Entidades ligadas à produção de arroz e carne acusam o educador de promover debate ideológico sem fundamentação científica
Por Marcelo Hailer, compartilhado da Revista Fórum
Era para ser mais uma aula de biologia, mas terminou em cartas de repúdio. Um professor da Escola Mario Quintana, localizada na cidade de Pelotas (ES), ao explicar aos estudantes o efeito estufa e seus impactos, apresentou como políticas ambientais para conter tal dano a redução do consumo de carne e de arroz. Ao tomarem conhecimento, as entidades dos produtores de arroz e de carne exigiram um posicionamento da instituição.
Em carta encaminhada à direção da escola, o presidente da Associação Rural de Pelotas, Augusto Rassier, afirmou que os exemplos do professor de biologia são produtos da “desinformação” e que não devem estar presentes em nenhuma escola.
“Salientamos que o estímulo à diminuição no consumo de carne e arroz proposto pelo professor da Escola Mário Quintana consiste em produção de desinformação, que vem ancorada por ideologias que não devem passar pela porta de entrada de qualquer instituição de ensino.”
Quem também se manifestou contrário ao conteúdo da aula de biologia, foi o presidente do Sindicato Rural de Pelotas, Fernando Rechsteiner, que critica o fato de o professor colocar “a produção pecuária e orizícola como vilãs do meio ambiente”.
“Fica claro a opinião puramente ideológica, desprovida de fundamentação técnica, incompatível, a meu ver, com uma instituição de ensino”, criticou o presidente do Sindicato Rural de Pelotas.
Nos prints enviados à Fórum, é possível ler algumas mensagens de incentivo à violência física contra o educador.
Na tarde desta segunda-feira (25), a Escola Mário Quintana publicou uma nota de esclarecimento onde acatou as críticas dos ruralistas.
“Fomos tomados de surpresa quando soubemos de um grave equívoco de um professor de nossa escola, que ao tratar do tema ‘efeito estufa’ em sala de aula, propôs como uma das soluções ‘diminuir o consumo de carne e arroz’ […] foi uma colocação infeliz, desprovida de fundamentação teórica, técnica e científica […] pedimos desculpas, deixando claro que nossa visão, como instituição de ensino, é o respeito e a mais ampla valorização de nossa matriz econômica, em especial, neste caso, a produção rural e orizícola”, declarou em nota a escola.
Após a publicação da nota causar indignação entre alunos e ex-alunos e pais de alunos, a instituição deletou a nota de suas redes sociais e justificou que ela foi escrita por Carlos Valério que, apesar de ser o idealizador da escola, não possui mais contato com o espaço de ensino desde 2018.
A reportagem da Fórum entrou em contato com a Escola Mário Quintana, com o Sindicato Rural de Pelotas e com a Associação Rural de Pelotas, mas, até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.