Por Bruna Angélica Pelicioli Riboldi, Conexão Lusófona –
Embora a língua oficial e predominante no Brasil seja o português, o país tem entre 150 e 170 idiomas nativos, a maioria na região amazônica. Algumas línguas contam com cerca de 20 mil falantes, caso do Guarani, do Tikuna, do Terena, do Macuxi e doKaingang. Outras, porém, são faladas por cinco pessoas ou até menos.
Mas o que pode parecer uma “fartura de idiomas” é, na verdade, o retrato da lenta morte da cultura indígena no país. Isso porque à época da chegada dos portugueses ao Brasil, o número de idiomas nativos passava dos 1.200. Desde então, mais de 80% das línguas indígenas desapareceu do mapa. Dos idiomas que ainda restam, estima-se queum terço desaparecerá já nos próximos 15 anos.
Na tentativa de evitar o desaparecimento destas línguas, uma iniciativa inédita documentou o idioma de 35 etnias mais vulneráveis no Brasil com grave risco de extinção.
O projeto faz parte do Programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas(Progdoc), uma parceria entre Museu do Índio no Rio de Janeiro e Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Comunicação (UNESCO) no Brasil que resultou em 12 publicações que foram divulgadas ao público na última semana. Os documentos reúnem narrativas tradicionais e autobiográficas, livros de letramento, glossário enciclopédico, documentação etnográfica e registros de música vocal e instrumental.
O trabalho foi coordenado por linguistas, mas todo o material foi produzido por pesquisadores indígenas, que receberam capacitação (como oficinas de documentação linguística e editoração) e auxílio financeiro para atuar nas suas próprias comunidades.
Durante o projeto, eles esbarraram concretamente no problema que tentam evitar e viram “morrer” um dos 13 idiomas nativos documentados: o único falante vivo de que se tinha notícia da língua Apiaká (Mato Grosso), morreu durante a pesquisa – após já ter dado um depoimento em vídeo.
Os dossiês linguísticos contêm, além das publicações, todo material de áudio e vídeo produzido durante as viagens a campo pelas equipes de pesquisadores de línguas indígenas com aprovação das comunidades envolvidas. Foram confeccionados dez dossiês para cada Projeto. Os dossiês podem ser distribuídos entres as aldeias e as escolas indígenas, de modo a servir de instrumento de pesquisa e ensino-aprendizagem por parte das comunidades.
Das 13 línguas sob ameaça de extinção que foram documentadas, dez ganharam gramáticas descritivas básicas e um banco de dados que poderá resultar em dicionários. O Prodoclin registrou os seguintes idiomas (com o respectivo tronco ou família linguísticos entre parênteses): Apiaká (Tupi-Guarani); Desano (Tukano); Ikpeng(Karib); Kanoé (isolado); Karaja (Macro-Jê); Kawaiwete (Tupi-Guarani); Kisêdjê (Macro-Jê); Maxakali (Macro-Jê); Ninam (Yanomami); Paresi-Haliti (Arawak); Rikbaktsa (Macro-Jê); Shawãdawa (Pano); e Yawanawa (Pano).