O Petronotícias abre esta segunda-feira (14) pedindo uma permissão especial para tratar com os seus leitores de um assunto importantíssimo que está acontecendo neste momento no Rio de Janeiro
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“Somos o primeiro teleférico do País. O terceiro e mais antigo em funcionamento do mundo. Surgimos de uma ideia visionária. E agora estamos diante de outra”. É assim que a empresa Caminhos do Pão de Açúcar apresenta a ideia de jerico que é a instalação de uma tirolesa no Morro do Pão de Açúcar, o segundo ponto turístico mais visitado do Brasil. Segundo a empresa, será “a tirolesa mais bonita do planeta” e “um voo com destino à felicidade, que vai conectar o morro do Pão de Açúcar ao da Urca em 755 metros de pura beleza”.
Mas, para que isso aconteça, por trás, está a deformação de uma estrutura histórica e tombada pelo patrimônio público, que seduz turistas em todo globo. Mas, vocês acham que isso seria um obstáculo para burlar os inúmeros impedimentos que derrubariam essa ideia? Podem tirar o cavalo da chuva. Acreditem, isso tem o apoio do próprio prefeito da cidade, Eduardo Paes (foto à direita), e da Georio, a mesma companhia que aprovou a ciclovia da Avenida Niemeyer – que caiu após três meses de inauguração, matando duas pessoas que passeavam por ela. E, ainda por cima, a ideia conta ainda com o aval do Instituto do Patrimônio Histórico (IPHAN), o mesmo que cobra com rigor que os moradores da Urca, o bairro onde fica o Bondinho, respeitem as regras próprias, fazendo exigências, cobrando licenças que ele mesmo nega. Para alguns, claro.
Se não fosse um movimento espontâneo de moradores do bairro, apoiados por ambientalistas e políticos seriamente preocupados em exigir o cumprimento das regras e das leis, o mostrengo já estaria pronto, poluindo a imagem, e destruindo uma boa parte das pedras do morro da Urca e do Pão de Açúcar. As pedras do morro estão sendo destruídas de forma camuflada pela empresa de engenharia responsável pela obra, usando um tecido para encobrir os danos. A Georio, empresa responsável pela fiscalização e conservação das encostas da cidade e o IPHAN parecem ter virado os olhos para o outro lado, fingindo não ver. A boa notícia nisso tudo é que para combater esses absurdos, nasceu um movimento chamado “Pão de Açúcar Sem Tirolesa” (PdAST), que organiza os protestos e que conseguiu, pelo menos momentaneamente, paralisar as obras denunciando o absurdo ao Ministério Público.
O PdAST é um movimento civil, apartidário, que nasceu no início de 2023, “quando a sociedade assistiu perplexa a um derramamento de material que, depois, se identificou ser resíduo das obras realizadas pela empresa que administra e opera o caminho aéreo. Essa obra estaria acontecendo para a construção de estruturas e instalação de 4 tirolesas, ligando os cumes do Pão de Açúcar e da Urca”. Para lembrar, o Pão de Açúcar, bem como o seu entorno, é uma área de especial interesse por ser de proteção ambiental. É tombado pelo IPHAN como Monumento Natural Pão de Açúcar, declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO, e, recentemente, declarado patrimônio geológico mundial pela IUGS (International Union of Geological Sciences). Todo o processo de licenciamento das obras das tirolesas transcorreu no período de dezembro de 2020 a maio de 2023 sem que houvesse uma consulta à sociedade civil: “As licenças concedidas aconteceram em desacordo com os trâmites legais, uma vez que são contrárias ao plano diretor do município do Rio de Janeiro que considera a área como non aedificandi [área não edificante], ao Decreto Lei nº 25/1937 e a portaria nº 420/2010 do IPHAN”. A obra da tirolesa foi iniciada em setembro do ano passado, de forma rápida e silenciosa, causando discordância em vários setores da sociedade civil. Os danos, que parecem irreversíveis, só ficaram evidentes no início de 2023.
Hoje, o movimento PdAST reúne representantes de entidades da sociedade civil organizada, diversos profissionais como advogados, guias de turismo, arquitetos, jornalistas, sociólogos, geólogos, ambientalistas, psicanalistas, montanhistas e pessoas interessadas na Natureza, todos trabalhando de maneira voluntária e desinteressada. Todos em prol da preservação do meio ambiente e contra a exploração do patrimônio ecológico e cultural público por um grupo empresarial privado sem limites na busca dos lucros. Já são quase 200 ativistas organizados atuando diariamente e diretamente no movimento. E o Petronotícias se junta a eles a partir de hoje, para receber e divulgar todas as informações relacionadas ao caso. Além do grupo, há quase 4 mil seguidores em redes sociais e demais apoiadores. O abaixo assinado já conta com aproximadamente 30 mil assinaturas, de várias partes do mundo. O Pão de Açúcar não é do Prefeito Eduardo Paes e nem da família que o explora por concessão pública através de uma empresa. O bondinho ganhou vida própria e já é um patrimônio mundial. E deve ser respeitado por isso.
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