Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado –
A festa foi bonita e merecida. O Partido dos Trabalhadores completou 40 anos e nesse período mudou o Brasil. A História do PT já ganhou muitos livros e trabalhos acadêmicos pelo mundo afora. Afinal, do quase nada tornou-se o maior partido de esquerda do mundo.
E, como tudo na vida, cabe agora ao PT definir os próximos passos para garantir o prosseguimento em defesa dos interesses da maioria do povo brasileiro.
Resumindo em velocidade de Bolt, nascido das lutas sindicais e do engajamento de religiosos progressistas e intelectuais, o PT chegou ao poder com Luiz Inácio Lula da Silva e operou a maior inclusão social da História do Brasil. Vítima de ódio de classe, PT e Lula sofreram e ainda sofrem um bárbaro e desigual combate por parte da elite econômica, que por ironia também nunca lucrou tanto como nos tempos de Lula.
Afinal, sempre é bom lembrar que o ex-presidente da República obteve a proeza de dar cidadania a milhões de miseráveis ao mesmo tempo em que o PIB do País crescia 7,5%.
Mas o hoje é talvez mais difícil para o Brasil do que aquele que Lula recebeu em 2002. Um governo de extrema-direita impõe um genocídio social inimaginável há pouco tempo. E, na verdade, as forças populares não têm conseguido barrar o avanço das barbaridades, exemplificadas na maior derrota dos pobres brasileiros, a retirada criminosa de direitos previdenciários. Como diria um revolucionário russo, o que fazer diante desse quadro?
Cabe ao PT, de longe a maior força política individual do País, assumir a nova realidade e buscar trilhas para superar o pesadelo. Lula, em entrevistas recentes, tem insistido num ponto crucial.
No seu nascimento, o PT contou também com o apoio decidido e forte da juventude dos anos 80 e 90. Era a molecada que via naquela estrela a esperança de enterrar de vez o Brasil sombrio dos generais da ditadura. E atualmente é evidente que a garotada não se envolve mais. Não é com o PT, mas com a Política como um todo.
Ocorre que para o PT o problema é mais grave. Um partido de esquerda só de “cabeças brancas” não tem horizonte pela frente. Não é tarefa que se resolva com varinha mágica, mas é preciso encontrar maneiras de dialogar com a juventude.
De alguma forma, a questão da juventude encaixa-se no maior problema político, e o consequente desafio, que se apresenta para o PT. Pode parecer lugar comum, mas no caso não é. O mundo mudou e as relações de trabalho sofreram uma transformação brutal principalmente nos últimos 20 anos.
A força do PT inicial assentou-se basicamente nos sindicatos, que nos últimos tempos sofreram um esvaziamento grande, um pouco por força da conjuntura econômica mas principalmente em razão da presença numérica muito menor nas fábricas.
Se antes era fácil subir num caminhão e rapidinho reunir milhares de operários ao redor, hoje uma fatia muito menor de trabalhadores permanece lá e a automação e precarização do trabalho são irreversíveis. Não haverá volta ao passado e é preciso disputar aquele trabalhador já sem vínculo empregatício formal ou mesmo que se estabeleceu nos setores de serviço.
É uma tarefa monumental se reinventar, mas o PT ou qualquer agremiação de esquerda que não priorizar a busca daquele trabalhador ficará para trás.
A velha luta de classes continua, a exploração persiste sob roupas novas, mas é necessário reconhecer que o modelo tradicional de combate, baseado na inserção de sindicatos na classe trabalhadora, está morrendo. É duro? Muito. Mas é a realidade.
A criação tão difícil do PT, suas derrotas iniciais até a transformação na legenda que venceu 4 eleições consecutivas para a Presidência da República e tirou o Brasil do Mapa da Fome prova que o partido não se assusta com desafios. Dá para encarar, ensina a História.
Por enquanto, no entanto, é permitida uma pausa para a comemoração: parabéns, PT quarentão. Você vai viver muito e bem ainda!