Previsão de cheia histórica bota Amazonas em alerta

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Por Amazônia Real, compartilhado de Projeto Colabora – 

Nível do Rio Amazonas e seus afluentes está subindo rapidamente e cidades como Manaus, Manacapuru e Itacoatiara devem enfrentar inundações recordes

Mulher navega em pequena embarcação pelo Rio Negro, já acima da cota de inundação: cheias no Amazonas ameaçam Manaus (ao fundo) e outras cidades (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)

Fábio Pontes*




Rio Branco (AC) – Os sinais de alerta são claros: o Amazonas enfrentará cheias históricas em 2021. Eles já são visíveis na bacia amazônica. Com as chuvas acima da média desde o início do ano, provocadas sobretudo pelo fenômeno La Niña (esfriamento do Oceano Pacífico), 12 dos 13 municípios das calhas dos rios Juruá e Purus, no sul do Estado, decretaram situação de emergência. Mais de 100 mil pessoas – entre comunidades ribeirinhas e urbanas – foram afetadas pelas enchentes.

O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) emitiu boletim para que Manaus e os municípios de Manacapuru e Itacoatiara se prepararem para as cheias entre junho e julho. Na capital amazonense, onde a medição no rio Negro é feita no porto desde 1902, a CPRM projeta que será ultrapassada a marca de 29 metros. Seis das dez grandes enchentes do Negro ocorreram nos últimos dez anos.

Na sexta-feira (9), o nível do rio Negro, em Manaus, chegou a 27,75 metros, ultrapassando a cota de inundação, que é uma das cotas de referência utilizadas pelo Sistema de Alerta Hidrológico da CPRM; o Serviço Geológico do Brasil mantém a sigla antiga do órgão, que significa Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Na capital amazonense, a cota de inundação é de 27,05. Outro município que também já alcançou a cota de inundação é Manacapuru (a 98 Km de Manaus), no Médio Solimões. Itacoatiara (a 270 Km de Manaus) está em cota de alerta.

É normal e é esperado que os rios tenham esse processo de enchente e de vazante ao longo dos anos. Mas há um detalhe importante: os eventos estão cada vez mais extremos não só em magnitude, mas também em frequência

Luna Gripp
Pesquisadora em Geociências da CPRM e responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico do Amazonas

Para a cheia deste ano, a projeção da CPRM é a de que o rio Negro na capital amazonense fique entre 28,5m e 30,35m, com maior probabilidade de atingir a média desse intervalo, que é de 29,45. Ou seja, apenas 52 centímetros abaixo dos 29,97 metros, marca máxima registrada em 2012. O rio Negro é um dos principais afluentes do rio Solimões. Ele nasce na Colômbia e entra no Brasil na região do município de São Gabriel da Cachoeira. Sua foz é em Manaus. A partir daí, o Solimões passa a se chamar rio Amazonas.

O primeiro boletim Alerta de Cheia da CPRM, apresentado em 31 de março, relata cheias nas microbacias da bacia amazônica, atingindo, no Amazonas, o rio Negro e, em Roraima, o rio Branco, ambos afluentes do rio Solimões. Outros rios da bacia também estão em situação de alerta de cheia, como o Juruá, afetando cidades do Acre e do Amazonas, como Eirunepé e Ipixuna. Em fevereiro, vários municípios acreanos foram inundados pela subida dos rios Juruá, Purus, Tarauacá, Envira, Yaco e Acre.

Cientistas e pesquisadores afirmam que o fenômeno La Niña é o principal responsável pelas chuvas acima da média observadas desde o fim do ano passado. O primeiro trimestre de 2021 foi marcado por volumosas precipitações em áreas que, nessa época, não costumam se caracterizar por intensos temporais, como o norte do Amazonas e Roraima.

Em Manaus, o acumulado de chuva registrado em março de 2021 superou a marca histórica registrada em 1963. “O que vai definir se os rios ficarão acima ou abaixo destas previsões médias será o volume de chuva que cairá ao longo das bacias”, explicou Luna Gripp Simões Alves, pesquisadora em Geociências da CPRM.

