Contraf-CUT, sindicatos, movimentos sociais e pequenos empreendedores realizam ato na terça-feira (14), às 11h, em frente ao prédio do Banco Central e um tuitaço
Por Carlos Vasconcellos, compartilhado da SeebRio
O Brasil possui há décadas, a mais alta de juros do planeta. Com a promessa de reduzir a Selic (taxa básica) e controlar a inflação, com a chamada “autonomia” do Banco Central implementada pelo então ministro da economia do governo Bolsonaro, Paulo Gudes, a cartilha neoliberal prometia juros mais baixos. No entanto, na prática, o BC, controlado hoje pelo sistema financeiro, eleva ainda mais a Selic e não ajuda a controlar a inflação.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclamou dos juros exorbitantes e lembrou que, após a “autonomia”, as taxas não pararam de subir no Brasil.
A crítica do presidente da República recebeu logo uma repreensão da grande mídia, dos banqueiros e dos mercados, inclusive do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, que trabalhou 18 anos para o Santander. Neto evidentemente defende a manutenção da política monetária do país nas mãos do mercado financeiro.
Como o presidente da República e o governo já não possuem nenhuma ingerência na política monetária, Lula lembrou que todos reclamavam quando, em seu governo, a Selic chegou a 10% e agora com autonomia do BC, se mantêm bem mais alta: 13,75%.
Ao falar da alta inflacionária, Campos Neto sinalizava um novo aumento na Selic, mas, após Lula e o governo reclamarem, o índice acabou sendo mantido pelo Copom.
A política dos maiores juros do mundo no Brasil resulta num aumento da inadimplência, paralisando o consumo e impedindo a retomada do crescimento econômico. Em 2022, último ano do governo Bolsorano, o Brasil registrou mais de 62 milhões de pessoas humilhadas no SPC/Serasa e 30% das empresas estão penduradas, com uma dívida total recorde, que chega a mais de R$105 bilhões. Além disso, 78% dos brasileiros possuem algum endividamento, a maior parte relacionado ao cartão de crédito, cujos juros chegam a 300% e em algumas financeiras ao índice inacreditável de 1.500%.
“Vivemos uma ditadura do sistema financeiro”, declarou o empresário e consultor Eduardo Moreira.
Reação popular
O embate entre o governo e o mercado começa a provocar uma reação na opinião pública. O movimento sindical vai realizar um protesto na próxima terça-feira, 14 de fevereiro, às 11h, em frente ao prédio do BC. Haverá ainda um tuitaço no mesmo dia.
O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, José Ferreira, defendeu a proposta de mobilização dos trabalhadores.
´Só para se ter ideia, nos EUA, houve forte reação da sociedade quando o Fed, o Banco Central de lá, elevou a taxa básica para 4,5% no ano passado. Abraçamos essa ideia da Contraf-CUT de realizarmos protestos contra estes patamares absurdos dos juros. A sociedade e o país não podem pagar tão caro para continuar bancando lucros exorbitantes para que banqueiros e especuladores ganhem mais dinheiro sem gerar emprego e agravem ainda mais a crise do país”, disse.
Para economistas, bancos tentam fazer governo ceder aos interesses do mercado
Márcio Pochmann, economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembra que o Brasil é o país com maior taxa de juros real do mundo (juros descontados o percentual da inflação), chegando a taxa de 7,38% em 2022, a frente do México (5,53%), Chile (4,71%) e Colômbia (3,04%).
“Lula está correto nas afirmações que tem feito em relação à posição adotada pela direção do Banco Central, que insiste em manter o patamar da taxa de juros básicas muito elevado, sem paralelo mundial”, destacou.
Na avaliação de vários economistas que não têm comprometimento com o cartel dos bancos privados, o governo Lula está sendo “chantageado” pelos mercados para abrir mão de seu projeto nacional de desenvolvimento.
Pochmann lembra ainda que a gestão de Campos Neto, que preside o BC desde o final de 2019, indicado por Bolsonaro, não tem conseguido cumprir o seu dever de colocar a inflação dentro da metas estabelecidas, mesmo com os juros elevados.
“Autonomia de verdade é um sistema financeiro com responsabilidade social e uma política monetária que fomente o desenvolvimento com crédito barato e não para continuar a ser um mero instrumento que enriquece cada vez mais meia dúzia de especuladores e atende apenas os interesses dos bancos privados”, acrescentou Ferreira.