Por Luis Felipe Miguel, publicado em Jornal GGN –
Extingue-se o programa de financiamento do ensino em tempo integral em escolas estaduais e municipais. Em troca, haverá estímulo para que universidades cedam seus “espaços ociosos” para que alunos do ensino básico estudem no contraturno.
O projeto para acabar com o ensino integral mostra uma vez mais que é preciso atenção aos movimentos do MEC. Aquilo que parece só incompetência e desconhecimento do beabá da educação esconde, muitas vezes, uma dose de safadeza.
Extingue-se o programa de financiamento do ensino em tempo integral em escolas estaduais e municipais. Em troca, haverá estímulo para que universidades cedam seus “espaços ociosos” para que alunos do ensino básico estudem no contraturno.
O estímulo é que as universidades que o fizerem ganharão um “bônus” nas avaliações do INEP.
À primeira vista, parece um despautério completo.
Os espaços das universidades em geral não são adequados para estudantes do ensino básico. Não se fala de onde virão os professores para atendê-los.
E o bônus avacalha a avaliação do ensino superior. Vai gerar notas altas para instituições que não a mereceriam, pelo que oferecem a seus alunos.
Mas há um sentido. Universidades públicas, como regra, não têm espaços ociosos – exceto, às vezes, à noite, mas não se imagina que este seja o horário em que as crianças vão ocupá-las. Aliás, universidades públicas em geral não precisam de bônus nas avaliações, já que são os centros de excelência da educação superior no Brasil.
Para faculdades privadas, porém, pode ser um acerto interessante. A crise e o esvaziamento do FIES têm reduzido as matrículas, o que gera os espaços ociosos. E várias delas precisam desesperadamente de pontinhos para não reprovar nas avaliações do INEP, o que poderia levar até à suspensão de suas atividades.
Você vira depósito de aluno do ensino básico durante um tempo e garante o direito de continuar vendendo péssimos serviços de ensino superior. Um bom negócio, não?
Quanto pior a faculdade, mais atraente é a proposta do MEC.
E o estudante que deveria receber ensino integral? Ah, esse é só um peão no arranjo feito para beneficiar os empresários da educação.