Em Iranduba (AM), família de ribeirinhos navega o rio Negro próximo da vila do Cacau Pirêra: cheia do Amazonas e seus afluentes ameaçam comunidades (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real
Em Iranduba (AM), família de ribeirinhos navega o rio Negro próximo da vila do Cacau Pirêra: cheia do Amazonas e seus afluentes ameaçam comunidades (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)

Responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico do Amazonas (Sipam), Luna explicou que o olhar se volta para as chuvas ocorridas em suas cabeceiras – na fronteira do Brasil com a Colômbia – na região do Alto Rio Negro e também para o volume do rio Solimões. Quando o Solimões está com um volume muito elevado, explicou a pesquisadora, o Negro acaba sendo represado, inundando o perímetro urbano da capital do Amazonas. “Em Manaus, a primeira região a alagar é o bairro São Jorge. Lá, o Negro já ultrapassou a cota de inundação. Temos a cota de inundação severa, que é quando chega a 29 metros e começa a inundar a rua dos Barés, no centro da cidade”, disse Luna Gripp à Amazônia Real.

Está enchendo rápido. Os ribeirinhos estão com medo de que seja uma cheia maior do que em 2012. Se for, vai muita casa para o fundo do rio

Vicente Custódio Sá
Dono de barco de transporte fluvial

O que mais tem chamado a atenção dos cientistas, destaca Luna Gripp, é que as grandes cheias do rio Negro ocorrem com maiores frequência e intensidade. “É normal e é esperado que os rios tenham esse processo de enchente e de vazante ao longo dos anos. Mas há um detalhe importante: os eventos estão cada vez mais extremos não só em magnitude, mas também em frequência”, afirma ela. “Às vezes, nem dá tempo de a população se preparar para a próxima por acabar de ter saído de uma .”

Por enquanto, a CPRM estima que a chance de o rio Negro superar o nível máximo histórico registrado em 2012 – 29,97 metros – é de 17%. Outros dois boletins serão apresentados nos dias 30 de abril e 31 de maio, datas mais próximas do pico da cheia. Desde 1989, o Serviço Geológico do Brasil realiza o monitoramento hidrológico da região amazônica em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA).

Valderino Pereira, em foto de antes da pandemia no período da seca, mostra o livro de registro diário da medição do rio Negro (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Valderino Pereira, em foto de antes da pandemia no período da seca, mostra o livro de registro diário da medição do rio Negro (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Quarenta anos de medições

Responsável há 40 anos pela medição da cota do rio Negro, o engenheiro Valderino Pereira, acredita que a cheia de 2021 será uma das maiores em cem anos, mas não deverá ultrapassar a de 2012. Foi ele quem informou à Amazônia Real, na quarta-feira (7), que o rio chegou à marca de 27,65 metros. No ano passado, nessa mesma data, o rio estava em 25,42.

“Não posso dizer se 2021 vai passar a de 2012, mas com certeza vai ser maior do que a de 2020, cuja máxima foi de 28,52. Mas são muitas variações que influenciam. Tem um momento que você pensa uma coisa e acontece outra. Mesmo assim, uma enchente que chega na casa de 29 metros já é considerada grande aqui”, disse.

Nos últimos 10 anos, as cheias do rio Negro em Manaus têm ultrapassado com frequência a marca de 29 metros. Em 2014, ela alcançou 29,50 metros. Em 2009, chegou a 29,77 metros, batendo o recorde em 100 anos. Esta marca foi ultrapassada três anos depois, quando chegou a 29,97 metros.

Localizada à margem do rio Negro, Manaus é uma capital que sofre severamente com cheias acima da média, sobretudo em bairros à beira de igarapés e próximo do porto. Uma das vias mais afetadas é a rua dos Barés, área de comércio tradicional do centro antigo da cidade. Pelo menos em abril, a região central ainda não está afetada, segundo Valderino, mas pode ser inundada nos próximos meses.

Nos últimos meses, por conta da pandemia, Valderino não tem ido com frequência ao porto de Manaus. Um funcionário mede e envia os números para ele, que então faz a leitura com base em um cálculo que tem como referencial o nível do mar.

