Por Eduardo Guimarães, Blog da Cidadania –
Não precisa ser muito inteligente, nem mesmo razoavelmente inteligente, para entender por que os partidos grandes mais prejudicados por denúncias envolvendo empreiteiras foram PT e PMDB apesar de expoentes do PSDB estarem tão envolvidos quanto; desde o início da Operação Lava Jato, em março de 2014, houve seletividade nas investigações.
E o PSDB, obviamente, não vinha sendo poupado por ter não corruptos, ainda que a intenção seja levar a sociedade a esse entendimento. A Lava Jato não quer é investigar tucanos.
Investigou até a Marinha, mas não esbarrou nas estripulias das Odebrecht, Camargo Correa et caterva nos Estados e Municípios, em escândalos que se tornaram questões federalizadas pelo envolvimento desses corruptores que atuaram em todos os níveis da administração pública.
Trocando em miúdos: a Odebrecht não pode ser sujinha nos negócios que fez com a Petrobrás e limpinha nos negócios que fez com o Metrô e o Rodoanel em São Paulo e com a Cidade Administrativa em Belo Horizonte / Minas Gerais.
E do que tratam as delações da Odebrecht e a segunda lista de denúncias ao STF que está para ser emitida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot? Tratam de casos escabrosos envolvendo o PSDB que ficaram ocultados até hoje por conta da seletividade da primeira instância da Lava Jato, decorrente da parcialidade da República de Curitiba contra o PT e a favor do PSDB, ou do “Cara” que tanto encanta a Lava Jato.
Todavia, o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior afirmou, em sua delação premiada à Lava Jato, que se reuniu com Aécio Neves para tratar de um esquema de fraude em licitação na obra da Cidade Administrativa para favorecer grandes empreiteiras. http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/02/1855094-aecio-definiu-coluio-em-licitacao-em-minas-afirma-delator-da-odebrecht.shtml
A reunião, segundo o delator, ocorreu quando o tucano governava Minas.
Benedicto Júnior, conhecido como BJ, disse aos procuradores que, após o acerto, Aécio orientou as construtoras a procurarem Oswaldo Borges da Costa Filho. De acordo com o depoimento, com Oswaldinho, como é conhecido, foi definido o percentual de propina que seria repassado pelas empresas no esquema.
Ainda de acordo com o delator, esses valores ficaram entre 2,5% e 3% sobre o total dos contratos.
Oswaldinho é um colaborador das campanhas de Aécio Neves. O ex-executivo da Odebrecht afirmou que o próprio Aécio decidiu quais empresas participariam da licitação para a obra.
Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a Cidade Administrativa, sede do governo mineiro, custou R$ 2,1 bilhões em valores da época. Foi inaugurada em 2010, último ano de Aécio como governador, sendo a obra mais cara do tucano no governo de Minas.
Com Oswaldinho, que foi presidente da Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), as empresas negociariam, ainda de acordo com Benedicto Júnior, como seriam feitos os pagamentos.
As informações fornecidas por BJ em sua delação premiada foram confirmadas e complementadas, segundo pessoas com acesso às investigações, pelos depoimentos do ex-diretor da Odebrecht em Minas Sergio Neves.
O mesmo Sergio Neves aparece nas investigações como responsável por operacionalizar os repasses a Oswaldinho e é ele quem detalha, na delação, os pagamentos a Aécio.
Líder do consórcio, que contou com Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão, a Odebrecht era responsável por 60% da obra e construiu um dos três prédios que integram a Cidade Administrativa, o Edifício Gerais.
Benedicto Júnior e Sérgio Neves estão entre os 77 funcionários da Odebrecht que assinaram acordo de colaboração com a Lava Jato. As delações foram homologadas pela presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Carmén Lúcia, e enviadas à Procuradoria-Geral da República, sob sigilo.
A qualquer momento, segundo vem sendo amplamente noticiado, Janot fará denúncia de cerca de 80 nomes ao STF por conta dessas delações.
Procuradores da Lava Jato exigiram dos advogados da Andrade Gutierrez, no fim de 2016, uma espécie de complementação das delações de seus executivos, que eles chamam de “recall”. Isso porque, segundo investigadores, funcionários da Andrade não detalharam o esquema de propina na Cidade Administrativa e em outras duas obras especificadas nas delações da Odebrecht: a construção do Rodoanel e do Metrô, em São Paulo.
Sim, é isso mesmo. Serão investigadas obras até aqui ininvestigáveis. Obras nas quais vicejam escândalos de bilhões de reais que o Ministério Público restringiu a funcionários do Metrô, da CPTM e do Rodoanel, sem denunciar um mísero político apesar das vultosas quantias envolvidas e de esses esquemas terem atravessado os vinte anos de governos tucanos em São Paulo.
Não é à toa que militantes tucanos na mídia, como Reinaldo Azevedo ou Merval Pereira, ou militantes tucanos no STF, como Gilmar Mendes, já estejam comentando que querem colocar “todos no mesmo saco”, como se corrupção tucana fosse aceitável e corrupção petista não.
Aliás, o sigilo inquebrantável das delações da Odebrecht, que boatos diziam que seria quebrado na última sexta-feira, só existe porque as delações da Odebrecht afetam primordialmente a tucanada. Ou alguém acredita que haveria sigilo tão sigiloso se as informações afetassem o PT?
É por isso que estão fazendo tanta cera para levantar o sigilo das delações da Odebrecht e para divulgar a lista de denunciados pelo procurador-geral da República ao STF com base nessas delações, porque o Ministério Público e o STF estão agindo politicamente por medo da reação não do PSDB, mas da mídia tucana se incomodarem tucanos blindados.