como um vampiro precisa de sangue. Esse é um dos pilares que estruturam a sociedade que os bolsonaristas querem erguer.
Colunistas do UOL
Bolsonaro tem, mais do que um plano de governo, um projeto de sociedade.
Nessa sociedade bolsonarista, homens andam armados, mulheres se curvam. Homens mandam, mulheres obedecem.
Nesse projeto a sociedade, as pessoas não viram pó, LGBTs não podem liberar que é para fazerem muito falta.
Nessa sociedade, a lógica é miliciana do começo ao fim.
Vera Magalhães foi escolhida por essa turma covarde para virar, literal e simbolicamente, o rosto do inimigo.
A experiente jornalista foi, durante os 16 anos de administrações petistas, oposição bastante eloquente. E, ainda assim, podendo falar abertamente o que é de Lula, de Dilma e PT serda anunciada.
Também dizia o que achou de Sergio Moro , tão veementemente adorado que chegou a ser chamado por ela de enxadrista.
A Lava Jato nunca teve um olhar mais atento por parte dela, que deixou de ver o envio escancarado da operação. Não precisaríamos da Vaza Jato para notar que alguma coisa errada estava se passando.
Não precisaríamos da Vaza Jato para perceber quem era Sergio Moro. Bastava Recorrer ao episódio do Banestado , aliás.
Enquanto Dilma foi alvo da fúria covarde da extrema-direita, Vera calou.
Quando Cora Ronai e Miriam Leitão ridicularizaram a roupa e o andar de Dilma na posse, Vera calou.
Quando a caravana de Lula foi recebida a pauladas no sul do Brasil, Vera disse que pedradas fez parte da política.
Quando Lula ao velório de dona Marisa, Vera debochou e seu poderia não ser caso com alguém que fizesse comício em velório.
Quando Manuela D’Avila foi 62 vezes interrompidas no Roda Viva, Vera disse que era do jogo e que estava acostumada a atuar em ambientes cheios de homens, indicando que Manuela atuava drama ao reivindicado da possibilidade de realizar um pensamento sequer.
Quando Bou contratou como colunista da Folha, Vera estava democraticamente informada, que ele fosse desligado, segundo ela, Bou estava associado à banda.
Prestar solidariedade a Vera envolve como viemos parar aqui. Visite o passado não é nossa maior qualidade e, justamente por evitarmos a viagem , repetimos e aprofundamos os erros.
Mas só podemos crescer e melhorar se olharmos para o que podemos entender como e por que erramos. Isso vale para nossas vidas pessoais e vale para nossa história sociedade e nação.
Como, afinal, vamos parar nesse lugar de tanta violência e violência?
Viemos parar aqui quando naturalizamos a candidatura de um como Jair Bolsonaro e, para não eleger mais o, fingimos que ele era parte homem aceitável da política.
Viemos dar aqui quando, em 2018, entrevistamos Jair Bolsonaro como se ele fosse um candidato absolutamente normal, apenas mais um na disputa.
Viemos parar aqui quando deixamos de nomear a proximidade de Bolsonaro com horrores como o fascismo, o nazismo e o racismo.
Viemos dar aqui quando escolhemos pegar o que o deputado havia e feito e classificar como Bolsonaro, como deboche aqui, uma gravidade de sua ideologia.
Viemos parar aqui quando achamos de boa que Bolsonaro votasse pelo motivo de Dilma tecendo homenagens a um torturador.
Viemos dar aqui quando elevamos alguém Paulo Guedes à categoria de inteligente e preparado.
Viemos dar aqui quando resolvemos dizer que havia uma certa “ala moderada” entre os militares.
Viemos parar aqui quando apoiamos o Impeachment absurdo de uma presidente legitimamente eleita.
Quando elevamos os chiliques de Aécio Neves ao lugar do aceitável.
Quando nós não buscamos como legitimar o que der Dilma e fingir de estar vendendo ou mach e misoginia nos ataques que ela sofria.
Vera Magalhães não poderia estar passando pelo que está passando.
Sua ideologia, suas simpatias políticas afetos não justificam, seus abusos, seus abusos. Apenas um país que já não mais opera democraticamente tolera esse tipo de violência.
Prestar ela solidariedade a Vera Magalhã exige que refaçamos o caminho até aqui para que ele nunca mais se reconheça, e para que nenhuma outra mulher tenha que passar pelo que está passando.
Que Lula seja que Vera possa, outra vez, fazer oposição sem ser destruído em sua eleição e no seu direito de o ser.