Por Ângelo Cavalcante, via Eduardo Vasconcellos no Facebook –
O título deste artigo é parte das declamas motivadas e animadas de jovens estudantes que estavam nas galerias de um congresso nacional oco de qualquer dignidade, honra ou relação séria e mínima com um Brasil de pobres e desamparados.
Os estudantes estavam para protestar contra a aprovação da dita PEC 241 que “congela” gastos e investimentos primários por vinte anos. O discurso oficial, evidentemente falacioso, é que com essa contenção as contas públicas serão, enfim, “arrumadas”.
Discurso fácil, barato e que é assumido integralmente pela grande mídia do país para gerar e gerir consenso público. Não é uma casualidade os dados apresentados pela pesquisa revelada pelo Blog da Cidadania onde 896 pessoas foram consultadas por telefone acerca da PEC 241 e suas consequências.
A pesquisa revelou que: 77% dos entrevistados afirmaram desconhecer o teor da PEC 241; 83% sequer sabiam que a proposta irá congelar o valor real do salário mínimo por 20 anos e que, inclusive, irá reduzir esse valor; 88% desconhecem que saúde e educação terão o valor real dos seus investimentos congelados por 20 anos; 46% destas pessoas sequer tinham ouvido falar da PEC 241 e; 88% dos consultados é contra o congelamento do valor real do salário mínimo e das verbas de saúde e educação.
A dramática questão é que nesta terça-feira, 25 de outubro, a PEC 241 ou “PEC da morte” fora, enfim, aprovada por um congresso arrasado moralmente; incapacitado sob o viés de qualquer valor ético ou de decência mínima; mutilado de qualquer resquício de dignidade ou altivez.
E, francamente, o seu congênere senatorial não irá operar em contrário; com a alteração desta ou daquela miudeza da proposta original, tende a referendar integralmente o fim da esperançosa Constituição Federal de 1988, a liricamente denominada “constituição cidadã” por um brasileiro universal de nome Ulisses Guimarães com a aprovação da PEC 241.
Não dá pra não comentar a tocante ousadia desses estudantes que tão precisamente classificaram essa lodaçal e hidrófoba maioria do congresso de “prostituta de banqueiro”. É perfeito! Acabam de ceifar o futuro de gerações inteiras de nosso povo para fazerem caixa para o custeio de juros.
Isso mesmo… Irão privar a imensa maioria da população que carece de serviços públicos de efetiva qualidade para que, com tal contenção, se realize excedente para alimentar a sanha de banqueiros com o vício do lucro e da ganância sem limites.
A direita que irá ler esse ensaio irá no imenso turvo dos seus esquemas mentais crônicos e maçantes vociferar: “mas é necessário para sanear as contas públicas”. Que o pusilânime saiba que a PEC 241 tem que ver com o equilíbrio das contas públicas como a bicicleta de corridas tem com carpas douradas e que nadam na fonte de algum hospital, ou seja, nada!
Quem estudou um pouquinho de conta pública sabe que o que se investe em saúde e educação é a menor das partes do orçamento nacional. Os mais atentos saberão que quase metade do PIB brasileiro é transferido anualmente para a agiotagem internacional. Quero dizer enfaticamente que metade das riquezas nacionais saídas do trabalho cotidiano de milhões de brasileiros honestos fluem céleres para a banca internacional e… Ponto final.
Acreditar que empatar investimentos de saúde/educação irá gerar saneamento orçamentário; que irá equilibrar a relação receita/despesa é de um cretinismo incurável e apaixonado. É a estupidez como orgulho e vontade.
Minha gratidão, orgulho e reconhecimento aos estudantes do Brasil que estão nas escolas ocupadas (mais de mil e quinhentas!) e sequer ligeiramente noticiadas por nossa mídia canalha e banana; nas atividades das greves dos institutos e das universidades federais; nas marchas e enfrentamentos desta infame PEC; que estão, enfim, na LUTA!
A outra parte do golpe vai ganhando forma, corpo e odor. Aos brasileiros conscientes do seu papel histórico e transformador cabe enfrentar esta ditadura de tipo novo e que já passou de todo limite ou tolerância. Nos resta a desobediência civil!
Ângelo Cavalcante – economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara.
Foto: Lula Marques / AGPT (25/10/2016)