Projeto Calanguinho muda ambiente e hábitos em unidade do SUS

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Unidade de Saúde da Família (USF) se transforma em referência no país, pois mesmo dispondo de escassos recursos, consegue produzir mais de 100 espécies de plantas medicinais e alimentos orgânicos (sem veneno) destinados a distribuição gratuita para a população periférica da cidade de Jequié no interior da Bahia. O Projeto Calanguinho aplica um processo produtivo sustentável e agroecológico com o uso de reciclagem, compostagem com minhocultura (para produção de adubo orgânico), captação de água da chuva e dos ar condicionados, valorização da cultura e espécies locais, partilha justa dos excedentes, prevenção e educação para o cuidado com o ser humano e acima de tudo a valorização da participação popular criativa e ativa no Sistema Único de Saúde (SUS) entendendo que se deve lutar para que o que é público seja uma ferramenta de transformação social e coletiva.

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Começo do Projeto Calanguinho




O Projeto Calanguinho surgiu da idealização de profissionais de saúde e moradores da comunidade da Baixa do Bomfim (bairro periférico de Jequié-Bahia), identificaram que na unidade do SUS deste bairro havia uma enorme área inutilizada, a qual dava um péssimo aspecto de ambiente desumanizado a todos que ali chegavam. A partir desta constatação, em coletivo, foi decidido que um projeto integral de humanização deste espaço devería ser realizado com um enfoque amplo, com o intuito de promover saúde, sustentabilidade social e ecológica, bem como prevenir as doenças por meio da agroecologia (plantação sem veneno) e da educação nutricional.

Desenvolvimento do Projeto Calanguinho

Foram iniciadas as atividades ao final de 2015 com um curso teórico-prático sobre agroecologia e uso de plantas medicinais (fitoterapia), o qual se utilizou do modelo da educação popular, que trabalha através da transferência dos conhecimentos científico e popular entre todos os participantes, entendendo que pode haver uma mediação entre o conhecimento acadêmico e o empírico, onde ambos os níveis sejam propulsores do saber. Intercalados aos momentos teóricos, eram realizados mutirões com a participação da comunidade local, profissionais de saúde, pequenos agricultores e outras pessoas interessadas, que com o passar do tempo foi construindo uma horta comunitária que modificou totalmente o espaço e as pessoas envolvidas no processo.

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Atividades teórico-práticas realizadas pelo Projeto Calanguinho

Modelo de saúde integral

Acreditamos que o modelo biologicista cotidiano (redução ao puramente biológico-mecanicista, que observa a doença como estado produzido por um erro biológico) já não comporta todas as necessidades e especificidades em saúde, por isso é imperativo identificar e se aprofundar em problemas que a universidade deixou de lado, neste caso apresentamos alguns problemas como a alta utilização de agrotóxicos (nosso país é o maior consumidor do mundo, com média de 5,5 litros/pessoa/ano), falta de disponibilidade na periferia de alimentos e medicamentos, o impacto do dano ambiental na saúde humana, hábitos inadequados, entre outros. Contudo, a prática é a mãe da verdade, foi demonstrado no dia a dia como se pode superar estas questões sem dinheiro, só com vontade e organização social. Se 40% de toda a medicação utilizada na Alemanha é fitoterápica, porque temos que abdicar nossa história e nossa soberania para dar grandes lucros a indústria farmacêutica? Dispomos de uma riqueza biológica com evidência científica de eficácia na saúde, que nem podemos quantificar.

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Resultados do Projeto Calanguinho

São várias conquistas depois de um ano e meio de projeto, como o recebimento do prêmio Inovadores do SUS (INOVASUS), dado pela Organização Panamericana de Saúde e Ministério de Saúde as propostas que devem ser replicadas dentro da saúde pública, já dispomos de aproximadamente 100 plantas de espécies diferentes de fitoterápicos, sendo a metade medicinal, que é prescrita pelo médico da unidade, e a outra metade alimentícia, que é repartida entre a comunidade, sempre de forma gratuita. Conquistamos um espaço mais humanizado, com uma natureza humanizadora, que ajuda no tratamento psicológico dos que ali se encontram, todo um oásis em meio ao deserto, já que Jequié é uma das cidades mais secas da região, inclusive ajudando a diminuir a temperatura média nesta unidade de saúde. Centenas de pacientes já foram tratados com diferentes fitoterápicos, como por exemplo a formula da multimistura que foi adaptada as possibilidades locais, onde com a qual tratamos a desnutrição com excelentes resultados. Mais o que é mais notável de tudo é que muitos agricultores desta cidade e região, que foram capacitados pelo projeto, deixaram de utilizar agrotóxicos e iniciaram a produção de alimentos sem venenos, o que beneficiou toda a população da região.

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Potencial de multiplicação do Projeto

A Portaria nº 971/GM/MS, de 3 de maio de 2006, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde dispõe que a fitoterapia deve funcionar nas USF, e para a comunidade científica isso é importante pois gera soberania na realização dos tratamentos, com menos efeitos adversos, menos gastos financeiros para o estado e pacientes, bem como a valorização dos tratamentos e culturas tradicionais.

O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxico (PARA) demonstrou que o Brasil consome proporções muito acima do que é considerado seguro, por isso é imperativo considerar a saúde pública como meio de luta contra a utilização desenfreada dos agrotóxicos, pois a cada dia se multiplicam as evidências científicas sobre seu dano à saúde, e porque não utilizar os espaços livre e ociosos das mais de 40 mil USF que se encontram em todos os municípios do país, ou até mesmo nas mais de 130 mil unidades escolares. Por este grande potencial o projeto se propõe criar uma rede que coloque pessoas que trabalham com agricultura orgânica e fitoterapia em contato com trabalhadores do setor público e/ou comunidades próximas a estes espaços ociosos para gerar um vínculo que leve a uma produção com conscientização.

O Projeto Calanguinho prova que a saúde pública pode fazer diferente para e por todos, e que leva a sério as Práticas Integrativas e Complementárias, assim como a universalidade, integralidade e equidade no SUS.
O Projeto Calanguinho é mudança de comportamento e paradigmas.
Aqui temos um SUS ativo, criativo e integral…

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