Programa de governo da esquerda tem que apagar retrocessos sociais

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Por Carlos Eduardo Alves, para o Bem Blogado – 

O atropelo sem precedentes da ordem institucional e democrática desde o golpe coloca várias questões liminares para quem for disputar a sucessão presidencial de 2018. É indispensável nos programas de governo a promessa de apagar os retrocessos sociais que a cleptocracia de Temer patrocinou e, em outra ponta, começar a discutir maneiras de repor alguma credibilidade ao Poder Judiciário.




Existem várias esquerdas hoje no Brasil, assim como no mundo. É ingenuidade pensar que haverá uma candidatura única em 2018. Não haverá. Ponto. Mas existe uma linha unificadora no campo progressista, que é a luta por direitos sociais em vias de extermínio.

O marco  de divisa é esse, o que já elimina, para quem ainda tinha ilusão, a postulação de Marina Silva com suas lamentáveis declarações a favor das reformas de Temer e da elite que patrocinou o golpe.

Apesar de relevantes manifestações e da greve geral, avança no Congresso ilegítimo o trâmite contra direitos trabalhistas e previdenciários. A rejeição popular a ambas atrocidades, atestada por todas as pesquisas de opinião, ainda não foi suficiente para barrá-las.

É factível, portanto e infelizmente, que as reformas sejam aprovadas por parlamentares que estão sendo comprados sem nenhum pudor de várias maneiras. A não ser que uma inesperada onda de manifestações de rua mostre aos doutores e ao mercado dinheirista que o País não aceita a monstruosidade, a pauta é obrigatória na disputa eleitoral de 2018.

É cedo ainda para definição de candidaturas, talvez. Mas é preciso que as esquerdas comecem a dizer já o que pretendem fazer. O erro, sim, foi um erro, da campanha de Dilma em 2014 não pode ser repetido. O que se promete na busca do voto tem que ser perseguido. E será um debate em que, paradoxalmente caso sejam aprovadas as reformas, teremos que acenar com o  ontem para só depois falarmos do amanhã. Não aceitamos a política de terra arrasada para direitos sociais e o rumo é revertê-las.

Outro ponto que não pode merecer nossa cara de paisagem é sobre a atuação despudoramente política e parcial do Poder Judiciário. O tsunami fascista está sendo legitimado em todas as instâncias.

Que democracia pode se esperar de um País que prende, por exemplo, um José Genoino e deixa corruptos em palácios?

Até quando será possível suportar que crimes como o mensalão tucano caduquem juridicamente enquanto seus beneficiários desfilam livremente hipocrisia e falsa moralidade?

É um debate difícil, ainda mais que terá contra si toda a artilharia da grande imprensa, enamorada da ignorância de amplos setores da classe média que, também infelizmente, expõem com crueza o ódio de classe embalado na mentira de uma tal meritocracia. Mas é o combate necessário, até indispensável. Aprendamos com os equívocos. Os governos do PT, entre seus inúmeros e acertos inéditos na História brasileira, tem entre suas dívidas a ilusão de acreditar que a casta instalada no Judiciário seria capaz de reeditar aqui alguma coisa que mesmo de leve lembraria o papel desempenhado em outros países.

A sobriedade das Cortes europeias não comporta uma militância como a de Gilmar Mendes, por exemplo. Note-se que aqui estamos cotejando o papel do Judiciário brasileiro com similares de países da dita democracia burguesa. Ou alguém lembra de algum boquirroto na Suprema Corte americana, aquela que encanta a direita brasileira?

A campanha de 2018 exigirá que não se fuja a temas decisivos e que até hoje não foram enfrentados. Demanda mais tempo, espaço e cuidado a abordagem, para citar outro tema, sobre o monopólio de formação de opinião pelas Organizações Globo.

O tempo mostrou que os Marinhos não abrem mão da tarefa de manipular. Apoiaram a ditadura militar e décadas depois, de maneira oportunista, admitiram o “equívoco”. Esconderam a campanha pelas Diretas até quando foi possível e, mais de 30 anos depois, voltam a maquiar o País real nas ruas. No poder, o PT, por razões que merecem uma discussão relevante, não enfrentou o poder paralelo da Globo. Não dá mais.

Enfim, antes mesmo dos nomes que disputarão a Presidência da República, as esquerdas devem ter um horizonte claríssimo: com todas as dificuldades, que serão imensas, a campanha de 2018 não tem como prometer conciliação com interesses que não sejam os da maioria

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