Por Valéria Martins e Patrícia Della Justina, Do G1, compartilhado do Portal Geledes –
Boletim de ocorrência foi registrado, e Polícia Civil instaurou inquérito nesta quarta (18) para investigar o caso.
A vereadora Ana Lúcia Martins (PT) é a primeira mulher negra eleita para a Câmara de Vereadores de Joinville, no Norte catarinense. Desde domingo (15), com o resultado das eleições, ela vem recebendo ataques em redes sociais e até ameaças de morte.
A Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami) instaurou inquérito na tarde desta quarta-feira (18) por injúria racial e ameaça, após um boletim de ocorrência pelos mesmos crimes ser registrado.
“A priori é isso. O racismo a gente vai analisar posteriormente. Iniciamos agora a apuração dos fatos. Em relação à autoria, a gente ainda não tem”, detalhou a delegada Cláudia Cristiane Gonçalves de Lima.
Com 54 anos, Ana Lúcia está entre os 19 eleitos no domingo para o Legislativo no maior colégio eleitoral de Santa Catarina e recebeu 3.126 votos (1,18%).
Segundo a vereadora, antes mesmo de sair os resultados das urnas, começaram os ataques, que, depois, foram agravados por duas ameaças.
“Por meio de um perfil fake, recebi, por duas vezes, ameaças de morte, evidenciando que o problema central era eu ser a primeira mulher negra eleita da cidade”, disse Ana em uma rede social.
Um dos comentários direcionados à ela, por um perfil incialmente não identificado, diz: “Agora só falta a gente m4t4r el4 [sic] e entrar o suplente que é branco”.
‘Sabia que não seria fácil’
A vereadora eleita já foi ouvida pela polícia. Ela falou sobre o caso em suas redes sociais e diz que está com sua “integridade física ameaçada”.
“Não é uma simples opinião quando encoraja racismo e ameaça. […] Sabia que não seria fácil. Estava ciente que enfrentaria uma certa resistência em uma cidade que elegeu apenas na segunda década do século 21 a primeira mulher negra. Só não esperava ataques tão violentos”, disse na postagem.
O Partido dos Trabalhadores divulgou nota repudiando as ameaças. A advogada do partido está prestando apoio e acompanhou Ana na delegacia. Segundo a profissional, a possibilidade de pedir proteção à Ana é avaliada.
“Diante desse gravíssimo fato, manifestamos nossa solidariedade e apoio à companheira Ana Lúcia Martins e esperamos que as autoridades atuem de maneira rápida no intuito de descobrir e responsabilizar os autores, para que sejam levados à justiça”, diz um trecho da nota do PT.
Ana nasceu no bairro Floresta, zona Sul de Joinville, atuou como servidora pública e é uma das lideranças na defesa dos direitos das mulheres, da população negra, imigrantes e de comunidade periféricas.