Por Valdemar Figueredo, publicado na Revista Fórum –
“A minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos” ainda teremos que lidar com a agenda política dos nossos pais: ditadores, torturadores, medo, mordaça, execuções sumárias, falta de transparência, enfim, cativeiro. A onda reacionária no Brasil chegou com a força destruidora de um tsunami
Escrevo este texto a partir da estrutura do primeiro capítulo do livro bíblico de Lamentações. Não se trata de exegese nem sequer paráfrase. O texto é meu e não reconheço nele nenhum imperativo divino. As ideias políticas que tenho e as percepções adquiridas da sociedade brasileira não são sentenças legitimadas por supostas orientações bíblicas. Portanto, este texto está crivado das minhas vontades e subjetividades. Não é divino. É humano, demasiadamente humano.
1. Como está desassossegado o Brasil. A nação que despontava como potência mundial no início do século XXI, no final da segunda década, dá sinais de conformação com o papel de subalterna no sistema internacional.
2. O paraíso tropical habitado por uma população cordial vive hoje um “baixo astral” tamanho. As lágrimas correm os rostos dessa nossa gente aperreada, triste, pessimista, porém bronzeada.
3. O povo brasileiro considera fortemente a possibilidade de migrar para Portugal. Triste metáfora da reversão da nossa colonização. O cálculo é que, se a escravidão no Brasil foi marcada por ferro e fogo, hoje, o surto migratório representa refrigério ou desafogo.
4. Nossas praças estão vazias. Exceto, as praças de alimentação dos shoppings. O nosso povo sofre amargamente. Os nossos jovens estão com crise de ansiedade. As festas religiosas só agravam o tédio.
5. Os especuladores do mercado financeiro abrem Champagne. Aqui as regras só são para o povão viver regrado. Estamos trabalhando para pagar as dívidas. Em nome do progresso econômico se admite o domínio das nações centrais. Hoje nos orgulhamos dos esculachos externos e da nossa condição subalterna na globalização.