Por Beatriz Cerqueira, via Reginaldo Caetano no Facebook –
Coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, Beatriz Cerqueira responde a Andréa Neves:
“Recebi por watsap o vídeo da “moça das Alterosas” expressando seu lamento e choro pelo o que considera “injustiça que sua família está vivendo”. Ainda terei tempo de respondê-la contando sobre o lamento de milhares de famílias que tiveram por quatro meses o salário que os sustentava cortado por terem ousado fazer uma greve pelo Piso Salarial e que até hoje não se recuperam financeiramente;
faltou o pão em suas mesas e a situação não piorou porque contaram com a solidariedade de amigos e familiares; quero contar a ela a injustiça de vermos nossa luta silenciada nos meios de comunicação de Minas Gerais que não falavam nada;
não falavam sequer sobre as condições de escolas funcionando em postos de gasolina ou em motéis desativados; quero contar a ela como os alunos que trabalhavam foram proibidos de estudarem a noite em 2014 e como se sentiram ao abandonarem a escola por incentivo do próprio governo de Minas;
quero partilhar com ela como até hoje é difícil explicar à minha família porque respondo tantos processos por simplesmente falar a verdade sobre a escola pública mineira; quero confessar a ela como tive que ser forte para consolar todos que prestavam serviço para o sindicato e começaram a ser ameaçados em suas casas em 2014;
dizer a ela qual foi meu sentimento quando eu soube que milhares de panfletos com meu nome e foto (mas sem assinatura) foram espalhados pelos quatro cantos do estado sem que eu tivesse sequer o direito de defesa ou de resposta; gostaria de dizer a ela como é ser perseguida por um escritório de advogados que até direito de resposta em artigos de opinião que eu escrevia pediam; também queria contar como mais de 100 professores se sentiram ao serem processados sem terem cometido crime algum e até mesmo com provas falsas porque era preciso punir quem se organizava, não importava por quais meios;
quantos diretores de escola foram impedidos de serem nomeados, embora escolhidos pela comunidade escolar, por perseguição; posso também contar como era termos nossas bolsas revistas na entrada da Assembleia Legislativa pelo simples fato de sermos professoras, Auxiliares de Serviço ou pedagogas; quero lhe descrever a sensação de respirar gás de pimenta e apanhar da polícia por lutar por uma escola pública de qualidade;
como é ficar 5h30 numa rodovia debaixo de sol, a maioria mulheres e idosas no desespero de sermos ouvidas e termos algum diálogo que melhorasse alguma coisa! As lágrimas de verdade são aquelas derramadas diante da fome e do desemprego que voltaram a bater na porta de milhares de brasileiros e tudo começou quando um moço embirrou e não aceitou a derrota lá em outubro de 2014!
Alguma dúvida sobre quem acordou o ódio em nosso país? Eu posso explicar também! E sem chorar!”