Professor de 64 anos, vítima de Parkinson, teve costela fraturada após ação policial em Escola do MST

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Publicado em Justificando – 

Ronaldo Valença Hernandes reside nas proximidades da escola há cerca de três anos e foi diagnosticado com Doença de Parkinson, um distúrbio no sistema nervoso que gera tremores, rigidez dos músculos e perda de equilíbrio. Hoje foi vítima de agressão pela polícia que ocasionou em uma fratura na costela 

Um professor de 64 anos teve a costela fraturada na manhã desta sexta-feira (04), após ser algemado e perder o equilíbrio em decorrência da ação violenta da Polícia Militar e Civil na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em Guararema, São Paulo.




Cerca de 20 policiais chegaram por volta das 09h25 nos portões da escola, que pertence ao Movimento dos Sem Terra (MST), para cumprir um mandado de prisão expedido por operação conjunta entre três estados – Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. No caso, policiais foram ao local para cumprir o referente à Margareth Barbosa de Souza, que estaria na Escola. Os agentes foram atendidos por advogados que estavam ali para assistir um curso e exigiram a apresentação do mandado tanto de prisão como de busca e apreensão dentro da Escola. Ronaldo também foi até os portões e relatou aos policiais que não tinha conhecimento de alguém com aquele nome no local.

De fato, Margareth não estava no local, mas isso não impediu a ação da Polícia. Como apontam lideranças do MST e a própria advogada e colunista do Justificando, Giane Ambrósio Álvares, a ação policial incorreu numa série de abusos: não foi apresentado qualquer mandado físico – apenas uma foto em um whatsapp -, como também foi empregada uso de força e arma letal contra pessoas desarmadas.

Os advogados e membros da escola insistiram para que fosse apresentado um mandado impresso e, enquanto aguardavam, um dos policiais que estavam do lado externo da guarita da escola solicitou identificação dos demais presentes – estes do lado de dentro. Há relatos de uma pessoa que inicialmente recusou-se a se identificar, mas posteriormente gesticulou no sentido de que iria buscar seus documentos dentro da escola.

Nesse momento, um policial pulou a janela da guarita indo em direção as pessoas de forma brusca. Os demais presentes procuraram interceder para que não houvesse violência. Imediatamente mais policiais começaram a entrar pela mesma janela, já com armas em punho.

Diante disso, os presentes no local recuaram para dentro da escola, próximo ao portão que os policiais tentaram dar ordem de prisão para alguns e, em especial, para Ronaldo, que foi algemado e lançado ao chão. O professor, por ser vítima da doença Parkinson, patologia degenerativa que prejudica a coordenação motora, perdeu o equilíbrio e tentou se apoiar no policial, mas acabou caindo. Ronaldo afirmou que foi agredido com socos e pontapés quando já estava imobilizado com algemas no chão. Além disso, afirma ter visto outras pessoas serem agredidas da mesma forma.

Uma mulher também foi presa, assim como Ronaldo, por “desacato”. Ambos ficaram confinados em uma viatura por cerca de uma hora e meia. Ronaldo foi conduzido primeiramente ao Pronto Socorro local e, em seguida, para a Santa Casa de Guararema, onde foi atendido, medicado e submetido a exames – sendo constatado, por meio de raio-X, que sua costela estava fraturada em decorrência da ação policial.

Além disso, há relatos de que a polícia realizou alguns disparos contra o chão a fim de impedir que os demais se aproximassem para prestar socorro. Foram recolhidas 6 cápsulas próximas a Ronaldo, o que fez com que as pessoas pensassem que ele havia sido alvejado.

Cápsula de bala. Foto: MST
Cápsula de bala encontrada no local. Foto: MST

Logo após ser liberado do hospital, Ronaldo foi conduzido a delegacia de Guararema, onde foi registrado o boletim de ocorrência (B.O.). Foi solicitado também exame de corpo de delito ao IML, que já tinha finalizado o expediente. Portanto, Ronaldo terá que voltar na próxima segunda-feira (7) para fazê-lo.

Para o advogado, Gabriel Alves da Silva Junior, que estava na escola para realizar um curso e prestou serviços no local, casos como esse podem ser comparados ao Fascismo na Europa. “São os mesmos sintomas. Tudo começa com repreensão aos movimentos sociais e daí para frente…“. Gabriel ainda afirmou que em momento algum ele, os demais companheiros e Ronaldo ofenderam ou buscaram enfrentar os policiais, “principalmente o Ronaldo, devido a saúde debilitada”, completou.

O professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Ricardo Lodi disse que o episódio é um dos mais graves dos últimos tempos – A invasão policial, sem mandado judicial, da Escola Florestan Fernandes, do MST, constitui não só um dos mais graves dos muitos episódios recentes tendentes à instauração de um regime de exceção, como a evidente tentativa de criminalizar os movimentos sociais e todos os segmentos que não concordam com os rumos autoritários que vem tomando conta do nosso país.

Outro lado

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que a Polícia Civil de Mogi das Cruzes recebeu da Polícia Civil do Paraná solicitação de ajuda para cumprir um mandado de prisão na cidade de Guararema. “A polícia paranaense indicou que Margareth Barbosa de Souza estaria na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). Ela é procurada, junto a outros comparsas, pela prática de furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso, cárcere privado, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. Ao chegarem ao local, policiais do Garra foram recebidos com violência. Cerca de duzentas pessoas que estavam presentes tentaram desarmar os agentes e quatro deles ficaram feridos. Ao todo, foram cumpridos 14 mandados em três estados. Durante a ação, duas pessoas foram encaminhadas à Delegacia de Guararema para registro de Termo Circunstanciado de Desobediência, Resistência e Desacato.”

Mandado de prisão. Foto: SSP-SP
Mandado de prisão para Margareth Barbosa de Souza. Foto: SSP-SP

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