Por Celso Sabadin, Planeta Tela –
Todos os dias, sentado no banco de um parque, um homem vê o mesmo passarinho. Até o dia em que ele consegue perguntar ao pássaro por que ele está sempre no mesmo parque, se ele pode voar para qualquer lugar. O passarinho lhe responde que estava pensando exatamente a mesma coisa em relação ao homem.
Esta é apenas uma das inúmeras microssituações propostas pela intrigante comédia dramática “O Novíssimo Testamento”, filme indicado pela Bélgica para concorrer ao Oscar de produção estrangeira.
O diretor Jaco Van Dormael, que em 1996 emocionou o mundo com seu filme “O Oitavo Dia”, roteirizou (com Thomas Gunzig, estreando em longas) a agridoce história de Deus (ele mesmo, o Criador), um sujeito mal humorado que mora na Bélgica ao lado da esposa submissa e da filha Ea (Pili Groyne), que jamais saiu de casa. Até o dia em que a garota se rebela contra o pai opressor e foge. Sua missão na Terra (ou melhor, na Bélgica), será escrever uma nova Bíblia, um novíssimo testamento com novos apóstolos e novas verdades. Tudo terá de ser reinventado.
Van Dormael sai-se muito bem na difícil tarefa de imprimir humor e ironia a temas difíceis como morte e arrependimento. Aborda-se aqui o tal “sentido da vida” ao mesmo tempo com uma certa profundidade, mas também com a leveza necessária a um filme que se propõe cômico. Se por um lado seu tratamento cômico o torna divertidamente farsesco, por outro “O Novíssimo Testamento” se mostra recheado de provocantes verdades, tudo isso amarrado num roteiro criativo e otimamente amarrado.
Curiosidade: diretor e roteirista fazem rápidas mas marcantes pontas no filme. Dormael é o motorista que morre ao saber que aquele é seu último dia de vida, e Gunzig é o “Ciclope”. No papel de Deus está Benoit Poelvoorde, de “O Preço da Fama”.