Em Iranduba (AM), Dedé Batista Pinto caminha sobre uma viga de madeira ao deixar sua sua residência flutuante na vila do Cacau Pirêra: "Final do mês passado mesmo eu matei uma cobra dentro de casa" (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)
Em Iranduba (AM), Dedé Batista Pinto caminha sobre uma viga de madeira ao deixar sua sua residência flutuante na vila do Cacau Pirêra: “Final do mês passado mesmo eu matei uma cobra dentro de casa” (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)

Preparativos para a inundação

Os bairros e ruas de Manaus à margem da orla ainda não foram afetadas pela subida do rio, mas, em outras áreas, as famílias já começaram a se preparar para a inundação. No distrito de Cacau Pirêra, no município de Iranduba (a 43 quilômetros de Manaus), moradores esperam por uma grande enchente do rio Negro.

Em sua casa flutuante, Dedé Batista Pinto observa a subida do rio, enquanto tenta sobreviver em um período crítico de desemprego por causa da pandemia da Covid-19.

“Já está ruim de encostar aqui na beira. Está cheio de mureru também e isso é ruim, porque traz muito animal para perto de casa. Final do mês passado mesmo, eu matei uma cobra dentro de casa”, afirmou ele à Amazônia Real.

Outro morador do Cacau Pirêra que acredita que haverá uma cheia de grande magnitude em 2021 é Vicente Custódio Sá, 72, dono de embarcação. Para ele, o rio Negro tem dado sinais de uma cheia recorde.

“Está enchendo rápido. Os ribeirinhos estão com medo de que seja uma cheia maior do que em 2012. Se for, vai muita casa para o fundo do rio”, prevê Sá.

Vicente Custódio Sá., de 72 anos, em seu barco no Rio Negro: temor de cheia recorde e tragédia (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)
Vicente Custódio Sá., de 72 anos, em seu barco no Rio Negro: temor de cheia recorde e tragédia
(Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)

Covid-19 agrava desafio

Em meio à pandemia do novo coronavírus, a Defesa Civil tem levado as famílias mais vulneráveis dos municípios já atingidos pelas cheias no Amazonas para abrigos e garantido acesso a cestas básicas e águas potável, informou o major Hélcio Cavalcante, chefe do Departamento de Resposta a Desastres da Defesa Civil do Amazonas.

Temos relatos de que o volume dos rios já está elevado ameaçando as residências , as plantações e locais de criações de animais e outras atividades

Hélcio Cavalcante
Chefe do Departamento de Resposta a Desastres da Defesa Civil do Amazonas

Este ano, as respostas da Defesa Civil enfrentam um desafio a mais com a Covid-19. “O protocolo muda, dificultando nossas ações. Temos que nos preocupar com o isolamento, observar o protocolo nesta questão de contaminação”, afirmou Cavalcante à Amazônia Real.

Além da preocupação em garantir o devido distanciamento social entre as famílias levadas para abrigos, assegurar o uso de máscara e o fornecimento de produtos de higiene pessoal, a Secretaria Estadual de Saúde se preocupa que a vacinação contra o coronavírus nos municípios atingidos pelas cheias não seja interrompida.

Cavalcante afirmou que um planejamento de resposta para a inundação do rio Negro em Manaus está em elaboração, em parceria com a Defesa Civil Municipal. “Dependendo da situação da grandiosidade do desastre na cidade de Manaus, a Defesa Civil Estadual vai fazer levantamento da quantidade de pessoas afetadas, dos prejuízos na parte econômica e social, onde está ocorrendo o desastre, e dentro disso aí investigar e homologar para que possa chegar com resposta para a capital do Amazonas, bem como está acontecendo no interior”, disse ele, em declaração à Amazônia Real.

A Defesa Civil tem feito o monitoramento em todas as bacias do estado: Juruá, Purus, Solimões, Negro, Madeira e Amazonas. Além do Solimões e do Negro, o rio Madeira também preocupa pelo elevado volume do manancial em alguns municípios às suas margens. “Temos relatos de alguns coordenadores de que o volume dos rios já está elevado ameaçando as residências , as plantações e locais de criações de animais e outras atividades”, disse Cavalcante.

As cheias do Baixo Amazonas

Na semana passada, moradores dos bairros mais baixos do município de Parintins – na região do Baixo Amazonas, divisa com o Pará e a segunda maior cidade do estado – já começaram a ser impactados pela cheia do rio. As águas não atingiram as casas, mas pontes improvisadas (trapiches) foram feitas para que as famílias pudessem sair.

Dados da Defesa Civil de Parintins indicam que pelo 1.700 pessoas são impactadas, neste momento, pelo volume elevado do rio Amazonas, que alcançou a cota de 8,33 metros. O rio estava apenas cinco centímetros abaixo da cheia histórica de 2009: 8,38 metros. Ainda no mês passado a prefeitura decretou situação de alerta pela enchente.

O elevado nível de chuvas na bacia amazônica tem impactado os moradores de formas diferentes. No Acre, os rios já deveriam estar em processo acelerado de vazante já que abril marca a transição para o “verão amazônico”. Mas não é o que vem acontecendo. No sábado (3), o rio Juruá voltou a transbordar em Cruzeiro do Sul, desabrigando famílias. Apesar de apresentar sinais de vazante desde domingo, o Juruá continua na cota de alerta, medindo 13,58 metros.

Essa água seguirá seu curso e pode causar impactos nos municípios amazonenses localizados ao longo do leito do Juruá, até seu encontro com o Solimões. “Este ano de 2021 o desastre de inundação está sendo bem atípico em relação aos anos anteriores. Tem áreas afetadas hoje que não estariam assim em anos anteriores. O comportamento do volume dos rios está sendo bem castigado, comunidades ribeirinhas já estão no processo de inundação, quando nos anos anteriores não estariam assim”, explicou Cavalcante.

Mulher e criança às margens do Rio Negro: além de fortemente afetado pela pandemia da Covid-19, o Amazonas convive com a possibilidade de cheia recorde de seus rios. (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)
Mulher e criança às margens do Rio Negro: além de fortemente afetado pela pandemia da Covid-19, o Amazonas convive com a possibilidade de cheia recorde de seus rios. (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)

Cem mil famílias afetadas

O “inverno amazônico” mais rigoroso que prevaleceu do fim de 2020 até o primeiro trimestre de 2021 provocou o transbordamento dos rios no Acre – deixando cidades inteiras debaixo d’água – e atingiu até agora, segundo a Defesa Civil do Amazonas, 103.642 pessoas. A maior parte das famílias afetadas é moradora de municípios da bacia do rio Juruá, que em 2021 alcançou o maior nível da história no Acre. Em Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade acreana, o Juruá atingiu a marca de 14,36 metros, impactando 33 mil dos seus 89 mil habitantes.

Municípios banhados pelo Juruá no Amazonas, Eirunepé e Ipixuna registraram a maior quantidade de pessoas atingidas: 17.275 e 13.333. De acordo com a Defesa Civil, ao menos um quarto da população amazonense moradora da bacia do Juruá foi, de alguma forma, impactada pelo seu transbordamento. Previsões do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) indicam chuvas acima do normal para o trimestre abril, maio e junho para o sul da Amazônia, o que pode elevar o volume de água nas bacias dos rios Juruá e Purus.

“A tendência para as bacias dos Altos Ros Juruá e Purus é de chuva acima do que a gente observa todos os anos neste trimestre. Esta é uma situação preocupante”, informou Renato Cruz Senna, meteorologista do Sipam, durante a apresentação do CPRM na semana passada.

“Os prognósticos para o trimestre abril, maio e junho são de chuva acima do esperado, acima da climatologia, basicamente nas bacias do Branco e do Negro. A tendência é a bacia do rio Branco se normalizar, mas também é a época que ela passa a ter mais chuvas”, ressalta Senna.

Municípios do Baixo e Médio Solimões também estão com o volume do rio em constante monitoramento. Apesar de em 2021 não ter transbordado em Rondônia, o rio Madeira deixa as cidades amazonenses ao longo de sua margem em estado de atenção. Segundo análises do Sistema de Alerta Hidrológico (SAH) elaborado pelo CPRM, em Porto Velho o rio Madeira está acima da cota de alerta, mas “com uma suave tendência de redução de níveis”. No dia 1º de abril o rio estava na marca dos 15,64 metros. A cota de inundação na capital de Rondônia é de 17 metros.

Um La Niña sem tréguas

Segundo as análises climatológicas, o La Niña pode já ter entrado em um processo de enfraquecimento, mas tende a recuperar força a partir de outubro, quando o período chuvoso na parte mais sul da Amazônia Ocidental reinicia. De acordo com o meteorologista Flávio Natal, chefe do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Amazonas, a tendência é haver um período de estiagem mais curto. Somado às condições ambientais ocasionadas por chuvas acima do normal neste ano, há a possibilidade de novas enchentes tão ou mais severas se repetirem em 2022.

“Se as chuvas continuarem a se prolongar, tendo um período seco mais curto, e se a gente retornar de novo com La Niña com chuvas acima do normal, provavelmente ano que vem a questão das enchentes seja até mais perigosa do que esse ano”, diz Natal à Amazônia Real. Segundo ele, tanto em cidades como Rio Branco (mais ao sul) quanto Manaus (mais ao norte) a previsão é de um maio com volume de chuva “relativamente bom”.

Em cidades como Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO), maio é caracterizado por ser um mês seco, com chuvas mais raras, por marcar a transição do “inverno” para o “verão amazônico”. Além do Acre e Rondônia, a estiagem que se inicia em maio e segue até o fim de setembro ocorre no sul do Amazonas e do Pará, além do norte de Mato Grosso. Estes são os meses marcados pela temporada do fogo na Amazônia, quando áreas usadas pela agropecuária e a floresta recém-desmatada são queimadas. Além de um clima seco e quente, a população convive com a poluição ocasionada pelas queimadas.

Enquanto a porção mais ao sul da Amazônia terá a quantidade de precipitação reduzida nos próximos meses, a norte conviverá com chuvas ainda intensas. “Na maior parte dos modelos, o consenso é o de que o La Niña vai dar uma enfraquecida, mas ele ficará com algumas condições de ter um repique no final do ano”, afirma o meteorologista Flávio Natal Este La Ninã menos forte não significa que o norte da Amazônia terá chuvas fracas em seus meses de “inverno”. Para Roraima, o Inmet indica uma previsão de chuva acima do normal. No Amazonas, a chuva deve ser acima média, concentrando-se numa região já bastante chuvosa, a Serra da Cabeça do Cachorro, no Alto Rio Negro.

“Na Amazônia, você sabe qual é o período da chuva e o período seco. Aqui, no sul da Amazônia Ocidental, o período seco não é igual ou um pouco igual ao norte, um pouco a mais do que o centro. No Pará e no Amazonas chove mais do que aqui, e não temos uma delimitação tão precisa entre os períodos de chuva e de seca. Então, a Amazônia é única, mas também é plural na parte de clima”, define o físico Alejandro Fonseca Duarte, coordenador do Grupo de Estudos e Serviços Ambientais da Universidade Federal do Acre (Ufac).

De acordo com Duarte, além de fatores externos – como o aumento ou esfriamento das águas dos oceanos – o comportamento do clima na região também é influenciado pela ação humana de seus moradores, sobretudo o desmatamento. “Os estudos falam também sobre a preservação deste ambiente, porque o ambiente é fundamental para que se preserve o clima da Amazônia. Se a Amazônia queima, se é derrubada, não se mantém o clima, principalmente a chuva, mas também a temperatura, a umidade, o vento”. De acordo com o pesquisador, caso o nível de devastação da floresta se mantenha no mesmo ritmo do observado nos dois últimos anos, há o sério risco de a região ser impactada por eventos climáticos extremos.

*Amazônia Real (com colaboração de Elaíze Farias e Raphael Alves)

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